Transformar vidas é uma das missões mais importantes da Universidade. E isto é feito aqui na Rural através das três ferramentas mais importantes que ela tem: o ensino, a pesquisa e a extensão. No Acordo de Parceria (PD&I n° 3/2022) assinado na última sexta-feira (4/11) foi possível unir as três áreas, o que eleva ao máximo o seu potencial de transformação. O projeto, portanto, tem como objetivo geral criar um programa que vai unir seu tripé à inovação tecnológica, a partir do estabelecimento, no câmpus Seropédica, de uma usina geradora de três elementos: biogás, energia elétrica e biofertilizantes, oriundos do tratamento de 120 toneladas/dia de resíduos agroindustriais, vindos principalmente da Central de Abastecimento (Ceasa/RJ).
Numa parceria público-privada inédita, a Rural é parceira do Instituto Estatístico para o Desenvolvimento Tecnológico do Abastecimento de Hortifrutigranjeiros (Datahorti), criado por diversas instituições civis na produção e distribuição de alimentos frescos. E, também, da CHP Brasil, uma organização especialista na oferta de soluções para a redução do custo da energia pelo aumento da eficiência energética, em projetos que usam a cogeração – produção de energia elétrica e térmica através do aproveitamento da dissipação de calor do gerador. Parece complicado, mas não é. Acompanhe a reportagem.
‘Sonho se concretizando’
A ideia nasceu há cerca de quatro anos, quando o engenheiro de segurança do trabalho da Rural, Sérgio Vieira, que foi presidente da Comissão de Resíduos Sólidos da Universidade, começou a pesquisar sobre o tema: “Era um sonho, que está finalmente se concretizando. Mas sabemos que a Universidade ainda tem um longo caminho a percorrer na área da segurança ambiental. Precisamos buscar novos projetos”.
Ao longo dos últimos quatro anos, portanto, houve muito trabalho e pesquisa para que a parceria fosse concretizada. A professora Maria Ivone Martins Barbosa, do Departamento de Tecnologia de Alimentos, do Instituto de Tecnologia (IT), é uma das principais organizadoras da proposta. Segundo ela, para a construção do plano houve o envolvimento de 45 pesquisadores e técnicos da Universidade. “Eles acreditaram e se debruçaram sobre a proposta. Tivemos a cooperação de professores de cinco institutos: Tecnologia, Ciências Exatas, Agronomia, Educação e Química. Foram muitas áreas do conhecimento envolvidas”, explicou a docente. “E temos mais alguns números que mostram a grandiosidade da empreitada: foram nove programas de pós-graduação e 24 laboratórios envolvidos.” Só a partir deste breve relato de Maria Ivone, é possível perceber a grandiosidade da proposta.
Para o vice-presidente do Instituto Datahorti, Lélio Beja, também um dos principais idealizadores da parceria, este é o momento ideal para haver um estímulo à economia circular, o que vai ser propiciado pela execução do projeto. “Isso vai ocorrer porque ele vai gerar não só renda, mas também energia limpa. Tudo a partir de uma parceria público-privada, que vai se beneficiar fortemente dos saberes já adquiridos”, comentou ele.
A ideia apontada por Beja é corroborada pelo presidente do mesmo Instituto, Waldir de Lemos, que pretende divulgá-la e, talvez, replicá-la. “Nós vamos participar de um encontro das centrais de abastecimento de todo o país, daqui a alguns dias. Vai ser em Fortaleza/CE. Vamos contar sobre esta experiência que está se concretizando hoje, porque queremos inspirar outros”, planeja Lemos.
Guilherme Richter é um dos representantes do segundo partícipe desta parceria com a Rural, a empresa CHP Brasil. Segundo ele, conceber e participar deste projeto foi bastante difícil. “Foram praticamente quatro anos de espera, até que tudo estivesse de acordo. O Lélio (Beja, do Instituto Datahorti), o Sérgio (engenheiro da Rural) e o antigo reitor, professor Ricardo Berbara, sempre me estimularam. Mas meus sócios só souberam há pouco tempo. Se eu tivesse falado antes, talvez tivessem me desencorajado. Agradeço a todos que acreditaram, e a Rural acreditou no projeto. Vamos arregaçar as mangas, pois já é uma realidade e vai acontecer”, celebrou Richter. “É um projeto multifacetado, pois resolve vários problemas ao mesmo tempo: a segurança energética, alimentar e social”.
