Zoologia é o ramo da Biologia que estuda os animais. Já um museu dedicado a esta área tem como um de seus objetivos a preservação do patrimônio zoológico, criando ações que promovam ensino e pesquisa, além de trazer reflexões que sejam relevantes para a sociedade. O Museu de Zoologia da Universidade Rural (MZUR), como outros do gênero, cumpre tais funções com maestria, oferecendo ao público um rico acervo de animais vertebrados e invertebrados, fixados em meio líquido ou taxidermizados (“empalhados”), além de esqueletos e uma coleção de ovos de aves.
Mas, para além dessa atividade principal, o MZUR apresenta particularidades que o tornam especial. Para começo de conversa, ele é o único museu de história natural na Baixada Fluminense (RJ), atendendo assim uma região carente de equipamentos culturais e de espaços para divulgação científica. Não bastasse esse traço distintivo no presente, o Museu de Zoologia tem um passado que o torna também um valioso item do acervo histórico da UFRRJ. Sua trajetória está ligada diretamente à origem da própria Universidade e, em 2024, completou 90 anos.
A seguir, vamos conhecer um pouco desse museu. Ele é notável tanto por sua coleção – que possui exemplares com mais de 100 anos – como por suas memórias, que pavimentaram sua trajetória até os dias de hoje, quando se consolida como um dos espaços museológicos mais importantes que a Universidade oferece para toda a comunidade.
O Museu de Zoologia da UFRRJ funciona no térreo (sala 10) do prédio do Instituto de Ciências Biológicas e da Saúde (ICBS), localizado no câmpus Seropédica. Ele é um local gratuito e aberto para toda a comunidade – tanto para quem estuda ou trabalha na Rural, quanto para visitantes externos.
Neste segundo semestre de 2025, o Museu fica aberto de segunda à sexta-feira (exceto feriados e pontos facultativos), das 10h às 12h e das 13h às 15h. Para visitas de grupos escolares, é possível fazer um agendamento prévio pelo e-mail museuzoologia@ufrrj.br, informando a data e horário de preferência, número estimado de visitantes e nome da associação, grupo ou escola.
O crescente sucesso do espaço vem sendo registrado periodicamente no Instagram do MZUR (@mzufrrj). Num post de 16 de junho, foi feito um balanço das atividades realizadas durante a 3ª Semana Rural, realizada entre os dias 9 e 15 de junho de 2025. De acordo com o Museu, houve “um número histórico de visitantes” durante os cinco dias de evento. A publicação detalha:
“Foram mais de 1.500 pessoas registradas (número 102% maior que em 2024), incluindo a comunidade acadêmica, além de 35 escolas públicas e privadas de ensino fundamental e médio, vindas de 15 cidades do estado: Angra dos Reis, Belford Roxo, Barra Mansa, Cachoeiras de Macacu, Itaguaí, Japeri, Mesquita, Nilópolis, Nova Iguaçu, Rio de Janeiro, Resende, São João de Meriti, Seropédica, Valença e Volta Redonda.”
Coordenador do MZUR desde 2023, o professor André Padua (Departamento de Biologia Animal/ICBS) comemora a consolidação e crescimento do Museu, reverberando também a transformação pessoal pela qual passou desde que começou esse trabalho.
Com formação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), ele conta que não teve experiência anterior com a gestão de museus zoológicos. “Caí aqui de paraquedas”, brinca. “Eu tenho experiência prévia com coleções zoológicas científicas, cujos objetivos e disponibilidade de acesso da população são bem diferentes de coleções expositivas, como as do MZUR, que envolvem atividades de extensão e divulgação científica, por exemplo”, completa o coordenador.
Especialista em esponjas marinhas, o docente, diante do novo desafio, foi aprendendo na prática como cuidar de um museu da área de Zoologia, além de enriquecer seu conhecimento com pesquisas sobre outras espécies.
Mas, para além do novo rumo profissional, André conta que vivenciou uma transformação pessoal a partir do contato com o público, que é permeado pelo desafio cotidiano de fazer divulgação científica numa linguagem mais acessível.
