Quem pensa em Agronomia imagina, naturalmente, ações desenvolvidas em ambientes terrestres. Contudo, um projeto desenvolvido por pesquisadores da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) na Baía da Ilha Grande, litoral do Rio de Janeiro, amplia a noção que temos de agricultura e traz um elemento a mais para a paisagem: o cultivo de algas em mar aberto. No dia 23 de maio de 2025, a equipe do Laboratório de Química Biológica do Solo (LQBS), vinculado ao Departamento de Solos (Instituto de Agronomia/UFRRJ), realizou uma visita técnica em Paraty para acompanhar o cultivo da macroalga Kappaphycus alvarezii. “Trata-se de um organismo marinho que tem emergido como peça-chave no desenvolvimento de fertilizantes inteligentes e bioestimulantes de nova geração”, explica o professor Andrés Calderín García (IA/UFRRJ), líder do grupo.
Os pesquisadores da Rural foram recebidos por membros da Associação de Maricultores de Paraty (Amapar) e pelo biólogo da Secretaria de Pesca do município, Domingos Sávio. Para o professor Andrés Calderín, o encontro marcou mais do que uma simples visita técnica: “Foi um passo simbólico e prático na construção de uma ponte entre ciência e comunidade costeira, entre o mar e o solo, entre tradição e inovação”.
“Buscamos nos inserir num modelo de economia azul e bioeconomia, onde sejamos capazes de plantar tecnologia no mar que regenere solos mais férteis e produza alimentos mais saudáveis na terra. Apostamos em uma agricultura de baixa emissão de gás carbônico, com nutrientes de origem marinha que valorizem a produção local e ajudem a construir a soberania alimentar do Brasil”, completou o docente do Departamento de Solos.
A equipe do LQBS ainda é composta pelos doutores Tadeu van Tol de Castro e Rafael Mota, além dos mestrandos Raphaella Cantarino, Ayhessa Lima e Felipe Jesus da Silva.
Veja, na galeria abaixo, fotos da alga feitas pelo biólogo Domingos Sávio.
Vice-presidente da Amapar e representante dos algicultores (cultivadores de algas), Saulo Vidal expressou sua satisfação com a visita: “Foi uma experiência enriquecedora, na qual pudemos compartilhar conhecimentos do nosso trabalho com os cientistas. Esse evento representa um avanço na economia azul. Acreditamos que vamos colher bons frutos juntos”.
De acordo com Andrés Calderín García, o projeto na Baía da Ilha Grande pretende “dar valor agregado à biomassa de algas cultivada na região”.
“O uso dos extratos de Kappaphycus alvarezii como base para bioinsumos agrícolas — especialmente bioestimulantes e fertilizantes inteligentes — representa uma oportunidade estratégica de promover o desenvolvimento regional sustentável, gerar emprego e estimular uma nova cadeia produtiva baseada em recursos renováveis e locais”, detalha o pesquisador, que ainda ressaltou interação com os agricultores do mar. “Eles têm contribuído de forma essencial com o saber técnico do cultivo de algas em mar aberto, conhecimento esse que é novo para muitos agrônomos, cuja formação é tradicionalmente limitada aos ambientes terrestres”.
O docente avaliou que a visita marcou o início de uma série de ações extensionistas, científicas e tecnológicas que pretendem transformar a costa sul fluminense em referência nacional na produção de insumos agrícolas marinhos. “A proposta é clara: articular ciência de ponta com conhecimento comunitário para promover uma agricultura resiliente, regenerativa e verdadeiramente integrada à natureza”, concluiu.
O trabalho conta ainda com a colaboração dos professores da UFRRJ Ricardo Berbara (LQBS) e Leandro Santos (Laboratório de Nutrição Mineral de Plantas – LNMP), além de Ana Vendramini (UFRJ) e David Campos (Embrapa Solos).
Com informações do professor Andrés Calderín García
Edição: João Henrique Oliveira (CCS/UFRRJ)