Democracia, boas ideias, foco na acessibilidade, compartilhamento do saber e amor pelo trabalho editorial. Estas são algumas das características que – como as letras nas páginas de um bom livro – estão impressas no cotidiano da Editora da Universidade Rural (Edur). Órgão de divulgação científica vinculado à Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação (PROPPG), a Editora tem a missão de produzir obras de autoria tanto dos pesquisadores da Universidade como de fora dela.
Sediada oportunamente no coração bibliográfico do câmpus Seropédica – o prédio da Biblioteca Central – a Edur é uma pequena notável, se comparada a editoras universitárias de grande porte e larga tradição. Com uma equipe enxuta, mas muito unida e motivada, a Editora sonha grande e tira do papel projetos que ajudam a promover a cultura, a ciência e a tecnologia da e na UFRRJ. E neste segundo semestre de 2024, já planeja escrever novos capítulos para sua própria história.
Quem vai à Biblioteca Central pode não perceber que, à direita do hall de entrada, encontra-se a sede da Edur. Logo na fachada, vê-se a pintura de uma simpática capivara ruralina, segurando uma xícara (será de chá?) e convidando os visitantes a adentrarem ao maravilhoso mundo das letras. Ali, a questão do espaço torna-se relativa, como na história de Alice (mas, veja bem, com uma capivara no lugar do coelho!). Parece que, depois da porta, vamos encontrar apenas uma salinha miúda; mas o ambiente é bem amplo. Lá dentro há livros expostos, sala para reuniões e local para a produção visual e gráfica.
A recepção fica por conta dos três servidores técnico-administrativos lotados na Editora: o coordenador Wallace Lucas Magalhães, a secretária Mariângela Dias e o diretor de Arte Theo Moraes. O trio ainda conta com o auxílio de cinco bolsistas (dois de revisão e três de diagramação), que completam o time da Coordenação Administrativa.
A Edur também possui um Conselho Editorial formado por nove professores da UFRRJ, sendo um deles o coordenador, com mandato de dois anos (prorrogáveis por igual período). Em abril deste ano, assumiu o cargo o professor Rodrigo de Sousa Gonçalves (Departamento de Física/ICE). Entre suas funções, o Conselho formula a política editorial, decide sobre as propostas de edição e emite pareceres sobre trabalhos encaminhados à Editora (para saber mais sobre a organização da Edur, clique aqui para ler o atual regimento).
Democracia, criatividade e motivação
Desde 2022 no posto de coordenador administrativo, Wallace Magalhães descreve com orgulho o ambiente de trabalho e os colegas de Editora. “Temos aqui uma gestão democrática, na qual as ideias de todos são debatidas e acolhidas. É uma equipe pequena, mas que responde prontamente aos desafios do cotidiano”, disse o coordenador.
Wallace chegou à coordenação sem experiência prévia no ramo editorial. Por conta disso, foi fundamental o apoio da servidora Mariângela Dias, que tem o maior tempo na casa. Com 18 anos de Rural, Mariângela está na Edur desde 2014, tendo já passado pelo cargo de coordenadora. Atualmente, é secretária e braço direito da Coordenação. Seu trabalho envolve a organização dos contatos, o atendimento às demandas, a interlocução com os autores, a participação nos processos de revisão e edição, entre outras tarefas.
O motivado trio é completado pelo designer Theo Moraes. Com sete anos de Rural – todos eles na Edur – ele é responsável pela Programação Visual e Direção de Arte da Editora, coordenando ainda o processo de revisão. (clique aqui e conheça os demais integrantes da equipe).
Esta parte administrativa da Edur tem função executiva, responsabilizando-se por planejar e controlar atividades financeiras, comerciais e contratuais. Também está na linha de frente do processo de produção editorial, o que envolve etapas de supervisão, planejamento e execução dos projetos de edição.
O outro braço da Editora é formado por seu Conselho Editorial. De acordo com o regimento da unidade, seus membros são indicados pelo pró-reitor de Pesquisa e Pós-Graduação, a partir de consulta realizada nos programas de pós e outros segmentos da comunidade acadêmica. Os nove integrantes – incluído o coordenador – podem permanecer no órgão durante dois anos, com possibilidade de recondução por igual período.
