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Portal UFRRJ > INSTITUCIONAL > Notícia > Semana Acadêmica de Economia do IM/UFRRJ 2016 celebra 10 anos do curso em Nova Iguaçu

Semana Acadêmica de Economia do IM/UFRRJ 2016 celebra 10 anos do curso em Nova Iguaçu

Plateia estudantil presente à Semana de Economia do IM/UFRRJ

Plateia estudantil presente à Semana de Economia do IM/UFRRJ

 
De 3 a 7 de outubro, o Departamento de Ciências Econômicas do Instituto Multidisciplinar da Universidade Rural (DPCE/UFRRJ-IM), em parceria com o Centro Acadêmico de Economia (CAECO/IM), promoveram a Semana Acadêmica de Economia 2016. A iniciativa celebrou os 10 anos do ensino de Economia em Nova Iguaçu. O CAECO é a entidade máxima de representação, coordenação e orientação dos acadêmicos do curso de Ciências Econômicas da universidade, no âmbito do IM.
 
Na segunda-feira, dia 3/10, tivemos a palestra do professor Eduardo Costa Pinto, do curso de Economia da UFRJ. Com mediação da professora Grasiela Baruco, ele discorreu sobre “A crise do Capitalismo Brasileiro: limites, tensões e a questão social”. Segundo ele, o país vive cenário de crise profunda, que não pode ser enfrentada levando-se em conta apenas a dimensão econômica, mas sobretudo, um viés político e que guarda relação com a questão público-privado do capitalismo brasileiro. Para o professor, a relação entre o “público” e o “privado” anda desgastada e dificilmente um empresário (interno ou externo) vai investir no país, nesse cenário de crise galopante. Ele não vê riscos da economia do país cair a níveis do ano passado (a retração atingiu 3,8%), mas vê com pessimismo uma possibilidade de crescimento muito abaixo do esperado, no ano que vem. Costa Pinto considera que o capitalismo brasileiro, se quiser continuar crescendo, precisa destravar o processo de acumulação, que se encontra emperrado.
 
Ajuste fiscal
 
Mesa de abertura da Semana de Economia do IM, com o diretor, professor Alexandre Fortes, o professor Eduardo Costa Pinto e a mediadora, professora Grasiela Baruco

Mesa de abertura da Semana de Economia do IM, com o diretor, professor Alexandre Fortes, o professor Eduardo Costa Pinto e a mediadora, professora Grasiela Baruco

 
Nesse contexto de crise, o palestrante acentua que a gestão de Michel Temer, apesar de preconizar o ajuste fiscal, não o pratica. Uma mostra disso é o aumento de sua dotação orçamentária para R$ 170 bilhões. Segundo ele, o PMDB sabe que se promover agora o ajuste fiscal (como exigem os setores dominantes da grande burguesia e do capital) vai implodir sua base de apoio no Congresso e na sociedade. Tal impasse está gerando um problema político, qual seja o tensionamento das relações entre o governo Temer e parte dos setores dominantes do capital. Na análise do professor da UFRJ, as reformas neoliberais (trabalhista e previdenciária) serão difíceis de implementar, em razão da crise de gestão da política econômica atual, e dos enfrentamentos futuros com os setores organizados da sociedade.
 
“18 brumário” tupiniquim
 
Uma comparação feita pelo palestrante nos remeteu à análise feita por Karl Marx sobre a situação econômica da França (semelhante à nossa atual), quando ocorreu o movimento 18 de Brumário, ou seja, crise em cima de crise, golpe em cima de golpe e uma completa dificuldade de coordenação da ordem capitalista. Por isso, a crise é do Capitalismo, e não apenas uma “crise do PT” ou “do governo Temer”. É nesse sentido, segundo o professor Eduardo Costa, que não se pode apenas responsabilizar o partido de Lula pela crise, Para ele, o PT, como partido da ordem institucional burguesa e da contenção social, deixou de entregar às classes dominantes parte dos ganhos e isso foi um dos estopins da crise atual.
 
Já no segundo dia da semana acadêmica (dia 4/10), tivemos a palestra do professor da UFF e presidente da Sociedade Brasileira de Economia Política, Marcelo Carcanholo. Sua intervenção versou sobre o tema “A Ciência Econômica hoje: crise da Economia Mundial e da Teoria Econômica”, com mediação do professor do IM Bruno Borja. Para o professor, o ajuste fiscal patrocinado pelo governo Temer é um dos componentes da forma como o capitalismo brasileiro está se reestruturando para retomar uma nova fase de crescimento.
 
Trata-se de uma saída de curto prazo, que serve para que o Estado economize recursos com despesas não financeiras (saúde, educação, habitação e políticas sociais), canalizando esse dinheiro para atuar no mercado financeiro na compra de papéis, para que eles não se desvalorizem. Para o professor Carcanholo, esse ajuste fiscal é uma medida necessária, porém, insuficiente para os interesses do capital, pois não vem acompanhado dos componentes de médio e longo prazos, as tais reformas estruturais neoliberais e privatizantes. E não é por acaso que já se encontra no Congresso uma nova reforma da previdência e trabalhista, medidas que vão flexibilizar (desregulamentar) direitos sociais e dos trabalhadores, beneficiando e valorizando o capital, que tenta ganhar tempo na esfera financeira.
 
