Entre os dias 10 e 12 de maio, o câmpus Seropédica sediou a Expo Especializada do Mangalarga Marchador. O evento foi uma iniciativa do Instituto de Zootecnia (IZ/UFRRJ) em conjunto com o Núcleo Rio Sul da Associação Brasileira dos Criadores do Cavalo Mangalarga Marchador. A exposição aconteceu no Instituto de Ciências Biológicas e da Saúde (ICBS) e contou com a presença de mais de 50 criadores, que trouxeram aproximadamente 100 cavalos para o evento.
O técnico do IZ e organizador do evento Walmir Gomes disse que um dos objetivos da exposição era trazer os criadores para dentro da Universidade e fazer parcerias: “Eles têm necessidade de adquirir conhecimento
técnico-científico conosco e nós temos interesse em receber o material genético que eles forneceram. Também contamos com a possibilidade de doação de animais para usos como equoterapia na UFRRJ”. Alexandre Werneck, presidente do Núcleo Rio Sul, afirma que o evento também possibilitou ligação do meio universitário com o mercado de trabalho que, por sua vez, se conecta com a ciência: “Essa conexão, mais do que oportuna, é obrigatória”.
A exposição especializada funciona como uma seleção. Os animais que se destacam são classificados para a mostra nacional. Quando um animal ganha uma premiação nacional, ele fica valorizado – e também seus descendentes e seu material genético. O preço de um campeão pode alcançar cifras milionárias. Durante o evento, os criadores doaram material genético de seus animais para a Rural, como embriões, óvulos e sêmen. Essa doação será usada para melhoramento genético do plantel do IZ.
O evento fez parte do Projeto de Restauração da Raça Mangalarga Marchador da Linhagem IZ Km 47. A professora de Equinocultura Fernanda Godoi falou com entusiasmo sobre a produção de Mangalarga na Universidade:
“Nós temos a famosa linhagem do IZ 47, que representou a Rural por muitos anos. Quando a gente saía daqui e falava do IZ 47, todo mundo conhecia”.
A docente conta que o mais interessante da exposição foi a apresentação dos animais da Rural: “Nós levamos cinco animais a ideia era justamente fazer uma apresentação, porque ainda não temos condições de concorrer com um haras, por enquanto”.
Vários criatórios do Rio de Janeiro possuem o sangue da tropa do IZ e o evento veio para resgatar a tradição da UFRRJ na criação desses animais. A professora afirma que houve um período em que isso se perdeu e agora a principal dificuldade para a criação de cavalos da raça é a financeira. “A gente precisaria reformar os pastos e cercas, fazer piquetes e um pastejo rotacionado, o que seria excelente, pois diminuiria o consumo de ração”, disse Godoi.
Potencial econômico da criação
O Presidente do Núcleo Rio Sul, Alexandre Werneck, diz que a equinocultura deixou de ser apenas um hobby para se transformar em um mercado em expansão. De acordo com o IBGE, no Brasil o Produto Interno Bruto (PIB) da produção de equinos está acima da carne suína, do algodão, feijão, laranja e trigo – perdendo apenas para soja, carne bovina, cana de açúcar, milho leite e café.
A indústria do cavalo cresceu quase 12% ao ano nos últimos dez anos. Em 2006 eram 7,5 bilhões de faturamento bruto anual e em 2015 atingiu 16 bilhões de reais, de acordo com dados da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO). Segundo a Associação Brasileira dos Criadores do Cavalo Mangalarga Marchador, entre 2016 e 2017 os negócios cresceram 10,2%. Não existe nenhum setor formal da economia brasileira que teve crescimento econômico como o setor de equinos.
Ainda referente à economia, a criação de cavalo Mangalarga Marchador gera mais empregos que o setor automobilístico. Enquanto o mercado do Mangalarga emprega 3 milhões de pessoas (que inclui vários setores, desde o peão até o veterinário), o setor automobilístico gerou, no ano passado, 1,5 milhões de empregos, de acordo com os dados da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea).
Sobre a expressividade econômica da produção de cavalos, a professora Fernanda Godoi afirma: “O mercado do cavalo não é só o cavalo. O que movimenta é tudo que envolve o animal”. Em relação à criação de empregos, diversos setores estão em jogo. “Há pessoas que trabalham diretamente com o manejo dos animais, os tratadores, os que montam. Se for falar de esporte e hípica, incluímos cavaleiros, treinadores, o pessoal que faz a ração, os medicamentos, os materiais de prevenção, sela, bota, roupa”, explica a docente.
Alexandre Werneck também acredita que a equinocultura é uma expressão relevante tanto em termos de economia quanto de cultura, porque a criação de cavalos faz parte da nossa história e tradição: “É uma realidade econômica de geração de emprego e de assentar o homem ao campo.”
Texto e foto: Gabriela Venâncio.
Reportagem publicada na página 6, “Resgate da tradição”, da edição 08/2018 do Rural Semanal.