Quem circulou pelo câmpus da Rural em Nova Iguaçu, do dia 16 a 20 de maio, pôde ouvir burburinhos e conversas em inglês pelos corredores. Algo inusitado para quem passa por ali diariamente. Na verdade, eram estudantes da América Central que vieram ao Brasil participar do I Fórum Internacional de Estudantes, realizado no Instituto Multidisciplinar (IM/UFRRJ). O evento debateu os diálogos da Diáspora Africana nas Américas.
No total, eram 15 estudantes da University of the West Indies (UWI) – câmpus Barbados – naturais de diferentes países. O grupo contava com participantes vindos de Anguila, Saint Vincent e Ilhas Grenadinas, Antigua, Inglaterra, Trinidad e Tobago, Grenada e até da China. Os alunos chegaram dia 15 de maio e ficaram hospedados em um hotel na cidade de Nova Iguaçu. A organização do evento ficou por conta do Departamento de História e Filosofia da UWI e do Laboratório de Estudos Afro-Brasileiros (LEAFRO) da UFRRJ. Além disso, integrantes do Programa de Educação Tutorial (PET) e do curso de Turismo, se voluntariaram para auxiliar, sobretudo, na parte das traduções.
A viagem só foi possível graças ao acordo de cooperação firmado entre a UWI e a UFRRJ em 2014. Tal parceria tem como objetivo estabelecer o diálogo mútuo entre as instituições acerca da cultura africana, do negro e de sua história. Dessa forma, um espaço de interlocução entre os estudantes de vários cursos de Graduação e de Pós-Graduação foi criado para discutir questões sobre à experiência e situação da população negra no continente americano, sobretudo, nas universidades.
O I Fórum Internacional de Estudantes foi o primeiro ato concreto deste acordo e debateu, justamente, a luta em prol de um discurso étnico. O contato com a UWI permitiu que os estudos que estavam focados no campo internacional mais para América e para África, se voltassem para articulação Caribe – América Latina, e quiçá, também a África. Por isso, o título do evento “Diálogos da Diáspora Africana nas Américas”.
– Os povos africanos foram escravizados a partir de uma política internacional colonial dos povos europeus. E foram, forçosamente, espalhados pelo mundo. Repensar o Brasil a partir da perspectiva dos afro-brasileiros é fantástico porque tudo que aprendemos na escola foi na perspectiva do europeu – argumentou Otair Fernandes, coordenador do Leafro.
Vivência e estudo de campo
O evento contou com palestras, rodas de conversa, painéis e atividades culturais, que foram acompanhados de tradução simultânea para que todos pudessem entender as pautas e discussões propostas. Os estudantes também visitaram a escola de samba da Mangueira, o quilombo Cafundá Astrogilda, o barracão da Vila Isabel na cidade do samba e fizeram um city tour pelos lugares da memória negra no Rio de Janeiro (Pedra do Sal, Cais do Valongo, Pequena África e Instituto Novos Pretos).
Para Samantha Orr, estudante de Letras da UWI, o Fórum foi uma oportunidade para aplicar os conhecimentos que obteve na universidade.
– Eu estudei aspectos do Brasil na Universidade, como por exemplo, a história do carnaval e os diferentes tipos de festas culturais como o candomblé. Minha expectativa com esse Fórum é que possamos conhecer algumas das raízes afro-brasileiras e espero aprender mais sobre o racismo que os brasileiros sofrem até hoje. Além disso, o Rio é um local que a gente só via em filmes. Então, estou bem animada para conhecer. Para mim, ir a esses lugares e fotografá-los vai ser algo especial – relatou a aluna sobre suas expectativas, em sua primeira viagem à América do Sul.
O primeiro dia do evento foi marcado pelas boas-vindas e pela recepção feita por colegas ruralinos. A reitora da UFRRJ, Ana Dantas, destacou, em seu discurso, que o fórum foi um momento histórico. O evento, para ela, foi fruto de uma luta em prol de uma discussão e reflexão na Universidade sobre a questão da minoria étnico-racial e as possibilidades de interação de conhecimento que existe no nosso país e fora dele.
– É fundamental que a gente se fortaleça para lutar na permanência de ações efetivas que demonstrem a Universidade em todas as suas multiplicidades de aspectos, sobretudo no recebimento das minorias que foram, historicamente, colocadas fora deste espaço acadêmico – concluiu a reitora.
Segundo a comissão organizadora, o evento superou as expectativas. Durante a plenária final, estabeleceu-se a previsão para que, em abril de 2017, um grupo da Universidade Rural faça o caminho contrário e se destine a UWI, em Barbados.
Por Bruna Somma/CCS
Fotos: Beatriz Rodrigues/CCS e Bruna Somma/CCS