Além do coordenador Rodrigo Gonçalves, o atual conselho é composto, desde abril deste ano, pelos seguintes docentes: Aparecida Maria Abranches, Cláudia Bezerra da Silva, Fabiane Frota da Rocha Morgado, Fábio Koifman, Karina Yoshie Martins Kato, Kelly Maia Cordeiro, Márcio Rufino e Marisa Fernandes Mendes.
Professor da Rural desde 2020, Gonçalves conta por que aceitou o desafio de coordenar o trabalho de um setor fundamental para a divulgação do saber produzido na Universidade:
“Apesar de nunca ter sido coordenador de um conselho editorial, isto serviu justamente como uma das motivações para eu aceitar o convite. Para além desta, outra motivação pessoal foi a de poder atuar de maneira efetiva em um processo essencial de estabelecimento do conhecimento acadêmico, através da Edur”.
E-books e acessibilidade
Para quem é apaixonado por livros, nada se compara à sensação de segurar um exemplar na mão, admirar a arte da capa e folhear páginas bem impressas e diagramadas (sem contar aqueles que não resistem em experimentar o aroma do maravilhoso “cheiro de livro novo”!). A Edur tem mais de 100 títulos impressos em seu catálogo – e eles podem ser comprados na loja virtual (confira em https://editora.ufrrj.br/portal/shop/). Entretanto, desde 2019 a Editora não imprime mais suas edições. Agora, todas as obras são produzidas somente no formato virtual – o chamado e-book.
Esta opção tem a ver com a crise financeira crônica vivenciada pelas universidades públicas: com recursos cada vez mais escassos, fica muito caro produzir uma obra impressa. Mas se por um lado a versão eletrônica não traz aquela bagagem sentimental do livro impresso (quem sabe um dia inventem um “cheiro virtual de livro novo”…), por outro ela potencializa a democratização do conhecimento e a acessibilidade das edições.
“Atualmente, nossos e-books no formato PDF têm o que chamamos de ‘elementos de acessibilidade’. Todavia, eles não podem ser considerados como 100% acessíveis”, explica o coordenador Wallace Magalhães, acrescentando que é um dos objetivos da Editora oferecer edições que atendam totalmente os critérios de acessibilidade. “Nesse sentido, o formato ideal seria o ePub3”, complementa o designer Theo Moraes, referindo-se a um tipo de publicação multimídia interativa que permite ampliar os recursos de acessibilidade (saiba mais aqui e aqui).
Entre os “elementos de acessibilidade” presentes nos PDFs da Edur, podemos citar os links internos, as fontes ajustáveis e a possibilidade de leitura em voz alta por aplicativos. “No momento, procuramos atender ao máximo as possibilidades de acessibilidade”, conta Wallace, ressaltando que a Editora também lançou, em 2023, um edital específico para submissão de obras sobre o tema: a série “Acessibilidade e Inclusão”.
Outra vantagem dos e-books tem a ver com a democratização do conhecimento, pois eles rompem os limites da distribuição física (as obras podem chegar a qualquer lugar do mundo) e das condições financeiras do público (todos os e-books da Edur podem ser baixados gratuitamente).
Novos capítulos
Com perdão do clichê, a história da Edur é “um livro aberto”. Nesse aspecto, os dois coordenadores planejam e começam a escrever, já neste segundo semestre de 2024, os próximos capítulos.
“Existem dois vieses como metas futuras: um olhar para dentro e um para fora da Edur”, afirma Rodrigo Gonçalves. “Do ponto de vista interno, minha meta é estar junto aos demais colegas pesquisadores – que formam um grupo extremamente capaz – e fazer com que o Conselho Editorial tenha liberdade para deliberar sobre a análise técnica das obras e, ao mesmo tempo, buscar o aprimoramento do processo de avaliação e publicação. Já do ponto de vista externo, o trabalho visará a uma modernização da divulgação do nome da Editora, almejando uma aproximação com o público geral, tanto interno quanto externo à UFRRJ”.
