Áreas de pastagens são grande desafio para a recuperação florestal no estado do Rio de Janeiro, já que a predominância de gramíneas e capim dificulta o crescimento das mudas e a regeneração natural. O professor Paulo Sérgio dos Santos Leles, coordenador do Laboratório de Pesquisas e Estudos em Reflorestamentos (Laper) do Instituto de Florestas (IF/UFRRJ) destaca como o planejamento adequado, associado a uma abordagem mais eficiente para o controle de plantas daninhas, pode superar esse cenário desafiador.
Leles explica que os custos elevados para o controle das plantas indesejadas inviabilizam os projetos de reflorestamento para o pequeno produtor rural e para governos municipais e estaduais que enfrentam dificuldades econômicas. “Em geral, o controle de plantas daninhas é um dos fatores mais importantes para sucesso da formação do povoamento florestal, podendo chegar até 60% do custo total do projeto de reflorestamento”, afirma.
Para o professor, é viável aumentar a eficiência dos projetos, tornando-os mais sustentáveis por meio de metodologias que vêm sendo testadas pelo Laper, em parceria com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). “É preciso ter bom diagnóstico e caracterização do ambiente em que se pretende realizar a restauração florestal para adotar os métodos mais adequados. Copiar metodologia não funciona”, alerta.
Diminuir a incidência das plantas daninhas, principalmente das gramíneas, favorece o crescimento das plantas arbóreas e a cobertura florestal, o que gera condições para que efetivamente comece a acontecer o processo de restauração florestal, com presença de maior umidade do solo, deposição de matéria orgânica originada da queda de folhas das árvores, alimento para a fauna e maior atividade microbiológica do solo.
Métodos para controle de plantas indesejadas — As pesquisas desenvolvidas pelo Laper indicam a necessidade da adoção do manejo integrado para obter sucesso no projeto de reflorestamento, o que pressupõe a associação de diversos métodos de controle de plantas daninhas – sejam eles mecânicos, culturais ou químicos – e também considera a escolha adequada das espécies florestais adaptadas ao ambiente, além do espaçamento de plantio e do preparo adequado do solo.
A roçada, por exemplo, é a técnica mais comumente utilizada para controle do capim do tipo braquiária e do tipo colonião, mas também é a mais ineficiente. “As atividades de roçada são, além de desgastantes para o trabalhador, de alto custo devido a seu baixo rendimento operacional. Cada vez que o trabalho de roçada é executado, estas gramíneas rebrotam e as plantas com potencial de regeneração natural também são eliminadas”, afirma o professor Leles.
O controle químico aparece como opção que, “quando bem usada”, destaca o docente, “pode ser ferramenta importante na formação dos povoamentos florestais através do plantio de mudas ou na condução da regeneração natural de muitas áreas para restauração florestal. O uso do herbicida glyphosate, de maneira adequada, é uma alternativa sustentável que pode auxiliar no controle das plantas daninhas e acelerar a cobertura florestal do ambiente, além de diminuir as atividades de manutenção e os custos”.
Outro método de controle, associado com o químico, é o de plantas companheiras, como o uso de leguminosas herbáceas ou consórcio com eucalipto, que podem ser cultivadas com as espécies da restauração. Estas e outras metodologias são apresentadas no livro “Controle de plantas daninhas em restauração florestal”, editado pelo professor Paulo Sérgio dos Santos Leles e pelo pesquisador da Embrapa, Alexander Silva Resende.
A publicação, que está disponível para download gratuito, pode subsidiar o planejamento feito por técnicos e agricultores ao ampliar a capacidade de tomada de decisão sobre qual, ou quais técnicas utilizar. “A transformação desse conhecimento científico em prática é fundamental para superar os desafios de formação dos povoamentos florestais com fim ambiental em áreas de pastagens, adequando ambientalmente as propriedades rurais a partir do Cadastramento Ambiental Rural (CAR) e do Programa de Regularização Ambiental (PRA)”, conclui o professor Leles.
Por Michelle Carneiro (CCS/UFRRJ)
Publicado originalmente no Rural Semanal 10/2017.