A tese “À frente dos negócios: a atuação de viúvas na direção de comércios de secos e molhados na cidade do Rio de Janeiro (1850-1889)”, com autoria de Jessica Alves e orientação da professora Fabiane Popinigis, recebeu a Menção Honrosa Prêmio Capes de Tese na edição de 2025.
O trabalho de conclusão do doutorado no Programa de Pós-Graduação em História (PPHR), do Instituto de Ciências Humanas e Sociais (ICHS) da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), focou na reinterpretação da divisão de trabalho entre os sexos nas famílias proprietárias, nas condições de ascensão social e na construção da economia urbana.
O estudo avalia que, no século XIX, a cidade do Rio de Janeiro presenciou um crescimento das atividades comerciais e o fortalecimento de uma elite mercantil. Nesse cenário, as mulheres exerceram um papel significativo no comércio varejista, atuando em armazéns, quitandas, padarias e outros estabelecimentos. A tese investigou como viúvas de comerciantes portugueses sucederam seus maridos nos negócios de secos e molhados no Rio de Janeiro na segunda metade do século XIX.
Jessica Alves relembrou a dificuldade no início da pesquisa em meio à pandemia de Covid-19. “Eu sou diabética, tinha muito medo de pegar o vírus, perdi familiares… então, foi um momento conturbado no início do processo da pesquisa. Sem contar coisas referentes à pesquisa em si. Os arquivos fecharam, então não tinha como a gente fazer o trabalho presencialmente nos acervos. Tudo era resumido online, e até mesmo o processo virtual era dificultado, às vezes, por conta das próprias instituições que estavam se adaptando naquele momento”, disse.
Ela destacou o apoio da UFRRJ em sua pesquisa. “Com um edital de internacionalização da Rural, eu fui para a Argentina e lá eu fiz um estágio de pesquisa na UBA [Universidad de Buenos Aires], sob orientação de Valeria Pita. Isso ajudou muito no processo de diálogo teórico sobre a história das mulheres, sobre as relações de gênero”, comentou.
O prêmio concebido pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), criado em 2005 e entregue pela primeira vez em 2006, reconhece a originalidade dos trabalhos de doutorado defendidos em programas de pós-graduação brasileiros, além da relevância para o desenvolvimento científico, tecnológico, cultural, social e de inovação.
“Pensando nos critérios que são avaliados pela Capes — que são originalidade, relevância científica e social, as metodologias e até o valor agregado daquela tese — vejo que eu estou no caminho certo. Que o que pesquisei ao longo desses anos é algo reconhecido como valoroso para a sociedade; reconhecido cientificamente e pela metodologia empregada; é algo que auxilia no desenvolvimento da historiografia. Então, isso me deixa muito feliz”, expressou a egressa da UFRRJ.
Texto: Ruan Fernandes, bolsista de Jornalismo da Coordenadoria de Comunicação Social (CCS/UFRRJ)
Fotografias: acervo pessoal de Jessica Alves
Revisão e edição: João Henrique Oliveira (CCS/UFRRJ)