Desenhos animados infantis podem ser uma boa forma de passar conhecimento para as crianças. Tendo isto em mente, alunos e professores da UFRRJ desenvolveram o projeto de extensão “O Mundo Secreto dos Parasitos”, que visa ensinar sobre estes seres aos pequenos em fase de aprendizagem.
Tudo começou quando Patrícia Gôlo, professora do Departamento de Parasitologia Animal (DPA/IV), ofereceu a disciplina “A origem e a evolução dos parasitos” no período 2020.5. Ela conta que ofertou 15 vagas, mas que a procura foi tão grande que aumentou para 30, já que, devido ao ensino remoto, não havia um limite espacial. Afim de dinamizar o ensino e incentivar a participação dos alunos, a docente levou para as aulas online abordagens criativas como jogos e sala de aula invertida, além de seminários. Ela explica que as avaliações eram, na verdade, produções de publicações para as redes sociais sobre a matéria, e o público alvo eram os alunos da graduação. “Os posts ficaram maravilhosos e a qualidade ficou muito boa, acho que eles estavam com muita vontade, foi um grupo realmente muito diferenciado” conta a professora. Ao final da disciplina, alguns alunos perguntaram a ela se poderiam criar uma página para publicar os cards de divulgação. Depois disto, os discentes foram mais além e conversaram sobre a criação de um projeto de extensão relacionados aos materiais criados, que posteriormente viraram o O Mundo Secreto dos Parasitos.
A estudante do curso de Medicina Veterinária, Isabelle Oliveira Santiago, única bolsista do projeto, foi a responsável pela criação dos personagens e participa da comissão de identidade visual do projeto. Ela explica que as aulas eram ministradas de forma muito leve e trazia discussões importantíssimas. “Foi fácil tomar a decisão de participar da criação, já que a disciplina tinha sido um divisor de águas durante a pandemia, pensamos que seria de grande valor a divulgação do conhecimento científico sobre um mundo tão desconhecido, principalmente para as crianças, então criamos o Mundo Secreto dos Parasitos” diz ela.
Equipe e processo de criação
O projeto conta com cerca de quinze alunos de cursos de graduação e uma aluna da pós-graduação. Eles são separados em diferentes comissões, como a de revisão científica, mídias sociais e comunicação, identidade visual e elaboração de jogos. Quinzenalmente acontecem reuniões para que os participantes possam conversar sobre as idéias que surgiram sobre o projeto e discutir a viabilidade de criar animações em cima das propostas. Patrícia Gôlo explica que toda a produção começa no roteiro: “Os alunos separam o parasito que será abordado na próxima produção e partem para a construção de uma história”.
Os estudantes Vitor Rodrigues e Larissa Freitas, ambos do curso de Medicina Veterinária (MV), são responsáveis por desenhar e animar as produções. A dublagem dos personagens masculinos é feita, geralmente, pelos garotos que participam do projeto. Porém, a principal dubladora do Mundo Secreto dos Parasitos é a Ana Beatriz Coelho, estudante de MV que, segundo a professora, tem o dom de manipular a voz de diversas formas.
A produção segue com a edição, em que se juntam as cenas, a dublagem e as legendas, parte superimportante do projeto, que visa a inclusão para pessoas com deficiência auditiva. Todo o processo de criação e finalização dos vídeos pode demorar até três meses. Após isso é feita uma revisão científica, para validar todas as informações passadas nos vídeos e jogos.
Patrícia explica que os jogos são apresentados para o comitê científico, para observar se o público alvo é capaz de solucionar os problemas por eles expostos. O jogo é criado após o vídeo ficar pronto, já que são usadas imagens e informações apresentadas nele. Eles servem como uma maneira de ratificar os conhecimentos passados nos vídeos.