“Fui formado para me comunicar com estudantes universitários que querem ser biólogos. Então, é uma linguagem mais técnica. No Museu, tenho de repensar a forma que devo me comunicar. Falando com crianças de cinco ou seis anos, tenho de encontrar outras palavras. E no contato com pessoas mais velhas que não tiveram educação formal, tenho de me adequar para passar o conhecimento biológico. Isso me enriqueceu muito como professor e como pessoa”, disse o coordenador.
André fala ainda da magia do “maravilhamento” que o Museu, em particular, e a ciência, no geral, são capazes de provocar em visitantes de todas as idades que vislumbram os fantásticos espécimes em exposição:
“Este é o papel de um museu: criar essa sensação nas pessoas. É o primeiro passo para entenderem a importância da preservação dos biomas. Há crianças que ficam animadíssimas e saem daqui dizendo que querem estudar aqui, fazer Biologia ou até mesmo estagiar no MZUR”.
André continua, em seu próprio maravilhamento:
“Durante a Semana Rural de 2024, uma senhora me marcou muito. Ela viu a onça. Estava claramente emocionada. E ela disse: ‘Caramba, não sabia que eu não precisava sair de minha cidade para ver coisas tão bonitas’.”
A partir de projeto desenvolvido pelo estudante Thiago Lima, sob orientação do professor André Padua, descobrimos que as raízes do MZUR se entrelaçam com a história da própria Universidade.
A pesquisa de Thiago – “Museu de Zoologia e UFRRJ: uma história em comum” – revelou que, embora a denominação “museu” só tenha sido adotada em 1934, o atual acervo começou a ser formado bem antes disso. Já em 1910 foi criada a “cadeira de Zoologia geral e systematica”, juntamente à fundação da Escola Superior de Agricultura e Medicina Veterinária (Esamv), instituição de origem da atual UFRRJ. Em sua estruturação, aquela disciplina previa “coleções didáticas para os trabalhos práticos”.
“É neste momento que o atual acervo do Museu de Zoologia começa a se formar. Alguns animais da coleção datam da primeira década do século XX, como o tatu-galinha (1913), um dos animais mais antigos em exposição”, registra o MZUR em seu site oficial.
O professor Cândido Firmino de Mello Leitão Júnior (1886-1948) foi o primeiro docente da cadeira de Zoologia, tomando posse em 1913. Naquela época, a coleção já contava com “vários espécimes de animais taxidermizados, principalmente mamíferos (como a raposa-voadora, taíra e o macaco-verde)”. Também havia aves como a garça-real-europeia, além de outras provenientes da França.
Na época em que a Esamv ficou sediada na cidade de Niterói (1918 a 1927), o acervo ganhou novos animais, como peixes coletados em rios do interior do estado do Rio de Janeiro.
“Esses indivíduos foram coletados e fixados pelo então preparador de peças, Clodoaldo Pereira Devoto. Além desses animais, Devoto também esteve envolvido com a taxidermia de diversos outros espécimes do acervo, como alguns mamíferos e aves e a coleta e fixação de uma grande quantidade de invertebrados marinhos coletados por ele mesmo nas praias de Niterói […]. Sua contribuição para a coleção do Museu pode ser traçada desde 1913 até o final da década de 1940”, descreve o MZUR em seu site.
Com a primeira menção da palavra “museu” datando de 8 de fevereiro de 1934, convencionou-se aquele ano como o da fundação. Assim, em 2024 o Museu completou 90 anos de existência (mas com um acervo que, como vimos, começou a ser formado décadas antes).
Para conhecer mais detalhes dessa história, leia o texto na íntegra publicado no site do MZUR: https://institucional.ufrrj.br/museuzoologia/historia/
Depois do êxito na Semana Rural deste ano, o MZUR já se prepara para mais um grande acontecimento: a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia (SNCT), maior evento de divulgação científica do Brasil, realizado sob coordenação do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). Com o tema “Planeta Água: cultura oceânica para enfrentar as mudanças climáticas no meu território”, a SNCT vai ocorrer de 21 a 24 de outubro em todos os câmpus da UFRRJ – Seropédica, Nova Iguaçu, Três Rios e Campos dos Goytacazes.
