Texto: Thaís Melo*
Audiovisual é o termo usado para denominar uma comunicação que estimule visão e audição. Atualmente, com tantos filmes, séries e documentários, o audiovisual se tornou uma ferramenta amplamente difundida e amada por muitos. O projeto +Casas da Inovação, parceria entre a UFRRJ e a Secretaria Municipal de Assuntos Estratégicos, Ciência, Tecnologia e Inovação (Semacti) da prefeitura de Nova Iguaçu, reconhece a importância dessa ferramenta e, por isso, criou um curso específico nessa área.
Desde o ano passado, são oferecidas aulas gratuitas para alunos da Baixada Fluminense. Inicialmente o curso ofertado era o de “Youtuber/produção audiovisual” e atendeu a mais de 170 cursistas. Atualmente, o curso oferecido online se chama “Curso de Audiovisual e Mediação Tecnológica na Educação”. As aulas são voltadas para professores, com mais de 200 alunos formados de diferentes municípios da Baixada Fluminense e do Brasil. No momento, mais de 300 alunos estão inscritos no curso.
O coordenador do curso e pesquisador da área de audiovisual, Maurício Ferreira, participa ativamente do projeto desde março de 2019. Ele trabalha com uma equipe de 15 bolsistas de Iniciação Científica em atividades online para garantir que as aulas não parem mesmo com a pandemia de Covid-19.
O professor Maurício trabalha há uma década na produção para a televisão comercial. Ele, que nasceu na Baixada Fluminense, relatou que foi subestimado muitas vezes, quando buscava empregos no município do Rio de Janeiro, devido à região onde morava. Desde então, o coordenador tenta derrubar essa barreira invisível. “É importante mostrar para essa geração de jovens que eles podem escolher o audiovisual como caminho profissional e para isso é imprescindível fortalecer as construções identitárias regionais e positivar o que os jovens da Baixada têm de melhor”, ressaltou.
Ainda de acordo com Maurício Ferreira, a Baixada Fluminense está repleta de talentos subaproveitados. Segundo ele, as redes sociais servem para colocar em evidência a cultura juvenil e a produção cultural da região. “Na Baixada, existem diversos coletivos de produção audiovisual que vem produzindo curtas, organizando cineclubes, exibições independentes e festivais locais a céu aberto. Temos músicos, artistas plásticos, artistas de rua, é talento para todo o canto da região”, explicou o coordenador. Ferreira fornece meios para que os jovens consigam compreender o audiovisual, e se entenderem como agentes da transformação cultural do seu município.
O curso tem como base teórica o letramento audiovisual. Os alunos aprendem a ler e compreender audiovisual e como replicar essa linguagem escrevendo roteiros e produzindo conteúdo na prática. Esse processo foi detalhado pelo coordenador. “O nosso curso de Youtuber/Audiovisual é dividido em atividades teóricas e práticas que visam em primeiro lugar dotar o aluno de capacidade crítica de leitura Audiovisual, em paralelo a isso os alunos fazem diversos exercícios posturais, de teatro, de impostação de voz e dinâmicas que propiciem o fortalecimento do trabalho em grupo porque a escrita audiovisual é um trabalho essencialmente coletivo”, contou. Os estudantes também recebem noções teóricas e práticas de fotografia, gravação e edição de vídeos, além de ética e segurança nas plataformas de vídeo.
Com a pandemia os laboratórios onde as aulas práticas aconteciam não puderam mais ser utilizados. Por isso, houve uma mudança no foco do curso. Como as aulas de Youtube para os mais jovens eram essencialmente práticas, elas foram suspensas durante o período de isolamento e foi criado o curso de Audiovisual voltado para professores, pensado desde o início para o formato online.
A bolsista Isabella Sena, monitora de letramento e prática audiovisual, é estudante do curso de História da UFRRJ e participa do projeto há um ano. “Eu cresci na construção de um cinema de rua e de criação coletiva com a presença das pessoas. Desde os meus 16 anos, o movimento cineclubista na Baixada se faz presente em minha vida. E nos dois primeiros ciclos do curso, eu pude levar essa vivência para as crianças”, relatou. De acordo com Isabella, o audiovisual é um processo de escuta, atenção, afeto e criação coletiva.
Segundo a monitora, o cinema transformou a sua vida e ela tenta por meio de suas aulas transformar a vida dos seus alunos também, mostrando como existem diversas possibilidades de carreira na área. Sobre o projeto +Casas da inovação, ela comenta: “Eu acredito na educação pública, eu acredito no projeto com uma ação para abrir a universidade ainda mais para comunidade, o vejo também como oportunidade para as crianças, jovens, adultos e idosos do território iguaçuano”.
Produção Audiovisual acessível a todos
As aulas presenciais também eram ministradas para crianças e jovens com algum tipo de deficiência. Isabella disse ter sido uma experiência incrível ter contato com esses alunos. “Precisamos ao lado dos pais e coordenadores entender a especificidade de cada um, para gerarmos uma acessibilidade inclusiva”, contou.
Quem também falou sobre esse trabalho foi o monitor Wanderson Monteiro, graduado em História e atualmente estudante de Belas Artes, ambos os cursos na Universidade Rural, ele se uniu a outra monitora do projeto e fez uma pesquisa sobre o ensino de Audiovisual e a inclusão de crianças com autismo.
O monitor explicou como esse estudo surgiu. “A pauta de pesquisa surgiu da necessidade de se solucionar a questão de como pensar o aluno com autismo em conjunto com os demais alunos, como incluí-los no cotidiano das atividades, bem como pensar a construção das oficinas ministradas em aula. Mais uma vez, as contribuições colaborativas entre os diferentes monitores e suas diferentes experiências possibilitou que caminhos fossem desbravados neste sentido”, detalhou.
No projeto desde agosto de 2019, ele contou sobre o que mais gosta da experiência. “A possibilidade de se experimentar na prática (ao menos, no período anterior à pandemia) as reflexões pedagógicas sobre didática, ensino de história e ensino de artes, aplicados ao audiovisual. Esta experiência tem me despertado o interesse sobre a produção de materiais pedagógicos e as possibilidades transdisciplinares como ferramenta didática, seja para o ensino de História, seja para o ensino de Artes”, ressaltou o estudante.
Tanto Wanderson quanto Isabella nasceram, cresceram e fizeram toda a sua formação acadêmica na Baixada Fluminense, o que só faz com que eles entendam ainda mais a importância de uma iniciativa como essa. Inclusivos, gratuitos e abordando a tecnologia de diversas perspectivas, os cursos do +Casas da Inovação contribuem para o crescimento do conhecimento tecnológico na Baixada Fluminense.
Para conferir a matéria anterior sobre o curso de Introdução à Robótica, clique aqui.
Para saber mais sobre as aulas a distância do +Casas da Inovação, clique aqui.
Comunicação Proext*