A bolsista do projeto trabalha com a criação dos personagens, elaboração dos desenhos, posts e capas para as redes sociais, além de auxiliar na produção dos vídeos, tendo participação direta em tudo que envolva arte e criação. “A equipe do Mundo Secreto é como uma família, nosso grupo se tornou um espaço seguro de amizade e companheirismo. É gratificante fazer parte disso tudo, ainda mais em tempos tão difíceis de pandemia. Estas relações de afetividade nos dão força, suporte e motivação para seguir nossa caminhada na graduação” conta Isabelle.
O projeto visa representar os parasitos da forma mais realista possível. Desenhos animados, no geral, tentam amenizar seres que, na realidade, são assustadores. Já o Mundo Secreto dos Parasitos foca na idéia de trazer uma versão mais próxima da realidade, e a revisão também é feita para conferir a verossimilhança com os parasitos do mundo real. A professora diz que, no projeto submetido para a Proext, foram propostos inicialmente seis parasitos para serem abordados. A idéia era pegar os que mais aparecem na vida escolar das crianças, como o mosquito da dengue e o piolho.
Representatividade
Patrícia Gôlo tem uma deficiência auditiva e escuta com ajuda de uma prótese. Desde o início, ela disse para o grupo que gostaria que as crianças que assistissem aos vídeos, se reconhecessem nos personagens. O projeto tem a preocupação de trabalhar questões como racismo e capacitismo, que podem atingir as crianças de forma negativa, e mantêm uma política contra o bullying. “Além da diversidade racial, abrangemos as pessoas com deficiências físicas e comunicacionais, o Pedrinho, por exemplo, é deficiente auditivo, e tem a Julinha que é cadeirante, e eu tenho muito orgulho disso, já que também sou PcD” conta a criadora do projeto.
Ela fala que a representatividade é muito importante, não só para as crianças, mas também para os participantes do projeto. “A preocupação com a legenda, por exemplo, é de representar o que a gente vê na sociedade nos nossos vídeos” afirma a professora.
Patrícia conta que as duas primeiras personagens criadas foram a Pati e a Julinha, uma homenagem dos alunos a ela e sua filha. “Eu sempre falava que não queria só personagem de olhinho claro, loiro e tudo mais, queria personagens diversos” diz ela. Além disso, as histórias sempre põem as crianças como as protagonistas, são sempre elas quem descobre os parasitos e, segundo a coordenadora do projeto, isso acontece para que as crianças saibam que elas podem tudo que quiserem, como ser um detetive.
Um projeto virtual
Pensado originalmente em 2015, o projeto sempre visou a atuação com crianças voltadas para a área da saúde e da parasitologia. A docente conta que já trabalhou com o público infantil durante seu doutorado na Utah State University, onde havia um programa de orientação de escolas públicas para falar sobre insetos e parasitos. Porém, a idéia inicial era fazer visitações em escolas, mas, por conta da pandemia, foi necessário uma adaptação para o meio audiovisual e de jogos. Ela afirma ainda que quando for possível, as visitações começarão a ser realizadas.
A bolsista Isabelle conta que a criação de um projeto voltado para crianças em meio à pandemia foi muito desafiadora. Limitar as atividades ao virtual e sem o contato direto com o público alvo do projeto, as crianças, tudo ficou muito mais difícil. Apesar disto, para ela as crianças são o que fazem o projeto ser cada vez mais gratificante. “É incrível acompanhar todos os resultados que o projeto tem promovido na vida das famílias das crianças que participam das nossas atividades, esses pequenos são incríveis, aprendem e repassam todo o aprendizado de forma muito significativa e natural” conta ela.
Acesse o site do Mundo Secreto dos Parasitos: https://mundodosparasitos.ufrrj.br/
Assista aos vídeos do projeto no canal: https://www.youtube.com/channel/UCn0GUBsALTBNHMVliRx9SCg
Siga o perfil do Instagram: https://www.instagram.com/mundoparasitos_ufrrj/
Texto: Roberto Jones – bolsista de Jornalismo da Proext/UFRRJ.