Mostra científica explora seres aquáticos visíveis e microscópicos
Percevejos e besouros aquáticos, baratas d’água, camarões, peixes, zooplâncton e plantas aquáticas são alguns dos seres coletados nos lagos artificiais do câmpus Seropédica e da Embrapa Agrobiologia. Alguns deles foram exibidos na mostra científica “Conhecendo a vida visível e invisível dos lagos”, apresentada pela primeira vez pela equipe do laboratório de limnologia e ecologia, no terceiro dia (16/10) da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia (SNCT) da UFRRJ.
O desenvolvimento da atividade teve origem no ambiente de pesquisa, onde os estudos focaram nos sistemas aquáticos de água doce, analisando a biologia e os processos físico-químicos envolvidos. As amostras foram exibidas em duas mesas, acompanhadas de folhetos que classificavam as diferentes espécies e suas respectivas funções no ecossistema.
O professor do Departamento de Ciências Ambientais, Jayme Santangelo, conta por que considera mais interessante organizar uma exposição do resultado de pesquisas. “É mais desafiador porque a gente precisa coletar bichos, plantas, mas é muito mais atraente. Aqui a gente tem bichos se mexendo, você vê na prática, muito melhor que em uma foto ou um livro. Essa coisa do desconhecido, do invisível, que a gente quis valorizar hoje”, explica o pesquisador.
De acordo com Yasmin Coelho, discente do curso de Farmácia, o nome do evento e os recipientes com as amostras a atraíram para a exposição. “Me chamou atenção quando eu vi os aquários”, afirma ela, que após a apresentação, demonstrou satisfação e descobertas “Tudo é novo, né? Então eu me choquei com tudo. A planta ali produz oxigênio, que dava pra ver direitinho. A forma como os camarões conseguem viver tranquilamente sem você ficar botando comida. Eu achei bem legal, descobri tudo e mais um pouco na verdade”.
Sobrevivência na seca
Essa experiência positiva contrasta com a preocupação crescente da comunidade ruralina em relação ao estado de um dos lagos artificiais da UFRRJ, localizado ao lado Instituto de Ciências Biológicas e da Saúde (ICBS), que está secando. Diante desse fenômeno, a equipe responsável pela pesquisa destaca as implicações para a vida aquática no ambiente e discute como a regeneração do ecossistema poderá ocorrer quando o lago voltar a encher. Eles analisam a dinâmica das espécies presentes, ressaltando a importância da recuperação desse habitat para a biodiversidade local.
Quando ocorre um ressecamento de um lago como esse, cada ser tem sua própria forma de tentar contornar a situação. As baratas d’água, por serem capazes de respirar fora da água, em casos como esse aceleram seu processo de crescimento, que a faz criar asas, o que facilita a locomoção para outros locais. Já os peixes possuem diversos mecanismos que podem favorecê-los nesse momento. Existe um tipo de peixe com uma característica muito curiosa em relação aos seus ovos, que foi encontrado na Rural em alguns lagos. “O pessoal chama de peixe das nuvens, que é uma família capaz de produzir ovos que toleram a seca”, afirma o professor Jayme. “Tem um trabalho que até mostrou um pássaro, que comeu um desses ovos, depois liberou as fezes e o ovo estava viável. Então, às vezes, um pato se alimenta nesse lago, come um ovo desses, voa para outro lago, e pelas fezes ele consegue transportar esses peixes também”, complementa.
No caso dos plânctons, a base da cadeia alimentar aquática, existem algumas ocorrências que auxiliam esses seres e até o habitat que está sendo afetado. “Aquela lâmina de água que fica no corpo de uma ave, de um mamífero que visita o ambiente aquático, quando ele vai para outro, pode carregar e dispersar esses bichos menores, quase microscópicos”, explica o professor de Ecologia Albert Suhett. Além disso, existem os ovos de resistência, capazes de durar anos em um ambiente afetado “Eles depositam esses ovos quando eles passam por condições desfavoráveis no ambiente. Por exemplo, no caso do lago do ICBS, naquele sedimento que está ali, seco, ele vai colocar os ovos. Há estudos que já relataram uma sobrevivência de até 200 anos”, exemplifica a mestranda Ana Clara Caetano. “Depois que as condições favoráveis voltarem para o ambiente, quando houver chuvas e o lago do IICBS voltar a encher, esses organismos, esses ovos, eles eclodem para assim recolonizar a coluna d’água.”, descreve a estudante.
A mostra científica “Conhecendo a vida visível e invisível dos lagos” destacou a riqueza dos ecossistemas aquáticos, aprofundando diversos aspectos desses seres. Com a situação do lago do ICBS, a equipe que realizou a exposição enfatiza a resiliência dos organismos aquáticos, evidenciada pelas suas estratégias de sobrevivência. Apesar dos desafios, a natureza possui um notável potencial de recuperação. Assim, fica claro que a proteção e a regeneração desses ecossistemas são essenciais para a biodiversidade local. A Semana Nacional de Ciência e Tecnologia se torna, assim, um momento crucial para a conscientização e a mobilização em torno dessas questões vitais.
Texto e imagens: Beatriz Jansen – estudante do curso de Jornalismo da UFRRJ.
Orientação: Alessandra de Carvalho – docente do curso de Jornalismo.
Acompanhe a cobertura da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia (SNCT) no site: https://snct.im.ufrrj.br/