Filipe Lima — CCS/UFRRJ (*)
Em janeiro de 2017, professores e alunos de dois cursos deram início a um ambicioso projeto. Liderada pelos docentes Sérgio Serra (Sistemas de Informação) e Marcos Ceddia (Agronomia), a equipe multidisciplinar desenvolveu o OpenSoils, um aplicativo prático que armazena dados de morfologia, física, química, mineralogia e experimentos físicos de solos.
Ir ao campo é sempre uma tarefa complicada para o pedólogo – o especialista em solos – pois envolve se embrenhar nos interiores do país. Pensando nessa necessidade, surgiu o interesse em desenvolver um sistema capaz de armazenar todos os dados, de modo que o pesquisador não precise retornar ao local.
“As pessoas não têm esse tipo de ferramenta, em nenhum lugar do mundo. Apresentamos o projeto em um congresso internacional de softwares, e mais de 60 pesquisadores do mundo inteiro vieram nos procurar, querendo ver como funciona. Isso porque estão acostumados com a antiga cultura de ficar manipulando centenas de planilhas no Excel. Então, agora temos um banco de dados que atende a todos de forma centralizada”, explica o professor Serra.
Benefícios para a comunidade
Além de trazer prestígio para a Universidade – levando em conta que o OpenSoils é ligado a ela – é possível utilizá-lo como apoio nas aulas de Agronomia dentro do câmpus. Tanto pesquisadores como agências de pesquisas podem também realizar parcerias para ter acesso às ferramentas em coletas no campo, dentro e fora do país.
“Estes são apenas alguns dos benefícios em curto prazo. Podemos ter desdobramentos ainda mais importantes e difíceis de mencionar agora, como até mesmo se tornar um padrão nacional na coleta de dados pedológicos”, diz um dos desenvolvedores do projeto e ex-bolsista do Programa de Educação Tutorial de Sistemas de Informação (PET-SI), Renan Miranda.
Além disso, os dados de alta precisão dos solos permitiriam aos governos conhecerem melhor seus municípios e estados, ou planejar melhor o investimento na agricultura. Uma vez aplicado em Seropédica, Nova Iguaçu ou Três Rios, por exemplo, é algo que beneficiaria a toda população dessas regiões, segundo os desenvolvedores do programa.
O OpenSoils pode ser baixado gratuitamente na Play Store, Apple Store ou na plataforma oficial PET-SI/UFRRJ, disponível para os mesmos sistemas.
Reconhecimento local e internacional
O programa OpenSoils foi um dos destaques do estande da UFRRJ no 21° Congresso Mundial de Ciência do Solo, realizado entre 12 e 17 de agosto, no Rio de Janeiro. O evento contou com a presença de 4 mil inscritos e representantes de mais de 150 países, dando visibilidade internacional à tecnologia desenvolvida pela Universidade.
“Esse aplicativo vai dar um apoio fundamental a todos os profissionais da Ciência do Solo que trabalham no campo”, disse o reitor da UFRRJ, Ricardo Berbara, durante o Congresso. “Esses profissionais – como eu mesmo fui – quando vão a campo levam papel e começam a tomar nota. Hoje, com esse programa, o trabalho será facilitado. E esse é o primeiro software do mundo usado para classificação de solo. Foi uma conquista fundamental da Universidade”.
A experiência do aplicativ0 também colheu bons frutos na VI Reunião Anual de Iniciação Científica (RAIC) da UFRRJ. Duas pesquisas baseadas no programa foram escolhidas entre os melhores trabalhos desta edição. Com orientação do professor Sérgio Serra, os estudantes Renan Miranda e Gabriel Rizzo foram premiados, respectivamente, pelas pesquisas ‘OpenSoils app: um aplicativo móvel para suporte no levantamento pedológico’ e ‘OpenSoils Web: um sistema de gerenciamento de dados pedológicos’.
(*) Colaborou João Henrique Oliveira
Publicada originalmente no Rural Semanal 12/2018