Já o coordenador administrativo chamou a atenção para o sucesso da participação da Edur na Semana Rural 2024 , realizada entre 3 e 9 de junho. Na ocasião, os integrantes da Editora ministraram oficinas de revisão e diagramação que, de acordo com eles, empolgou os participantes e motivou a equipe a promover iniciativas semelhantes neste semestre, voltadas tanto para comunidade interna quanto externa.
“Outro projeto nosso é aumentar o protagonismo da Edur em iniciativas além da produção editorial. Por exemplo, o coordenador do Conselho Editorial sugeriu que participássemos de eventos de Iniciação Científica ou de semanas acadêmicas, auxiliando os organizadores na publicação de anais dos encontros”, disse Wallace Magalhães.
Para tocar os projetos e dotar a Edur da estrutura adequada, Wallace destaca a importância dos recursos oriundos de editais de financiamento. Por exemplo, ele cita um edital da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), de 2022, que possibilitou a modernização do espaço e a compra de equipamentos. Para implementar os próximos capítulos da acessibilidade, o coordenador afirma que “está de olho” em novos editais.
Importante para a Rural e para a sociedade
É notório o papel central das editoras universitárias na difusão e popularização da produção científica, abrangendo todas as áreas do conhecimento e publicando textos de qualidade, já que devem passar pela avaliação criteriosa de um conselho de especialistas.
“A importância da Editora da Rural está diretamente relacionada à divulgação do conhecimento produzido pela comunidade universitária”, disse o pró-reitor de Pesquisa e Pós-Graduação, José Luis Luque. “A Edur contribui muito para a popularização da ciência, com livros que são acessíveis ao público em geral”.
O fato de a Edur poder extrapolar o alcance da produção acadêmica também foi ressaltado pelo coordenador do Conselho Editorial:
“Se, por um lado, o ganho para o mundo acadêmico é visível, é exatamente o ganho de visibilidade da Edur uma das benesses para a sociedade. Isto porque, à medida que uma sociedade tem como fonte e referência uma editora acadêmica, há uma garantia de filtro e qualidade para o conhecimento que circula em suas obras divulgadas”.
Ressaltando o alcance do formato e-book, o coordenador administrativo indica que os locais de onde são feitos os downloads abarcam todo o território nacional, o que torna a Edur conhecida em outras localidades.
Outra característica atual da Editora também vem reforçando seu caráter exógeno. Segundo Wallace Magalhães, o número de submissões de pesquisadores de fora vem crescendo. Das 25 submissões de 2024, até agora, 30% delas são externas. Pode não parecer muito, mas a cifra representa um avanço em relação à Edur do passado, quando praticamente a totalidade das publicações era somente da “prata da casa”.
Publicar, comprar e baixar de graça
Para quem ainda não conhece a Edur, vale a pena começar por seu site (https://editora.ufrrj.br/portal/).
Lá é possível submeter uma proposta de obra via formulário (https://institucional.ufrrj.br/submissao-de-obras/). Ela deve se enquadrar numa das formas de seleção (‘Editais’, ‘Cessão de logo’ ou ‘Demanda contínua’) e obedecer normas específicas (https://editora.ufrrj.br/portal/normas/). Ela só será aceita para publicação depois de passar pela aprovação do Conselho Editorial. Daí, os autores arcam apenas com o custo do ISBN (International Standard Book Number), padrão numérico que identifica cada publicação.
É também no site que se pode comprar os livros impressos ou baixar gratuitamente os títulos do catálogo, que cobre uma gama variada de áreas. Acesse a loja diretamente em https://editora.ufrrj.br/portal/shop/
E, obviamente, as portas da Edur estão sempre abertas para uma visita presencial, onde você poderá folhear as publicações expostas na estante, sentir aquele cheirinho de livro novo, tomar um chá com a capivara ruralina…
Texto: João Henrique Oliveira (CCS/UFRRJ)
Fotografias: Miriam Braz (CCS/UFRRJ)
Fotos da oficina na Semana Rural e do desenho da capivara: Yasmin Alves e Rafael Gutierrez (bolsistas de Jornalismo da CCS)