André Padua conta que o Museu vai preparar uma exposição especial ligada ao tema (como fez no ano passado, quando o mote foi “Biomas do Brasil”).
“O tema deste ano tem tudo a ver com o MZUR, pois temos várias espécies oceânicas. Então, vamos ambientar o Museu para isso, com atividades relacionadas aos animais marinhos do acervo. E nossa grande ação vai ser a inauguração de uma nova parte da exposição, com a exibição de um esqueleto de golfinho completo, pendurado no teto”, explica o professor.
O esqueleto citado por André foi montado pelos alunos que integram o MZUR (veja os nomes dos integrantes da equipe ao final desta matéria). A habilidade desenvolvida pelos estudantes é fruto de uma oficina sobre montagem de esqueletos de cetáceos (grupo de mamíferos aquáticos que inclui as baleias, botos e golfinhos). A propósito, a constante capacitação dos discentes é uma das atividades desenvolvidas pela coordenação do Museu.
Quer conhecer de perto o acervo do Museu de Zoologia? É professor da Educação Básica e quer levar seus alunos para uma visita guiada? Mora em Seropédica e nunca teve a chance de conhecer um museu de história natural?
Visite o MZUR!
Confira abaixo todas as informações necessárias para conhecer esse espaço.
Localização: Sala 10 do Instituto de Ciências Biológicas e da Saúde (ICBS), câmpus da UFRRJ (BR-465, Km 7, Seropédica/RJ) Veja aqui no Google Maps
Horário de funcionamento: segunda à sexta-feira (exceto feriados e pontos facultativos), das 10h às 12h e das 13h às 15h
Visitas escolares guiadas: agendar pelo e-mail museuzoologia@ufrrj.br (informar a data e horário de preferência, número estimado de visitantes e nome da associação, grupo ou escola).
Canais de comunicação:
Site: https://institucional.ufrrj.br/museuzoologia/
Instagram: https://www.instagram.com/mzufrrj/
Coordenador: professor André Padua (Departamento de Biologia Animal/ICBS/UFRRJ)
Vice-coordenadora: professora Ana Claudia dos Santos Brasil (Departamento de Biologia Animal/ICBS/UFRRJ)
Equipe de estudantes do Museu de Zoologia em 2025:
Discentes bolsistas do Núcleo de Articulação de Acervos e Coleções (NAAC/Proext):
Thiago Ryan da Silva Mathias Lima
Luiz Gabriel Andrade Peixoto
Discentes voluntários (maioria de Ciências Biológicas, exceto os indicados abaixo):
Emily Vitória Ferreira dos Santos
Jeferson Vidal Cajui (Belas Artes)
Ana Beatriz da Silva Campos
Lívia Paixão Lisboa Iunes
Marcelo Salles de Andrade Filho
Cecília Bernardo de Albuquerque
Claiton Michel da Silva Munhoz
Gabriel Marins Campos (Serviço Social)
Lais Silva Gate
Carlos Eduardo Simão Pontes
Naíse Chales Lins
Camille Moreira de Oliveira Diniz
Sjack Silva Machado
Letícia Pinheiro de Araújo
Reportagem: João Henrique Oliveira (CCS/UFRRJ)
Fotografias: Ana Beatriz Machado, Luiz Felipe Pinheiro, Matheus Gomes, MZUR e Talyson Henrique da Silva
Outras reportagens produzidas sobre o Museu:
2025
2024
2023
https://portal.ufrrj.br/museu-de-zoologia-da-ufrrj-reabre-para-visitacao/
https://portal.ufrrj.br/estudantes-se-conectam-com-a-fauna-no-museu-de-zoologia-da-ufrrj/