Segunda edição da exposição especializada impulsiona a equinocultura na Universidade e projeta novos horizontes para a raça brasileira
No último final de semana de junho, do dia 25 a 28, ocorreu a 2ª Exposição Especializada do Mangalarga Marchador da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). Sediado em Seropédica, no Departamento de Esporte e Lazer (DEL/UFRRJ), o evento reuniu mais de cem cavalos da raça, que é tipicamente brasileira, e pontuou vencedores para a 42ª Exposição Nacional do Mangalarga Marchador. “Estamos retomando as tradições e a importância do setor de equinocultura e da universidade para a comunidade, principalmente para os apaixonados pela raça”, conta a professora do Instituto de Zootecnia (IZ/UFRRJ) e organizadora do evento, Fernanda Godoi.
A Expo contou com julgamentos, provas sociais e grandes campeonatos, e os jurados avaliaram andamentos e morfologia. Ao total, 101 cavalos foram inscritos, e os competidores vieram de longe, com participações de fora do estado.
Considerado um evento oficial pela Associação Brasileira dos Criadores do Cavalo Mangalarga Marchador (ABCCMM), os vencedores do 1º e 2º lugar, respectivamente campeão e reservado campeão, pontuaram no ranking para a 42º Expo Nacional, realizada pela ABCCMM, que irá acontecer em Belo Horizonte, Minas Gerais, de 19 de julho a 2 de agosto. “Muita gente que não conseguiu pontuação veio para se pontuar, e até mesmo quem já tinha, veio para manter a colocação”, contou a organizadora.
Alunos e egressos na equinocultura da UFRRJ
Os alunos da UFRRJ puderam participar ativamente do evento, desde a limpeza do local até ao auxílio aos juízes durante as provas. “Eu coloquei meus alunos para estagiar em todos os degraus da Exposição, e eu acho que isso foi muito importante para mostrar a eles o que podem fazer no futuro. E eles assumiram uma postura de responsabilidade, de realmente querer que o evento desse certo”, afirmou orgulhosa a professora Fernanda.
A estudante de Zootecnia Ana Beatriz Rezende participou da prova social na categoria Amazonas, e ganhou o prêmio de campeã. “Eu vivo o mundo do cavalo desde pequenininha, então foi muito especial ver esse tipo de evento acontecendo na Universidade, pois aproxima e valoriza esse universo, que é tão apaixonante”, expressou.
O jurado responsável pela categoria de andamento, Agnaldo de Andrade, foi aluno da UFRRJ. “Para mim, como egresso da Rural, voltar à universidade como profissional, para trabalhar na exposição do Mangalarga Marchador é uma sensação extraordinária. É difícil até falar sobre essa emoção, porque é uma realização pessoal e profissional”, contou. Zootecnista pela Rural, Agnaldo comenta a relevância do evento para os alunos. “É muito importante estar vendo e aprendendo a zootecnia na prática, na avaliação dos animais, na morfologia, na marcha. Eu fico muito satisfeito e feliz de ver a universidade alçando voos maiores”, disse o jurado.
A rica história da equinocultura na UFRRJ
Fernanda, que também é egressa da UFRRJ, explicou que, antigamente, o Instituto de Zootecnia (IZ/UFRRJ) realizava grandes eventos, como festas, exposições e leilões, mas que a prática foi descontinuada. “Se a gente pensar numa era mais antiga do setor de equino e da zootecnia, a gente sempre fez isso. Eu não era nem nascida. Nossos cavalos sempre iam à exposição, os leilões aqui eram muito famosos. Aconteceu que algo se perdeu”, explicou.
O servidor técnico-administrativo do IZ/UFRRJ e organizador da Expo Walmir Rocha disse já ter participado dos antigos eventos realizados. Zootecnista pela UFRRJ, sua trajetória na Rural vêm desde a infância, como filho de funcionários moradores do câmpus Seropédica. “Vim fazendo eventos ao longo desses anos. A Semana de Zootecnia era a maior festa do município de Seropédica, e acontecia em frente ao IZ”, contou. Realizada em meados dos anos 80, o evento reunia ensino, pesquisa e extensão junto ao lazer, com programação recheada de atividades para o público. Anterior à Semana de Zootecnia, acontecia a Semana do Fazendeiro, nos anos 60 e 70. No Pavilhão Central (P1/UFRRJ), há uma placa que celebra sua 10ª edição, em julho de 1957.
Além disso, a criação de cavalos da raça Mangalarga Marchador também faz parte de uma antiga tradição do curso de Zootecnia. “Nossos animais sempre foram registrados, desde quando começou a criação junto à Universidade. Temos mais de 60 anos de tradição”, conta Fernanda Godoi.
A UFRRJ é a única universidade que possui rebanho registrado na ABCCMM, uma das maiores entidades de criadores de equinos de uma mesma raça na América Latina, credenciada pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa). O sufixo IZ KM 47 é “como se fosse o sobrenome”, como explicou Fernanda, de todo cavalo nascido no setor de equinos na Universidade.
O jurado Agnaldo reforça a importância do plantel da Rural no Brasil. “Antigo e ativo desde a sua formação, muitos criadores foram buscar base genética para seus criatórios na base IZ KM 47”, e destacou o garanhão Sargento J.B., número 001 dos livros do KM 47 que sagrou-se Reservado Grande Campeão Nacional da Raça em Belo Horizonte no ano de 1944, vendido à UFRRJ pelo Ministério da Agricultura nos anos 40.
O que acontece com a realização da 2ª Expo Especializada é o resgate de tradições. A primeira edição ocorreu antes da pandemia, quando Fernanda ainda era uma professora recém-chegada na instituição. Hoje, ela deseja que o curso de Zootecnia volte a realizar eventos desse porte. A prática de leilões voltou a ser realizada durante a Semana Rural, o maior evento atual de extensão da UFRRJ. Na edição de 2025, a programação foi um sucesso de participação do público, atraindo não só a comunidade ruralina como muitos visitantes interessados nos animais. A ideia é que a próxima Expo também seja realizada durante a Semana Rural.
UFRRJ rumo à referência em equinocultura
A zootecnista explicou como o evento foi resultado de muito esforço em conjunto. “A gente fez aquilo tudo sem dinheiro, fazendo vaquinha, pedindo doações. Tudo o que a gente fez ali, teve muito amor envolvido”, disse Fernanda. O jurado Agnaldo completa a fala e destaca as parcerias realizadas. “Ruralino é sempre ruralino. A gente aprende a não esperar acontecer, a fazer acontecer. Então, nós fizemos essa exposição com o apoio de todos. Dos servidores do IZ, do pessoal do DEL que foi muito solícito no pedido de uso do local e também nos auxiliou, da Reitoria que abraçou a causa e entendeu a importância de um evento como esse”, relatou.
O técnico Walmir chamou a atenção para a participação da comunidade e as oportunidades que são criadas. “Esse contato com os criadores e com as associações abre um leque de parcerias. A gente ganha material genético como sêmen e embriões para serem usados aqui no nosso plantel, e isso melhora o nível de qualidade genética. Então, esse evento pode tornar a Universidade um núcleo de equinocultura, de eventos com equinos”, expressou. O setor de equinos da UFRRJ está se organizando em prol de sua reestruturação e melhoramento genético da tropa IZ KM 47. “Vamos voltar a ser referência na área de Seropédica e em torno, e quiçá, da Baixada Fluminense, e quiçá, do Rio de Janeiro. Um dia eu vou chegar lá!”, expressou Fernanda, com confiança.
Texto: Ana Clara Tavares, bolsista de Comunicação da CCS/UFRRJ
Fotos: Bruno Werneck