Desenvolvimento local
Durante a cerimônia de assinatura do acordo, estiveram presentes algumas autoridades municipais da cidade de Seropédica, entre eles o secretário de Planejamento e Desenvolvimento Sustentável, Alex Vilela, que mostrou orgulho de ter concluído sua graduação na UFRRJ: “E atualmente sou aluno do mestrado, também, com muita honra. É excelente ver o desenvolvimento da cidade onde moro junto à expansão da Rural. É muito bom saber que existe um comprometimento das duas partes”.
O reitor da Rural, professor Roberto Rodrigues, agradeceu pela oportunidade de executar a parceria, que chegou em momento oportuno. “Foi exatamente na hora em que ratificamos a democracia no nosso país. Acreditamos nas parcerias com os municípios onde estão instalados os nossos câmpus. Precisamos unir forças, cabeças e projetos para o nosso estado. É importante registrar que as parcerias começam com sonhos. Tudo começa com uma primeira reunião”, lembrou ele. “Passamos do momento do obscurantismo para mostrar como a ciência é importante. Nosso papel, como Universidade, é contribuir para o desenvolvimento. E é isso que estamos fazendo agora”.
Além dos três grandes atores envolvidos na execução deste projeto – Rural, Instituto Datahorti e CHP – há mais três que vão participar em fases diversas da proposta: UFRJ, Uerj e Fiocruz.
Registro importante no contexto da assinatura desta parceria é o fato de que ele contribui com alguns dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU), para o cumprimento da Agenda 2030, que é um plano de ação para o planeta seguir rotas mais sustentáveis. Além dos 17 ODS, ela contém 169 metas para a erradicação da pobreza. Na execução desta proposta, portanto, destaca-se a contribuição dos objetivos números 4 (educação de qualidade), 7 (energia limpa e acessível), 9 (indústria, inovação e infraestrutura), 11 (cidades e comunidades sustentáveis), 12 (consumo e produção responsáveis) e 13 (ação contra a mudança global do clima).
Onze eixos
Como um projeto de grande escopo e envolvendo muitos participantes, é natural que os resultados esperados também sejam de larga escala. Entre os principais objetivos a serem atingidos, estão listadas algumas ações em 11 eixos, conforme a seguir:
Eixo 1 – Valorização do resíduo sólido orgânico;
Eixo 2 – Biogás e biofertilizantes;
Eixo 3 – Biorreatores e biodigestores;
Eixo 4 – Indústria 4.0 na cadeia produtiva do biogás;
Eixo 5 – Produção de espécies florestais de mata atlântica utilizando substratos orgânicos, níveis de sombreamento e acionamento automático de irrigação;
Eixo 6 – Biodegradação e mineralização de resíduos agroindustriais por insetos;
Eixo 7 – Estudos de degradação de materiais envolvidos nas etapas de produção do biogás e coprodutos e ecoprodutos cerâmicos;
Eixo 8 – Análise físico-química de bioativos, instrumental e microbiológica de resíduos agroindustriais, alimentos, água e solo;
Eixo 9 – Iniciativas de fortalecimento de catadores e outros atores em situação de vulnerabilidade social e de educação ambiental;
Eixo 10 – Sustentabilidade e planejamento urbano;
Eixo 11 – Divulgação das ações do programa de extensão.
A usina vai ser instalada no câmpus Seropédica e vai ocupar uma área de 38,8 hectares, o que vai gerar uma série de empregos diretos e indiretos. A primeira fase será implementada a partir do licenciamento ambiental do espaço destinado ao projeto, que será iniciada em breve. E entre as várias propostas que compõem a iniciativa estão ainda a criação de um selo de certificação de boas práticas sobre resíduos sólidos e a criação de um mestrado profissional na área de energia.
A professora Maria Ivone Martins Barbosa, uma das idealizadoras da parceria, não tem dúvidas de que a proposta está no caminho certo e conclui: “Estão postos para nós a Agenda 2030 e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, que têm o potencial de alinhar todos os atores da sociedade e de preparar um futuro de desenvolvimento com três pilares: o da sustentabilidade ambiental, o da justiça social e o da inclusão, com atividades economicamente viáveis”.
(Fotografias: Miriam Braz — CCS/UFRRJ)