O evento reuniu lideranças, estudantes, gestores e coletivos culturais para debater desafios, celebrar ancestralidades e construir propostas concretas para a inclusão e valorização dos povos originários e afrodescendentes na universidade pública.
No dia 9 de julho de 2025, o Auditório Professor Gusmão — conhecido como Salão Azul, no terceiro andar do Pavilhão Central (P1) da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), em Seropédica — acolheu um encontro que ultrapassou o formato tradicional de debates acadêmicos. O Encontro Presencial da Comissão Interinstitucional para Políticas Afirmativas para Povos Indígenas e Quilombolas marcou a preparação do 1º Fórum de Ensino Superior para Povos Indígenas e Quilombolas, previsto para agosto, ao reunir protagonistas e atores institucionais em uma jornada de escuta, reflexão e ação coletiva.
Um espaço para a voz ancestral e a luta por direitos
O dia começou com um café de recepção no hall do auditório, um convite à confraternização e à preparação para um momento que se revelaria simbólico e potente. A abertura cultural foi conduzida pelo Coletivo Indígena Turiê e pelo Coletivo da Ancestralidade Quilombola da UFRRJ. Ali, entre poemas recitados e cantos tradicionais, ressoaram não apenas melodias, mas as histórias, memórias e resistências dos povos que vêm sendo sistematicamente excluídos dos espaços de poder e saber.
A potência desse momento foi essencial para preparar o terreno de um debate que reconhece a ancestralidade não como algo do passado, mas como força viva que deve permear e transformar a Universidade.
Autoridades e lideranças em diálogo
A mesa de abertura institucional, conduzida pelo pró-reitor adjunto de Extensão, professor Marcos Pasche, reuniu nomes que simbolizam a articulação entre comunidade e academia, entre saberes tradicionais e científicos.
Além de Pasche, estiveram presentes: Marilda de Souza Francisco, líder do Quilombo Santa Rita do Bracuí, que trouxe a voz de sua comunidade para discutir o acesso e a permanência no ensino superior, destacando a luta por reconhecimento e respeito cultural; professor Urutau Guajajara, cacique e reitor da Universidade Indígena, que destacou a necessidade de repensar os modelos educacionais para incluir saberes ancestrais e garantir a autonomia dos povos originários; professor César Augusto Da Ros, vice-reitor da UFRRJ, reafirmando o compromisso institucional com a diversidade e a inclusão; professora Joyce Alves da Silva, pró-reitora de Assuntos Estudantis da UFRRJ, que abordou a importância de políticas que garantam o protagonismo dos estudantes indígenas e quilombolas; professora Miliane Moreira Soares de Souza, pró-reitora de Graduação da UFRRJ, que falou sobre as ações pedagógicas em curso.
Minuta do Consórcio: passo decisivo para políticas permanentes
O ponto alto do encontro ocorreu à tarde, quando a discussão se concentrou na Minuta do Consórcio Interinstitucional, documento que será assinado no Fórum de agosto por reitores e pró-reitores algumas das principais universidades públicas do Rio de Janeiro — UFF, UFRJ, Uerj, UniRio, UFRRJ, IFF e Uenf.
Esse consórcio tem como objetivo institucionalizar e garantir a implementação da Política Afirmativa para Povos Indígenas e Quilombolas, proporcionando a infraestrutura, os recursos e o suporte necessários para que as políticas saiam do papel e sejam efetivamente aplicadas.
Diferentemente da Comissão Interinstitucional, que funciona como espaço de articulação e debate, o Consórcio será a instância responsável pela operacionalização das políticas, assegurando continuidade e comprometimento das instituições parceiras.
A minuta detalha as responsabilidades das universidades, as formas de financiamento e os mecanismos de acompanhamento, apontando para um modelo colaborativo e sustentado de inclusão, que respeite as especificidades dos povos indígenas e quilombolas.
Um encerramento de força e identidade
Para encerrar o encontro, os coletivos indígenas e quilombolas da UFRRJ trouxeram ao Salão Azul uma celebração da ancestralidade através de cantos, danças e ritos que reafirmam a resistência e a identidade desses povos.
O momento reafirmou a ideia de que a Universidade não é um espaço neutro ou desprovido de história, mas um território onde as histórias de diferentes povos se encontram.
O caminho pela frente: desafios e esperanças
O encontro também ressaltou que a inclusão de povos indígenas e quilombolas no ensino superior vai muito além de políticas de cotas: envolve a transformação das estruturas acadêmicas, pedagógicas e institucionais para que essas populações possam não apenas ingressar, mas também se sentir pertencentes e protagonistas dentro da Universidade.
Os desafios são muitos — desde o combate ao racismo estrutural até a adaptação curricular e a garantia de suporte acadêmico e socioemocional.
A formação do Consórcio Interinstitucional é um passo decisivo para assegurar que essas políticas ganhem sustentabilidade, infraestrutura e respaldo formal para que a universidade brasileira se torne um espaço de pluralidade, justiça e respeito.
Texto e fotos: Victoria da Silva Conceição, jornalista e bolsista da CCS junto à Proext.