A memória e a história tiveram uma viva presença no Gabinete da Reitoria, na manhã de 19 de maio de 2022, uma quinta-feira. Na ocasião, foi realizado o descerramento dos retratos de três ex-reitores da UFRRJ: Ricardo Miranda, Ana Dantas e Ricardo Berbara. Com presença do atual ocupante do cargo, professor Roberto Rodrigues, do vice-reitor César Da Ros e do também ex-reitor José Antonio Veiga, além de pró-reitores e diretores de instituto, a cerimônia mesclou emoções e recordações de uma parte da trajetória centenária da Universidade Rural.
Os retratos desses três homenageados se somam à galeria de ex-dirigentes que atuaram no câmpus de Seropédica a partir dos anos 1940. As fotografias se encontram nas paredes do Gabinete da Reitoria, localizado no terceiro andar do Pavilhão Central. Agora, fazem parte desse grupo os professores Ricardo Miranda, que exerceu dois mandatos, de 2005 a 2009, sendo reeleito para o período 2009-2013; Ana Dantas, primeira mulher a ser reitora da Universidade, que cumpriu sua gestão de 2013 a 2017; e Ricardo Berbara, que ocupou o Gabinete entre 2017 e 2021. As fotografias de Ana Dantas e Berbara foram feitas pela jornalista e fotógrafa Miriam Braz (CCS/UFRRJ); já o retrato de Miranda é de autoria do professor Carlos Alberto da Rocha Rosa (IV/UFRRJ).
“Estas fotos captam diversos momentos e representam um capítulo importante da nossa história”, disse o reitor Roberto Rodrigues, abrindo a cerimônia. “E estes três retratos de agora também me trazem memórias pessoais. Foi Ricardo Miranda que me nomeou como servidor. Já a professora Ana Dantas me convidou para esse ‘vício’ que é a gestão. E Berbara foi e é um grande parceiro na Administração. Este momento aqui é mais para ouvi-los, e fazer essa reverência à história da desta universidade centenária”.
Para o vice-reitor César Da Ros, que falou em seguida, cada um dos reitores teve um papel importante em determinado momento da história da Rural: “É uma trajetória construída pelo coletivo de servidores e discentes. E não dá para construir nosso futuro sem olhar para o passado. Todos os ex-reitores que estão aqui têm em comum o fato de que, em suas gestões, estabeleceram um diálogo com a comunidade acadêmica (que é a expressão da sociedade brasileira), respeitando as diferenças”.
Democracia e quebra de paradigmas
Primeiro dos homenageados a discursar, Ricardo Miranda ressaltou que a UFRRJ mantém uma tradição desde o processo de redemocratização do país: o respeito à escolha da comunidade universitária. “A Rural tem uma posição de vanguarda no antídoto contra o autoritarismo”, afirmou Miranda. “Nos elegemos em grupo, de acordo com a vontade da comunidade, e espero que isso continue a fazer parte de nossa história”, completou o ex-reitor. Miranda também agradeceu o apoio de três servidores, presentes à cerimônia, que estiveram ao seu lado em suas gestões: os técnicos-administrativos José Antonio Pimenta Barros (o “Zezinho”), atual chefe de Gabinete, e Teresinha Pacielo, atual ouvidora e ex-assessora de Comunicação da Rural; além do professor Pedro Paulo Silva, atual diretor do Instituto de Tecnologia, que ocupou cargo de pró-reitor na equipe de Miranda.
Com boas doses emoção e amor pela Rural, Ana Dantas foi às lágrimas ao rememorar sua passagem pelo Gabinete – tornada histórica pelo fato de ter sido a primeira e, por enquanto, a única mulher a figurar na galeria masculina de ex-dirigentes. “Olho para uma galeria composta por homens, a maioria deles das Ciências Agrárias. E eu, mulher, do Instituto de Educação, pedagoga, consegui estar à frente de uma universidade federal como a nossa”, disse a professora. “Fui a primeira a quebrar um paradigma. Mas que, em breve, a gente tenha uma reitora representando a comunidade quilombola, outra representando a comunidade indígena… Que a gente consiga ter nesta Universidade a presença dos povos originários também em sua gestão. Que continuemos a quebrar os paradigmas”, enfatizou a ex-reitora. Ana Dantas também saudou o trabalho de José Antonio Pimenta como chefe de Gabinete nas gestões dos três ex-dirigentes e do atual: “Quero reverenciar, em nome de Zezinho, todos os servidores desta casa, em especial os da Reitoria”.
Último dos homenageados a falar, Ricardo Berbara também trouxe à tona a história da UFRRJ, propondo uma reflexão crítica sobre as raízes elitistas e patriarcais da instituição: “Em seu passado, a Rural tinha, como as demais universidades brasileiras, uma característica de dialogar consigo própria. E isso tem a ver com o estrato social e de gênero naquele momento histórico. Durante boa parte de nossa história, absorvermos estudantes brancos, masculinos e oriundos das classes A e B. Assim, respondíamos não às perguntas da maioria da sociedade, mas às dessas elites”. Berbara ressaltou que a mudança no perfil da Universidade, aprofundada a partir da gestão de Ricardo Miranda, abriu possibilidade para a quebra de mais um paradigma: o da “universidade pública de elite”. “Hoje nós temos o perfil da Baixada. Como consequência, as perguntas são outras e a Universidade, então, se aproxima de seu entorno. E, apesar das dificuldades, temos de observar a imensa oportunidade que este tempo histórico nos dá: que é o de nos aproximarmos do que está acontecendo aí fora”, concluiu Berbara.
A cerimônia contou ainda com a participação de outro ex-reitor, cujo retrato já estava na parede, o professor José Antonio Veiga (Departamento de Ciências Econômicas/ICSA/UFRRJ). Dirigente da UFRRJ por dois mandatos consecutivos (1997 a 2005), Veiga agradeceu o espaço para deixar suas impressões sobre seu tempo como reitor. “Esta galeria de fotografias nos traz uma leitura muito interessante”, afirmou. “A própria história mais próxima pode ser lida através das figuras que aí estão, inclusive a minha. E, nos oito anos que passei nesta sala, sempre estive de olho neles. E, como me disse uma vez o professor Pedro Paulo, quem sabe eles também possam estar de olho na gente (risos)”.
Texto: João Henrique Oliveira (CCS/UFRRJ)
Fotografias: Miriam Braz e Patrícia Perez (CCS/UFRRJ)
Colaboração: Fernanda Barbosa (CCS/UFRRJ)