Texto: Thaís Melo*
Em um momento onde os usos medicinais da Cannabis estão em debate no país, aumenta o número de pessoas que defendem da liberação da erva para usos farmacêuticos. Em julho, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) realizou uma audiência pública para debater a legalização de medicamentos à base de Cannabis. Recentemente, o Ministério da Saúde recomendou que a regulamentação seja restrita apenas para casos graves de epilepsia refratária. No meio de toda essa discussão sobre o tema, aconteceu no dia 22 de agosto na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) a palestra “Cannabis medicinal: manejo, fármacos e legislação”. O evento ocorreu no auditório Gustavo Dutra das 13h às 17h.
A abertura da palestra foi feita por Jorge Antônio da Silva, diretor do Senge- RJ, e cordenador adjunto do Fórum Estadual dos Engenheiros Agrônomos (FEEA) Ele destacou que a discussão sobre a Cannabis medicinal é independente das questões que envolvem a Cannabis recreativa. Ele também afirmou que a normatização dos empregos da planta vai muito além do âmbito farmacêutico. “Neste momento nós estamos muito focados na regulamentação da Cannabis no país, e isso envolve a atuação de diferentes profissionais. É uma questão tecnológica, social, econômica e política”, disse o ex- aluno da Rural.
O Pró-reitor de extensão Roberto Lelis falou sobre a universidade como espaço aberto para debater diversos temas. “A Universidade tem a obrigação de dar espaço de discussão a qualquer tema. É uma questão de política pública e nós trabalhamos muito o desenvolvimento de tecnologias que visam o desenvolvimento social”, ressaltou o professor.
O primeiro palestrante foi o pesquisador Dennis Zsolt Santos, do Instituto Vital Brasil, que falou sobre como vai funcionar a produção de Cannabis para o uso medicinal. Não será permitida a venda da planta para pessoas físicas. Apenas pessoas jurídicas poderão dar entrada no pedido de autorização para o cultivo. “Não terá venda avulsa, a venda será apenas para fabricantes autorizados ou para instituições de pesquisa.” A permissão será concedida pela Anvisa, único órgão autorizado a regular plantas psicotrópicas no Brasil. Dennis Santos também destacou que as plantas serão cultivadas da forma mais viável para a produção em larga escala.
As aplicações farmacêuticas da Cannabis foram explicadas pelo professor Douglas Siqueira, do Departamento de Ciências Farmacêuticas da UFRRJ. Segundo ele, a planta é utilizada há mais de 12 mil anos para fazer cordas, devido à resistência de suas fibras. A erva também era utilizada para o tratamento de dor de ouvido e de dente pelos povos antigos em lugares como China e Egito. “Existem relatos da Cannabis sendo utilizada no tratamento da epilepsia cerca de 800 anos a.c.” explicou o palestrante. “A Cannabis é muito mais do que uma produtora de THC (Tetrahidrocanabinol) e de CBD (Canabidiol), é uma espécie medicinal”, ressaltou Douglas Siqueira.
O professor Higino Marcos Lopes, do Departamento de Fitotecnia da UFRRJ, falou sobre outros usos da Cannabis e o cultivo nos Estados Unidos. De acordo com ele, a Cannabis pode ser usada na produção de fibras e na produção de grãos. O professor também dissertou como diversos fatores alteram o qualidade do CBD presentes na planta. “Manejo, luminosidade, cultivo, temperatura, podas, umidade etc. Todos esses fatores vão atuar lá na frente na qualidade do CBD”, explicou.
Após a palestra, Ingrid Trancoso da Silva, doutoranda na área de Produção Vegetal na Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (UENF), foi convidada a se juntar aos demais especialistas, para responder às dúvidas dos presentes sobre o tema.
Conhecendo a Cannabis
A Cannabis é um gênero de angiospermas que inclui três variedades (espécies) diferentes: Cannabis Sativa, Cannabis Indica e Cannabis Ruderalis. Sendo as duas primeiras as principais. A Sativa se originou em regiões equatoriais vinda de países como Jamaica e México. Já a Indica provém de países como Afeganistão e Índia. Por serem originárias de regiões diferentes os cuidados com cada espécie também são distintos.
Popularmente conhecida como maconha, a Cannabis usada para fins recreativos é proibida na país, mas ela pode ser utilizada para fins medicinais. O seu uso como medicamento é datado de 2700 a.C., mesmo assim, ainda hoje o uso medicinal da planta é um tabu. Por conta da polêmica em torno do tema, o debate a respeito da regulamentação parece longe de ter um fim. O Ministério da Saúde quer autorizar a utilização de apenas um ativo da Cannabis e para somente uma doença, limitando assim os usos da planta para fins farmacêuticos. Com isso mais pessoas que sofrem de outras doenças terão que entrar na justiça para conseguir o direito de usar remédios à base de Cannabis em seus tratamentos. Além disso, com a regulamentação apenas do Cannabidiol, os outros canabinoides presentes na planta que talvez possam ser úteis para a indústria farmacêutica continuarão a ser proibidos.
Mais de 480 substâncias são reconhecidas na Cannabis, além de mais de 100 diferentes canabinoides. Ou seja, substâncias químicas que atuam em receptores. A planta tem propriedades anestésicas, pode ser usada no tratamento da epilepsia por diminuir o número de convulsões dos pacientes. Ela também pode ser aproveitada na produção de cosméticos, no tratamento de dores crônicas e para diversas outras finalidades.
(*) Comunicação Proext
Clique aqui para ler uma matéria sobre o desejo da Anvisa de legalizar medicamentos a base de Cannabis.
Clique aqui para ler a matéria sobre o posicionamento do Ministério da Saúde.