Quando você era criança, você sabia o que queria ser quando crescesse? E você, de fato, tornou-se aquilo que pretendia ser? Muitas vezes, a vida vai nos conduzindo por caminhos diversos do imaginário infantil e nos abrem portas inimagináveis. Mas, outras vezes, a vida parece mesmo ratificar aquilo que os sonhos infantis indicavam ser seu destino.
Muitos médicos veterinários começaram a perceber seu interesse pelos animais desde cedo. Aliás, ao lado de bombeiros e professores, é uma das profissões mais queridas das crianças e uma das mais citadas diante da pergunta clássica: “O que você vai ser quando crescer?”.
Salomão Matte, 10 anos, aluno do 5º ano do Ensino Fundamental, morador do bairro de Padre Miguel, manifestou ao pai Saulo Matte o interesse em ser médico veterinário.
O que pais e mães fazem nessas ocasiões? Sorriem e seguem a vida, certo? Mas não esse pai! Saulo resolveu escrever para a UFRRJ e contar sua história e a de seu filho em um e-mail que seguiu para caixa de entrada do professor e diretor do Instituto de Zootecnia Nivaldo Sant’Ana.
No e-mail, Saulo contou que era pai solteiro, militar, e que criava o filho num bairro sem muitas opções de lazer, onde muitas vezes o Poder Público também falha nos quesitos segurança e educação. “Eu cresci nesta conjuntura de muitas dificuldades e pouquíssimas oportunidades na vida, no entanto, mesmo morando dentro desta realidade, eu tenho lutado para que meu filho consiga vislumbrar todas as oportunidades e possibilidades que ele pode alcançar na vida”, dizia o texto de Saulo.
Sensibilizado com a história, o diretor repassou a mensagem para o médico veterinário e servidor da UFRRJ Bruno Gonçalves de Souza, responsável técnico na Fazenda Universitária (Fazur). Foi aí que o sonho de Salomão e as palavras de seu pai começaram a ganhar grandes proporções. Bruno convidou ambos para conhecerem o Hospital Veterinário e a Fazur.
“Quando o Nivaldo me passou esse e-mail pensei que eu tinha que fazer isso acontecer. Muitas vezes ficamos aqui pensando em projetos extra-muros, para podermos fazer esse tipo de trabalho e, do nada, uma história tão bonita como essa surge e não podíamos deixar de atender”, conta Bruno.
No dia 23 de setembro, uma sexta-feira, ocorreu a tão aguardada visita. Saulo, Salomão e seu amigo Pedro Miranda, de 12 anos, foram recebidos numa sala do setor do Hospital Veterinário dedicado aos animais de grande porte. Ali, o médico veterinário teve a oportunidade de iniciar um bate-papo com os visitantes e conhecer um pouco mais a história deles.
Salomão revelou que prefere os animais pequenos, porque os grandes lhe dão medo. “É porque uma vez eu fui andar a cavalo e não sei o que aconteceu que, quando subi nele, ele não quis andar comigo”, explicou o menino com os olhos voltados para os ossos de cavalos que estavam à mostra na mesa de reunião da sala. “Eu sempre gostei dos animais, eu queria ter uns três cachorrinhos, mas não pude”, acrescentou.
O pai Saulo disse que o filho manifestou seu interesse em 2018. “Como moramos na região periférica do Rio, de maneira geral, é muito complicado. Eu mandei esse e-mail porque meu filho queria ser veterinário e, como na minha família ninguém fez faculdade, eu queria aproximar essa realidade distante de Universidade. Pelo menos para mim, na minha infância, era uma realização quase impossível”, revelou Saulo.
Demonstrando vocação também para jornalismo, o menino Salomão trouxe de casa uma lista de perguntas para fazer a Bruno. “Você só atende animais domésticos ou todos os animais?” foi a primeira delas. O médico veterinário, depois de sabatinado por Salomão, seguiu com uma pequena cerimônia onde condecorou os meninos com broches da Medicina Veterinária e presenteou-os com estetoscópios, ensinando-os a ouvir as batidas do coração.
“Você pode ser o que você quiser. Nossos sonhos quem define somos nós. Basta que você estude bastante e se dedique, pois todo sonho é possível de ser realizado. Vai ser um prazer se, daqui a alguns anos, a gente receber você aqui como aluno de Medicina Veterinária e, logo na sequência, você virar colega de profissão da gente”, explicou Bruno ao pequeno Salomão para, em seguida, iniciar o passeio pelo Hospital Veterinário.
Com os olhos cheios de curiosidades, os dois meninos viram como os animais domésticos são separados logo na entrada do Hospital. De um lado, a ala dos cachorros; do outro, a dos gatos – “para não ter confusão entre eles”, explicou Bruno. Em seguida, o médico veterinário conduziu-os pelas salas de atendimento, de cirurgias e de exames, onde os dois pequenos se divertiram vestindo as roupas para proteção contra a emissão de raio-x.
Para finalizar a visita ao Hospital com chave de ouro, Salomão e Pedro conheceram alguns animais silvestres que também estavam sob cuidados médicos: dois tucanos, uma arara, um porco espinho, uma coruja. Ficaram surpresos em saber que eles também eram atendidos no local.
O passeio seguiu com os três visitando os setores de bovinocultura, equídeos e cunicultura, com uma pequena pausa para o lanche e uma visita ao Instituto de Zootecnia, onde foram recepcionados pelo diretor Nivaldo, que recebeu o e-mail do pai de Salomão.
Sobre a experiência do passeio pela UFRRJ com pai e filho, o médico veterinário Bruno ressaltou: “Fiquei pensando em como tornar a experiência bacana para a criança. E, certamente, valeu muito a pena. Tive a sensação de que marcará positivamente a lembrança de Salomão. Quem sabe não voltamos a nos encontrar lá na frente? Seria muito legal! Certamente a experiência também me marcou muito, pois na correria do dia a dia, não conseguimos perceber que são os detalhes que fazem realmente a diferença. Pensamos em extensão de forma engessada e esquecemos que uma atitude como essa pode ser muito decisiva não apenas para a vida do menino, mas também para a própria imagem da instituição, que se mostrou de portas abertas”, concluiu.
Saulo também não poupou palavras de carinho à instituição: “Agradecemos a oportunidade, atenção e carinho dado a nós. Desde o primeiro contato até o final da visita. As crianças ficaram super felizes e animadas. O objetivo foi atingido. Obrigado por tudo!”, escreveu o pai a Bruno, logo depois da experiência de um dia na Universidade Rural.
Por Fernanda Barbosa, jornalista/CCS