Produção traz depoimentos de mães que perderam seus filhos para o desaparecimento forçado na Baixada Fluminense
Desenvolvido a partir de uma parceria entre o Observatório Fluminense da UFRRJ, o Fórum Grita Baixada e a Quiprocó Filmes, “Desova” foi apresentado e debatido em evento da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia (SNCT). A atividade aconteceu no Auditório Hilton Salles, sob coordenação de Nalayne Mendonça Pinto, professora do Departamento de Ciências Sociais(DCS/ICHS) e integrante do grupo de pesquisa que deu origem ao filme. O documentário dirigido e roteirizado pela cineasta Laís Dantas venceu o prêmio de melhor curta no Festival Internacional de Cine Político 2023, na Argentina.
Gravado na região do KM 32, em Nova Iguaçu, o filme dá voz a mães – e familiares – que perderam seus filhos para o desaparecimento forçado na Baixada Fluminense e retrata a forma como elas lidam com os traumas dessas perdas através de coletivos de apoio, além de abordar os impactos desses desaparecimentos para as famílias e para a região em si e analisar essa dinâmica de violência
A produção foi viabilizada por uma emenda parlamentar de autoria de Marcelo Freixo, então deputado federal, em 2020, que também apoiou o projeto de pesquisa “Mapeamento Exploratório sobre desaparecidos e desaparecimentos forçados em municípios da Baixada Fluminense”, coordenado por Naylane e José Cláudio de Souza Alves, também docente do DCS e uma das fontes do documentário.
Além da produção e divulgação do documentário, o grupo de pesquisa produziu o livro “Desaparecimentos Forçados: Vidas Interrompidas na Baixada Fluminense”, focado em analisar a estrutura de violência que permeia a região e mistura opressão policial com ações de grupos paramilitares, tráfico organizado e do jogo do bicho, permitindo a proliferação desses desaparecimentos que são crimes não tipificados e, portanto, de difícil combate.
A exibição do curta, no evento da SNCT, gerou emoção e debate entre os espectadores: “Sempre me pega bastante porque o documentário é um soco no estômago. Toda vez que a gente escuta a voz das mães, das pessoas que ficam, acaba sentindo um pouco mais. Também é muito bom escutar o que a galera acha em relação ao tema, à pesquisa e ao documentário porque acabam se identificando”, contou Rafaela Pimentel, aluna do 4° período de Ciências Sociais e integrante do grupo de pesquisa coordenado por Naylane.
Para a professora Naylane, é impossível não se sensibilizar com o documentário: “Ficamos todos sensibilizados. Hoje, aqui, cada um tinha um depoimento para dar. Todo mundo tem alguma história para contar dessas vivências da violência”. Além da coordenadora, o cinedebate contou com a presença de Bernardo Suprani e Marcelo Princeswal, do Departamento de Psicologia da Rural, e de Jaqueline Gomes, doutoranda em Ciências Sociais pela Universidade e pesquisadora do grupo, que participaram da condução do debate.
O evento promovido pela SNCT foi mais uma etapa da divulgação do documentário, que já foi levado pelo Observatório Fluminense até Brasília, está sendo exibido pela Baixada e outros municípios do estado, a fim de levar o tema dos desaparecimentos forçados e ampliar o debate sobre as dinâmicas e técnicas que fazem vidas desaparecerem na região. O filme também está disponível no Globoplay.
Texto e imagens: Caio Azevedo – estudante do curso de Jornalismo da UFRRJ.
Orientação: Alessandra de Carvalho – professora do curso de Jornalismo da UFRRJ.
Edição de texto: Nicole Lopes – bolsista da CCS/UFRRJ.
Acompanhe a cobertura da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia (SNCT) no site: https://snct.im.ufrrj.br/