Laura Rosa (*)
A técnica-administrativa da Rural Elisângela Costa teve a iniciativa de criar um curso de capacitação em Libras destinado aos servidores do Instituto de Ciências Sociais Aplicadas (ICSA), câmpus Seropédica. O curso iniciou no dia 22 de outubro e terá a duração de oito semanas.
A capacitação foi posta em prática em razão da necessidade gerada pela chegada de Gustavo Cabral, funcionário terceirizado que trabalhava no câmpus Nova Iguaçu e veio cobrir as férias de um colega no câmpus Seropédica. Gustavo é surdo; o que, inicialmente, dificultava a comunicação com os demais funcionários.
A dificuldade de comunicação quase fez com que Gustavo fosse dispensado de alguns serviços. Vendo isso, Elisângela procurou uma solução. “Eu comecei a pensar que a gente faz inglês, espanhol, alemão… o que quiser. Mas por que não estudamos Libras para nos comunicar com as pessoas que estão presentes em nosso dia a dia?”, indagou.
Foi deste questionamento que surgiu a ideia de promover um curso de Libras. Até então, apenas um funcionário se comunicava com Gustavo: Oséias Silva, técnico-administrativo do ICSA que é fluente em Libras graças a um projeto da igreja que frequenta. É Oséias quem, com o auxílio do próprio Gustavo, ministra as aulas de Libras.
Elisângela pontuou, ainda, que foi a primeira vez que o Instituto ofereceu uma capacitação como essa. Com o interesse de professores e demais servidores, o diretor do ICSA, Daniel Ribeiro, abriu o curso para todos que trabalham no Instituto.
Recentemente as expressões faciais de uma intérprete da Língua Brasileira de Sinais (Libras) tornaram-se motivo de memes nas redes sociais, como aconteceu após pronunciamento de Jair Bolsonaro ao fim do segundo turno das eleições. Para a professora Luciane Rangel, do departamento de Letras, a situação retrata desconhecimento com a Língua.
“Infelizmente as pessoas não conhecem Libras, não sabem que é uma língua que tem sua estrutura gramatical composta por cinco parâmetros, sendo um deles a expressão facial. Esta é uma língua gestual e espaço-visual que existe há muitos anos, porém reconhecida no Brasil apenas no ano de 2002”, pondera.
A docente, que também é surda, coordena uma equipe composta por professores convidados, uma intérprete e monitores voluntários no projeto de extensão RuraLibras. As atividades iniciaram em 2017 com o objetivo de divulgar a importância da língua; de repensar as falhas existentes em vários contextos sociais; bem como de qualificar, fortalecer, preservar e valorizar a Libras. Realizam-se palestras; oficinas; encontros inclusivos entre surdos e ouvintes; cine-debate sobre filmes na área; dentre outras atividades.
No dia 7 de dezembro acontecerá no Instituto Multidisciplinar (IM) o II Encontro Estadual do Ensino de Libras Para Crianças e Adolescentes Ouvintes, que contará com a presença de parlamentares envolvidos com projeto de Libras como segunda língua (L2) na educação básica e, também, de gestores de escolas que oferecem em suas escolas a Libras como disciplina curricular.
“Consideramos fundamental que as crianças ouvintes aprendam Libras o mais cedo possível, pois têm mais facilidade de aquisição de língua de sinais e aprendem, também, a respeitar a cultura e a língua de sujeitos surdos. Isso diminuiria a barreira da comunicação entre surdo versus ouvinte nas escolas, na família, na sociedade”, explica Luciane.
Para saber mais sobre as atividades desenvolvidas pelo projeto RuraLibras, envie um e-mail para ruralibras@gmail.com
(*) Estagiária de Jornalismo da Coordenadoria de Comunicação Social (CCS/UFRRJ).
Publicado originalmente no Rural Semanal 14/2018.