Capitalismo cíclico
 
O professor da UFF observou que tais medidas só vão aprofundar o grau de dependência do capitalismo brasileiro às variantes externas e internas. No âmbito interno, a lógica do capitalismo será sempre essa: o ônus do ajuste para que o crescimento econômico volte a ocorrer será pago pela classe trabalhadora.
Para ele, a crise que a economia mundial está passando nos dias de hoje é a mesma que eclode e se aprofunda em 2007/2008, mas com outra roupagem, uma vez que a trajetória da economia capitalista é cíclica em sua dinâmica e toda fase de crescimento e acumulação de capital é sempre sucedida por períodos de crise e instabilidade. Carcanholo destacou também que todos os ciclos econômicos são regulares e necessários, o que não significa dizer que sejam “mecânicos” ou “previsíveis”. Ou seja, não se pode antever que a economia, em função das variantes atuais, vai necessariamente exibir aquele determinado resultado que se espera dela.
 
Numa crise econômica, uma contradição analisada por Karl Marx em seus estudos relaciona-se à fase de crescimento e acumulação do capital: ele cresce naquilo que o constitui, no caráter social da produção e no caráter privado da apropriação do mercado.
 
Por fim, o palestrante apontou que a atual crise por que passa o capitalismo contemporâneo permite resgatar ao menos duas coisas, ambas fundamentais para o entendimento da natureza do funcionamento desse sistema econômico. A primeira é o fato de que o processo de acumulação de capital se dá em ciclos. Em segundo lugar, a perspectiva marxista como um referencial teórico sólido para a compreensão desse fenômeno.
 
Na visão do professor Carcanholo, processos de acumulação de capital desenvolvem as contradições do Capitalismo. Isso chega a um ponto tal que as crises são a forma que esse mesmo modo de produção encontra para, ao mesmo tempo, manifestar o momento de irrupção dessas contradições e o restabelecimento da unidade entre a produção e a apropriação do valor. Isso significa que, se quisermos encontrar as causas da crise econômica brasileira atual, devemos enfrentar o fato de que o Capitalismo, de forma recorrente, entra em crise porque cresceu e voltará a crescer porque entrou em crise.
 
No terceiro dia (5/10) tivemos a palestra de Jorge Luis dos Santos Jr, professor adjunto do Departamento de Engenharia de Produção do Centro Tecnológico da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). Ele também integra a Rede Brasileira de Pesquisa em Nanotecnologia, Sociedade e Meio Ambiente. Sob mediação da professora Clarice Vieira, vice-coordenadora do curso de Economia do IM/UFRRJ, a palestra abordou o tema “Deslocamento da curva de demanda para a direita: consumismo sob o olhar da Economia enquanto Ciência Social”.
 
O professor Jorge começou sua intervenção se autodefinindo como um economista não tradicional, mais ligado às ciências sociais. Segundo ele, na economia, toda “busca de felicidade” está aparentemente associada à satisfação das necessidades de consumo cada vez maiores por parte das pessoas. A conseqüência disso, de acordo com sua avaliação, é o esgotamento progressivo e crescente dos recursos naturais, uma vez que tudo o que é produzido provém da natureza.
 
Consumo x Felicidade
 
Um paralelo pode ser traçado entre “consumo” e “felicidade”. O palestrante afirmou que consumo é tudo aquilo que necessitamos para sobreviver, como alimentos e água. Já a felicidade está relacionada ao prazer, à satisfação de desejos subjetivos, como comprar um carro novo, fazer uma viagem à Europa, consumir champanhe francês, uma bolsa da Louis Vuitton, etc. E nesse contexto, o professor da UFES acentuou que a publicidade exerce forte influência em nossas demandas consumistas. Muitas vezes, é ela quem subjetivamente dita padrões estéticos, de beleza e comportamento social, de consumo de bebidas e alimentos e nem sequer nos damos conta disso.
 
A publicidade
 
Uma das definições de publicidade – talvez a mais exata – é aquela que a conceitua como a arte de fazer com que as pessoas comprem aquilo que não precisam, com o dinheiro que não tem, para parecerem o que não são e principalmente para as pessoas que não gostam.
 
Santos Jr acentuou que – sem que percebamos – a publicidade se faz presente de forma cada vez mais intensa em nossas vidas. Mais do que cidadãos, somos rotulados como consumidores de produtos e serviços que diariamente a mídia nos impõe como estilo de vida preconcebido, a ser seguido por nós, indistintamente. O valor das coisas passou a significar tão somente o preço que custam, quando na verdade o valor material poderia ser medido por outros meios e conceitos.
 
Tivemos, por fim, no dia 6/10, a palestra da professora de Economia da UFF/UFRJ Angela Ganem, com o tema “10 anos do ensino de Economia no IM”, em que narrou toda a história do processo de criação de uma universidade pública na Baixada Fluminense, que redundou no surgimento do Instituto Multidisciplinar em Nova Iguaçu. O professor Mário Máximo, coordenador do curso de Economia do IM/UFRRJ, foi o mediador da conferência.
 
