Vivemos momentos de tensão em nosso país. Políticas governamentais promovem o maior retrocesso histórico em relação aos direitos trabalhistas e previdenciários. A própria democracia está ameaçada, quando princípios como a presunção da inocência e o habeas corpus passam a ser sistematicamente desrespeitados. As universidades públicas enfrentam fortes contingenciamentos orçamentários e ameaças à permanência de segmentos sociais mais carentes com cortes em programas fundamentais como o Programa Nacional de Assistência Estudantil.
Neste contexto, é natural surgirem tensões nos ambientes das instituições públicas de ensino superior, onde, tradicionalmente, predominam a força da palavra, dos embates de projetos e a busca pela construção de consensos. Como lidar com contradições internas que se expressam de forma mais aguda em situações como ocupações estudantis e conflitos trabalhistas?
Entendemos que o caminho para superar qualquer impasse é confirmarmos nossa formação e nossa índole democrática, pautadas no respeito à diversidade cultural e política. Isso, entretanto, não significa abrir mão da nossa responsabilidade e autoridade de gestores públicos escolhidos pela comunidade. Portanto, nossa postura ao buscarmos internamente o debate não deve ser confundida com fraqueza. Ao contrário, expressa sólidas convicções.
A Administração Central da UFRRJ reconhece a legitimidade de todos os movimentos organizados e suas reivindicações. No entanto, a nossa convivência não se fortalece com práticas voltadas à destruição da reputação de servidores dedicados à instituição. Também, é inaceitável que sejam criadas mutuamente circunstâncias de constrangimento e de ameaças a servidores e estudantes. Essas situações caracterizam assédio moral, conduta que desrespeita os direitos fundamentais dos agredidos, e, por isso mesmo, é repudiada por nossa formação democrática.
É compreensível que os excessos e as agressões despropositadas gerem indignação. Entretanto, devemos evitar a tentação das soluções “simples”, que podem ser equivocadas. Apelar para a intervenção de instâncias de poder externas à universidade não contribuirá para a superação dos nossos desafios.
Não se desqualifica o debatedor, pois ao fazê-lo, bloqueamos a oportunidade de ter com ele embates de projetos, que ao fim podem contribuir para o avanço institucional. Quando desqualificamos o outro, com o objetivo de fortalecer o conteúdo de nossas posições, o diálogo está comprometido. Portanto, a intolerância ofende o fazer intelectual e enfraquece o espírito norteador das ações de uma universidade pública.
A Administração Central acredita que não devemos perder de vista quem são os inimigos comuns na nossa luta em defesa do ensino público, dos direitos dos trabalhadores e da democracia. Internamente, não se combate o golpe e a destruição de direitos com atitudes sectárias de desrespeito aos direitos dos demais, como o da livre expressão. Apenas exercitando nossas rotinas democráticas, seremos capazes de enfrentar os desafios.
Administração Central