Artigo publicado na revista internacional “Religions” analisa a atuação política e social do jornal “A Folha” e atua para preservar a memória da Baixada Fluminense

Uma nova pesquisa desenvolvida pelo professor do Departamento de História e Relações Internacionais da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) Clinio Amaral, junto com o egresso do curso de História Pedro Reis, e o professor do Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro Fábio Py lança luz sobre um capítulo da história da Baixada Fluminense que trata sobre a resistência política e social liderada pela Diocese de Nova Iguaçu durante a ditadura civil-militar-empresarial.
O estudo resultou no artigo intitulado “The Subterranean Memory and the Criticism of Capitalism of the Diocese of Nova Iguaçu in the Newspaper ‘A Folha’ (1972–1981)” – A Memória Subterrânea e a Crítica ao Capitalismo da Diocese de Nova Iguaçu no Jornal ‘A Folha’ -, publicado na revista Religions que, segundo o Google Scholar Metrics , é uma das revistas acadêmicas mais influentes no campo dos estudos religiosos.
O foco da investigação é o jornal diocesano A Folha, que circulou sob a liderança do bispo Dom Adriano Hipólito. Em um período marcado pela censura e pela repressão, o periódico buscou ser uma voz ativa contra as injustiças sociais e a violência do Estado.
Utilizando o conceito de “memória subterrânea” do sociólogo Michael Pollak, os autores demonstram como o jornal construiu uma narrativa que desafiava a versão hegemônica do regime ditatorial brasileiro. Enquanto a ditadura buscou empregar a narrativa do “milagre econômico”, o jornal da Diocese expunha a vulnerabilidade social da Baixada Fluminense, articulando uma crítica ao capitalismo e defendendo a dignidade humana.
Um dos pontos centrais da pesquisa é a origem das fontes. A análise foi possível graças ao trabalho de preservação e digitalização dos documentos públicos da Diocese de Nova Iguaçu, realizado pelo Repositório Institucional de Múltiplos Acervos da UFRRJ, através do Centro de Documentação e Imagem (Cedim). O mestrando Pedro Reis afirma que “A medida que o Cedim abre a plataforma para os pesquisadores do Brasil para pensar sobre a memória da Baixada Fluminense, abre um leque de possibilidades que ainda não foram pesquisadas de forma científica”. E complementa: “A UFRRJ cumpre o papel de uma reparação histórica e um compromisso social com a formação da Baixada Fluminense”.
O estudo aponta também que a Diocese, guiada pelos princípios do movimento religioso “Cristianismo de Libertação” adotou uma postura de “Igreja dos pobres”. O artigo ainda traz como a teologia da libertação se materializou na prática pastoral e na linha editorial do jornal, servindo como uma blindagem e uma trincheira para a população local contra o autoritarismo.
O artigo completo está disponível para leitura (em inglês) através do link: https://www.mdpi.com/2077-1444/16/12/1505
Foto: Daniel Nonato
Texto: João Vitor Freitas, jornalista e bolsista de comunicação da Prograd/CCS.