Por Michelle Carneiro (CCS/UFRRJ)
A V Pesquisa Nacional de Perfil Socioeconômico e Cultural dos Graduandos das Instituições Federais de Ensino Superior (Ifes), realizada em 2018 pelo Fórum Nacional dos Pró-Reitores de Assuntos Estudantis da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Fonaprace/Andifes), trouxe dados fundamentais para desmistificar o senso comum de que a universidade federal é ocupada majoritariamente pela parcela mais rica da população.
Com seus quatro câmpus afastados dos grandes centros, a Rural tem 78% dos estudantes com renda familiar mensal per capita de até 1,5 salário mínimo, o que corresponde a R$ 1.431. O valor é muito próximo ao do rendimento domiciliar per capita (RDPC) no Brasil, divulgado em 2018 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que é de R$ 1.373.
Para o professor César Augusto Da Ros, pró-reitor de Assuntos Estudantis da UFRRJ, a divulgação dos resultados da pesquisa demonstra que houve uma mudança significativa do perfil socioeconômico e cultural dos estudantes de graduação das Ifes e, por conseguinte, da UFRRJ.
“Neste contexto, a defesa da universidade pública e gratuita se justifica não apenas pelo seu caráter estratégico na produção de conhecimento, ciência e tecnologia – indispensáveis para o desenvolvimento econômico e social de um país soberano – mas também pelo potencial de redução das desigualdades no acesso à formação profissional especializada em nível superior, ao conhecimento científico e aos bens culturais”, afirma.
O teto de 1,5 salário mínimo per capita é usado como limite para acesso a vagas por intermédio de cotas sociais e para participação em programas do Plano Nacional de Assistência Estudantil (Pnaes). De acordo com a Pesquisa, 32% dos ruralinos participam ou participaram destes programas, a maioria como beneficiário do auxílio-alimentação (16,2%) e do auxílio-moradia (14,9%). Os dados atestam a importância da alocação de recursos orçamentários para a manutenção de ações de assistência estudantil.
Sobre isto, o professor Da Ros explica que a interrupção dos acréscimos anuais na dotação orçamentária do Pnaes ampliou ainda mais as dificuldades das Ifes atenderem integralmente às demandas crescentes por parte de seus estudantes. “Esse quadro vem se agravando também em virtude da crise econômica enfrentada pelo país e do aumento dos índices de desemprego”, complementa. A maioria dos ruralinos (50,3%) afirmou que está à procura de trabalho. Os que já trabalham representam 28% dos entrevistados. Os que se dedicam exclusivamente aos estudos são apenas 21,7%.
As mulheres são maioria absoluta na Universidade Rural: correspondem a 63,9% dos que responderam à pesquisa. Número maior do que a média nacional, que é de 54,6%. Também temos mais pretos, pardos e indígenas: 54,7% dos estudantes ruralinos se autodeclararam não brancos.
O quantitativo dos que cursaram todo o Ensino Médio em escolas públicas chega a 62% dos entrevistados. Dos participantes da pesquisa, 50,7% ingressaram na UFRRJ por meio de ações afirmativas. Ao responderem sobre a escolaridade do principal mantenedor de seu grupo familiar, chama atenção o fato de que 74,8% dos entrevistados serão os primeiros da família a concluírem o nível superior.
A maioria dos graduandos é jovem: 63,3% têm até 24 anos de idade. Quanto à orientação sexual, 21,4% não se declaram heterossexuais. Os estudantes também responderam a perguntas sobre atividades culturais e qualidade de vida, além de questões sobre dificuldades educacionais. Participaram 15.926 discentes de cursos de graduação da UFRRJ. Confira nos infográficos abaixo algumas das informações em destaque.
A V Pesquisa Nacional de Perfil Socioeconômico e Cultural dos Graduandos das Ifes foi realizada em 63 universidades federais e em dois centros federais de educação tecnológica. Os dados foram coletados pela internet entre fevereiro e junho de 2018. O relatório da pesquisa nacional está disponível para consulta em: https://bit.ly/2Wtu64e
Matéria publicada nas páginas 4 e 5 do Rural Semanal 06/2019.