Por João Gabriel Castro (*)
A maioria dos brasileiros tem interesse por ciência e tecnologia (C&T), mas poucos se informam sobre a produção científica no país. É o que revelou a quinta edição da pesquisa ‘Percepção Pública da C&T no Brasil 2019’. Realizado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), em parceria com o Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), o levantamento ouviu 2,2 mil pessoas, entre 16 e 75 anos, residentes de todas as regiões do Brasil.
A iniciativa ainda contou com a colaboração do Instituto Nacional de Comunicação Pública da Ciência e Tecnologia (INCTCPCT) e da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). Seguindo os moldes das demais edições (realizadas em 1987, 2006, 2010 e 2015), o estudo teve como objetivo conhecer a visão, o interesse e o grau de informação da população em relação à C&T no país.
Do total de entrevistados, 73% acreditam que a ciência e tecnologia trazem benefícios para a sociedade e 62% se dizem interessados por algum assunto relacionado à área. A maior parte também enxerga a ciência como um “importante instrumento capaz de solucionar problemas” e defende um aumento no número de investimentos por parte do governo em C&T.
No entanto, além dessa visão positiva, a pesquisa também trouxe dados preocupantes. Por falta de tempo ou interesse, grande parte dos brasileiros não visitam ou participam de atividades em espaços de C&T como, por exemplo, museus e bibliotecas. E, apesar da facilidade do acesso às mídias, o consumo de informações sobre C&T nos principais meios de comunicação diminuiu. A maioria da população diz buscar “nunca” ou “raramente” informações sobre C&T em qualquer mídia. Consequentemente, 90% dos entrevistados não souberam nomear um cientista brasileiro e 88% não souberam apontar uma instituição que faz pesquisa no país. Nem mesmo as universidades, consideradas fontes de informação confiáveis, foram lembradas.
A falta de informação acerca da C&T tem um impacto direto no cotidiano da população. Uma análise da familiaridade dos participantes com fatos ou noções simples da ciência mostrou o alto nível de desconhecimento dos brasileiros a respeito de temas básicos. Dos cidadãos entrevistados, boa parte (78%) acredita que antibióticos servem para matar vírus. Além disso, pouco mais da metade (54%) considera que os cientistas “estão exagerando sobre os efeitos das mudanças climáticas”.
Os resultados obtidos pela edição de 2019 do estudo de Percepção Pública da Ciência e Tecnologia no Brasil tornam evidente a necessidade de investimento em divulgação científica no país. A ciência brasileira enfrenta, desde 2017, um cenário de crise. O contingenciamento de recursos e os cortes no orçamento ameaçam não só as principais agências de fomento do país, como o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), mas também o apoio a instituições de ensino e pesquisa.
Aproximar a ciência e o conhecimento produzido pelas universidades e institutos de pesquisa brasileiros de um público mais amplo e leigo, por meio de divulgação, é uma maneira de valorizar as instituições e o trabalho dos pesquisadores. Isso mostra à sociedade o retorno do investimento feito por ela através do pagamento de impostos. Além do mais, a percepção pública a respeito da ciência pode interferir na tomada de decisões políticas referentes à essa área. A longo prazo, a educação e a produção de conhecimento estimulam o desenvolvimento do país. Por isso, é extremamente importante instigar a curiosidade e o interesse da população, sobretudo a parcela mais jovem, pela pesquisa científica no Brasil.
Um relatório recente da empresa de análise de dados Clarivate Analytics, encomendado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), apontou que as universidades públicas brasileiras são responsáveis por 95% da produção científica do país. Logo, a divulgação do conhecimento produzido nesses espaços se torna uma responsabilidade das próprias instituições e de sua comunidade científica.
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(*) Estagiário de jornalismo da Coordenadoria de Comunicação Social (CCS/UFRRJ)
Publicado originalmente no Rural Semanal 10/2019.
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