Segundo a professora Angela, tudo começou há 14 anos quando ela e a professora Inês Patrício, da Universidade Federal Fluminense (UFF), fundaram a Escola de Governo da Baixada Fluminense. Ela definiu como muito rico e denso esse movimento, numa região que à época possuía algo em torno de 3 milhões e meio de habitantes, onde o ensino privado predominava no panorama educacional e que convivia (e ainda convive) com altos índices de desemprego, violência e carência de serviços públicos de qualidade, como saúde, educação e transportes.
 
Dois núcleos da escola foram inicialmente instalados na região, um em São João de Meriti (na Associação Comercial da cidade) e outro em Nova Iguaçu (que funcionou na diocese iguaçuana), com o objetivo de formar e capacitar quadros dirigentes e comunitários locais. No bojo desse processo, surgiu então a ideia de se criar uma universidade pública na Baixada Fluminense, que a princípio se constituiria como um programa de extensão da UFF, em razão das professoras Angela e Inês pertencerem a instituição acadêmica sediada em Niterói. Ela lembrou que, na época, havia no município iguaçuano uma intensa efervescência política, marcada pela atuação do ex-líder estudantil da UNE e atual senador Lindbergh Farias (que foi candidato a prefeito), e o vereador Ferreirinha (PT), que ajudaram muito nesse processo, além de algumas lideranças históricas da Baixada, como o ex-deputado federal Jorge Gama.
 
Mostra Cultural, com apresentações artísticas e musicais dos alunos e convidados

Mostra Cultural, com apresentações artísticas e musicais dos alunos e convidados

 
A palestrante assinalou que os cursos eram totalmente livres e gratuitos, de excelência acadêmica, multidisciplinares e na área das Ciências Humanas e Sociais, abertos a todo e qualquer cidadão interessado em estudar e refletir de forma crítica acerca da realidade social e econômica local. Um forum pró-universidade pública foi criado na Câmara de Vereadores de Nova Iguaçu, com a participação dos reitores da UFF, Rural e CEFET, interessados na implantação de um câmpus na região.
 
A iniciativa promoveu a vinda dos melhores professores, que aliavam a qualidade do ensino ministrado com a preocupação social que tinham com os habitantes locais, marginalizados pela exclusão e discriminação que sempre marcaram negativamente a Baixada Fluminense.
 
Não foi exigido nenhum pré-requisito dos candidatos a alunos, bastando para tanto que fossem capazes de compreender o que estava sendo dito em sala de aula. Não havia provas de avaliação. Entre os estudantes, havia secretários dos diversos municípios da região, professores, militantes políticos, desempregados, donas de casa e jovens em idade escolar. Em São João de Meriti, 355 pessoas se inscreveram no primeiro ano e em Nova Iguaçu, 220.
 
Os cursos possuíam carga horária de 60 horas/aula, com duração de dois anos e tinham na grade aulas de sociologia, economia, ciência política, antropologia, economia política e economia da Baixada.
 
A aula inaugural do projeto da Escola de Governo da BF ocorreu em 2002 e foi ministrada pelo antropólogo e cientista político Luiz Eduardo Soares.
 
Depois de criado esse fórum na Câmara de Vereadores, um consórcio reunindo as universidades públicas envolvidas foi instalado para alavancar o projeto, com aulas sendo dadas por professores de diversas universidades públicas. Posteriormente, o MEC sugeriu que um pólo fosse instalado e coube à Universidade Rural essa tarefa, em razão da mesma já existir em Seropédica, um município inserido na microrregião de Itaguaí, na Região Metropolitana do Rio de Janeiro, fazendo divisa com cidades da Baixada. Inicialmente, a previsão era que a Universidade Federal Fluminense (UFF) instalasse seu câmpus avançado na região, mas acabou por se instalar em Volta Redonda.
 
Decorridos 14 anos, a universidade pública é uma realidade concreta na BF, provando que a ideia de uma instituição gratuita e de ensino qualificado era viável. E graças a esse esforço coletivo que nasceu de um sonho acalentado por duas professoras, hoje temos o Instituto Multidisciplinar da UFRRJ, com ensino, pesquisa e extensão interagindo com o meio social baixadense, pensando seus problemas e buscando soluções em conjunto com a comunidade.
 
A professora Angela informou também que o câmpus da Universidade Rural em Nova Iguaçu foi um dos poucos no país a surgir de baixo para cima, sem a imposição do MEC, mas fruto da vontade de cidadãos e moradores da Baixada Fluminense.
 
No dia 7/10, a Semana Acadêmica de Economia 2016 encerrou-se com uma Mostra Cultural no pátio do Instituto Multidisciplinar, onde ocorreram apresentações de trabalhos artísticos e shows musicais de alunos e convidados.
 
Por Ricardo Portugal – Assessoria de Imprensa do IM/UFRRJ

 


Postado em 11/10/2016 - 11:05 -

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