Rural inova com ensino inclusivo de computação para crianças
Por Michelle Carneiro (CCS/UFRRJ)
Projeto multidisciplinar desenvolvido no Centro de Inovação Tecnológica e Educação Inclusiva (Citei), do Instituto Multidisciplinar (IM/UFRRJ), une Ciência da Computação à Educação para ensinar programação a estudantes do ensino fundamental, incluindo crianças com deficiência intelectual, autismo, déficit de atenção, hiperatividade e superdotação/altas habilidades.
O ineditismo do ‘Computação Para Todos’ é desenvolver uma metodologia de ensino que considere a acessibilidade e a inclusão de alunos com deficiências – o público-alvo da educação especial. O projeto oferece aulas de ‘Computação Desplugada’, em que não se utiliza o computador; de ‘Programação Visual com a ferramenta Scratch’, criada pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT) para o ensino de crianças; e de uma linguagem de programação completa, denominada Python.
Preparo para o futuro
O objetivo não é formar programadores. Para o coordenador geral do projeto, Luís Fernando Orleans, professor do Departamento de Ciência da Computação (DCC), a programação não deve ser de domínio exclusivo de profissionais da área. “É preciso formar pessoas mais preparadas para o amanhã”, afirma.
Opinião compartilhada pela coordenadora adjunta do projeto e professora do Departamento de Educação e Sociedade (DES), Márcia Pletsch. “As crianças devem estudar programação porque essa habilidade aprimora a capacidade de aprender”, assinala.
No projeto as crianças estudam o chamado ‘Pensamento Computacional’, processo inerente à programação. “Trabalhamos os nove eixos do ‘Pensamento Computacional’: coleta, análise e representação de dados, decomposição de tarefas, raciocínio algorítmico, abstração, simulação, automação e paralelismo”, explica Orleans.
Cada um destes eixos está presente no cotidiano e se relaciona com nossos processos de desenvolvimento psicológico. “A ideia de balizar o desenvolvimento cognitivo a partir dos eixos do pensamento computacional é inovadora. No planejamento das aulas há um alinhamento da computação com eixos pedagógicos, a fim de estimular o trabalho colaborativo e contribuir para o desenvolvimento de processos psicológicos superiores, como atenção, memória e concentração”, explica Márcia Pletsch.
‘Criança é criança’
A pesquisa contraria o senso comum de que é difícil ensinar programação para crianças. Desde julho de 2017, o projeto realiza no câmpus Nova Iguaçu encontros semanais com três horas de duração, com duas turmas heterogêneas, cada uma composta por 10 alunos com idades entre oito e 13 anos e diferentes especificidades no desenvolvimento.
As crianças com necessidades especiais, assim como as colegas sem quaisquer tipos de deficiência, são capazes de aprender a programar. “Criança é criança. O que importa é a mediação e as estratégias para o ensino. Faz parte da metodologia que desenvolvemos pensar as possibilidades de integração e valorizar as individualidades para um bem comum”, ressalta Pletsch.
“Trabalhamos por uma aprendizagem que seja com todos e para todos”, afirma Mariana Pitanga, coordenadora pedagógica do projeto e doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Educação, Contextos Contemporâneos e Demandas Populares (PPGEduc), cuja tese abordará pesquisa sobre o desenvolvimento de pessoas com deficiências por meio da mediação tecnológica.
Pesquisadores do DCC e do DES, além de discentes voluntários dos cursos Ciência da Computação e Pedagogia, assim como do PPGEduc, são os responsáveis por ministrar as aulas, supervisionados pela coordenação. Durantes os encontros, a mediação dos 12 bolsistas do projeto é fundamental para viabilizar a aprendizagem dos participantes.
Metodologia para exportação
O término das aulas com as crianças está previsto para julho deste ano, quando será finalizada a primeira fase do projeto. Os pesquisadores afirmam que a possibilidade de ampliação das aulas na Universidade está atrelada à obtenção, ou não, de financiamento para a pesquisa. A metodologia de ensino de Pensamento Computacional desenvolvida nesta fase será disponibilizada gratuitamente no site do projeto, junto aos resultados detalhados da pesquisa.
Posteriormente, os pesquisadores preveem a realização de oficinas que explorem a metodologia desenvolvida. Professores da rede pública de ensino, além de estudantes de Pedagogia e Ciência da Computação da UFRRJ, poderão participar da capacitação para que possam levar para as escolas onde trabalham as práticas para o ensino de computação. “No futuro também queremos realizar um piloto em uma escola”, complementa Orleans.
Para a professora Marcia Pletsch, ‘Computação para todos’ representa um avanço no ensino de programação em perspectiva inclusiva. “Estamos falando sobre aprendizagem do ‘Pensamento Computacional’ e de seu uso para o desenvolvimento humano mais amplo, sobretudo de crianças com deficiências. Essas ações integradas podem ser utilizadas como estratégia de intervenção social da Universidade”, finaliza.
Para saber mais sobre o projeto, acesse o site computacaoparatodos.wordpress.com ou envie e-mail para citei.ufrrj@gmail.com
Publicado originalmente no Rural Semanal 04/2018