Por Douglas Colarés (*)
A Universidade Rural conta atualmente com 12 prédios de moradias estudantis, sendo seis femininos e seis masculinos. Os alojamentos abrigam mais de 1.500 estudantes. Boa parte desses alunos, além de morar e estudar, se alimentam e fazem estágio na Universidade. Por isso, a Sala de TV, localizada entre os alojamentos, é um importante lugar de relaxamento – e também uma “janela para o mundo real”.
Em abril deste ano, os alojados que não viajaram para casa no feriado do dia 21 se reuniram para assistir a final do Campeonato Carioca, que consagrou o Flamengo campeão. Já em 2018, o local ficou cheio para a exibição da Copa do Mundo, que também contou com jogos do Brasil exibidos no Auditório Gustavo Dutra, no Pavilhão Central.
Mas não é só o futebol que atrai os estudantes. Telejornais também convidam a se manter atualizado e usar as informações do país e do mundo nas discussões em sala de aula. Ou mesmo por puro entretenimento, programas, filmes e novelas ajudam a descansar a mente depois de tantas horas de estudos.
Thais Xavier, graduanda de história, ressalta a importância do espaço para quem mora dentro do câmpus: “É uma das poucas possibilidades de lazer para os alojados, e é um espaço de socialização que aglutina os estudantes”.
Já o estudante de jornalismo Luis Henrick Teixeira lembra que a maioria dos que ali residem não têm televisão nos quartos, e que esse espaço serve para reunir as pessoas, estimulando os debates. Ele estava lá em 19 de abril, dia da final do Big Brother Brasil 18 que consagrou Gleici Damasceno como campeã – o que provocou pulos e gritos de comemoração dos presentes na sala. “O mais legal de assistir àquela final do BBB foi ver pessoas que nem são amigas vibrarem juntas”, avalia o jovem.
Papel social da TV
O último capítulo da novela “O Outro Lado do Paraíso”, em maio, também atraiu diversos alunos telespectadores.
Pensando nessas dinâmicas, Andreza Almeida fez seu trabalho de conclusão de curso em jornalismo, em 2014, sobre homens que assistiam telenovelas na Sala de TV. Andreza, que hoje é doutoranda no tema na Universidade de São Paulo (USP), explica o que a motivou na investigação: “Na minha família, o ritual de assistir telenovela sempre foi restrito ao universo feminino. Então, me deparar toda noite com um grupo de rapazes que assistia à telenovela em um ambiente público me despertou a curiosidade para tentar entender o lugar da novela em nossa cultura”.
A pesquisadora ressalta o papel social da televisão – e que o ambiente criado nos alojamentos é importante para o desenvolvimento de múltiplas formas de relação com o espaço e as pessoas. “Ao longo de minha trajetória de quatro anos no alojamento, sempre percebi a Sala de TV como um local de interação e também de descanso. Além disso, a oportunidade de fazer uma pesquisa no local possibilitou desvelar um espaço de ‘acolhida’ de pessoas que fugiam do trote ou mesmo da solidão de seus quartos. Ali é um ambiente de possibilidades, frequentados por pessoas do alojamento e também do Km 49; pessoas vindas de diferentes estados, países e realidades”.
A Rural também faz parte desse fenômeno comunicacional, já que serviu de cenário para diferentes gravações. Os prédios da Universidade foram usados na novela “Coração de Estudante” (2002) e, mais recentemente, em uma série da HBO sobre Santos Dumont. Até um clipe do grupo Balão Mágico já foi gravado no câmpus em 1984.
(*) Estudante de jornalismo da UFRRJ
Publicado originalmente no Rural Semanal 07/2019