A entrega dos certificados faz parte dos objetivos centrais do projeto que visa reduzir as penas por meio dos esportes. Ideia que só foi possível ser implementada graças às conexões e iniciativas do professor do Departamento de Letras e Comunicação (ICHS/UFRRJ) Marcos Pasche, coordenador do projeto e futuro pró-reitor adjunto de Extensão para a gestão 2025-2029 na UFRRJ. “Para a universidade pública, esse projeto me parece relevante, sobretudo, por mostrar o que as universidades podem fazer na sociedade. Neste sentido, nós estamos na expectativa de fortalecer esse projeto de modo a disseminá-lo por muitas unidades prisionais do estado do Rio de Janeiro”, afirma o coordenador.
Antes da entrega dos certificados, foi feita uma visita de representantes da UFRRJ e do Coletivo Integraliza, acompanhados pelo diretor do presídio e de parte da equipe da SEAP. A visitação começou pelas principais instalações da unidade, dentre elas, o Colégio Estadual Marli Pereira Viana, que funciona dentro do presídio e oferece desde atividades artísticas até aulas regulares para os internos. O projeto de Remição de Pena pelo Esporte também levou materiais para contribuir com as atividades já desempenhadas pelo colégio.
Em seguida, os visitantes assistiram às apresentações de teatro e música organizadas pelos internos. Ao final das apresentações, os visitantes foram convidados a acompanhar uma partida de futebol, em uma das quadras do local. Após a partida, os certificados foram entregues para os 22 apenados com discursos dos visitantes, que ressaltaram a importância da parceria entre a SEAP e a UFRRJ, junto com o Coletivo Integraliza.
“Este é mais um projeto de inclusão social, de pessoas que não têm a oportunidade de estar vivenciando experiências diferentes e a Universidade tem assumido este papel de trazer para dentro da Universidade ou de levar para fora da Universidade projetos de ciência de qualidade, projetos de pesquisa de qualidade e de ensino de qualidade”, disse o reitor da UFRRJ, professor Roberto Rodrigues.
Projeto inédito
A parceria entre a SEAP, a UFRRJ e o Coletivo Integraliza foi o que deu início ao projeto “Remição da pena pelo Esporte” que entregou os certificados no presídio Elizabeth Sá Rego, no Complexo de Gericinó, em Bangu. O projeto ainda está em fase experimental. Marcos Pasche afirma que a solicitação de que um projeto com a temática de esportes ocorresse dentro do presídio feita pela Federação de Esportes, uma organização de apenados que desempenha diversas atividades de ressocialização dentro do presídio, criada pelos próprios internos, também contribuiu para a concretização das atividades feitas pelo projeto em 2024.
Segundo uma pesquisa conduzida pelo professor e pelo Coletivo Integraliza, não há registro de outro projeto prático de remição de pena que aconteça dentro da própria unidade prisional utilizando a temática dos esportes no estado do Rio de Janeiro, como é o caso do projeto da UFRRJ.
O Coletivo Integraliza foi o responsável pela elaboração da escrita do projeto e da coordenação das duas atividades práticas, ping pong e futebol, que ocorreram em 2024 no presídio. Foi a partir da participação nessas duas atividades que os apenados receberam o certificado de remição pelas mãos do reitor, Roberto Rodrigues.
Para estabelecer uma conexão maior com os 22 apenados, Marcos Pache convidou um escritor, que já foi preso, para discursar e acompanhar a visita. Em seu discurso, Samuel Lourenço incentivou os detentos a estudarem e continuarem participando de atividades de ressocialização e de remição de pena, além de ressaltar a importância de continuar acreditando em uma vida melhor após a prisão. Em entrevista, ele pontua: “Eu escrevi dentro da prisão e, sem saber, os meus livros ajudam a leitura dos meus colegas e no incentivo deles para se tornarem escritores também. É isso que me faz voltar aqui hoje depois de tanta luta. Eu nunca quis voltar na prisão, mas compreendi a importância de estar aqui no momento apoiando não só a UFRRJ, mas sobretudo, a iniciativa de jovens, professores e de profissionais que compreendem que os apenados podem participar de atividades e que, a partir da intervenção acadêmica ou esportiva, pode mudar a realidade de vida deles”, reiterou o escritor Samuel Lourenço.
Na visita também foram estudantes que fazem parte da equipe de remição de pena pelo esporte, como Gabrielle Siqueira. Ela falou sobre a importância do contato da Universidade com os apenados. “Este projeto é bem diferente do que a gente está acostumado. Ele tira um pouco a gente da zona de conforto e é um projeto muito interessante, porque ele trabalha a parte da ressocialização, então a gente consegue trabalhar com eles o interesse pelo esporte e como isso pode mudar a vida deles, trazendo essa parte da humanização, da ressocialização”, finalizou a estudante de Letras da UFRRJ.
A expectativa de Marcos Pasche e dos integrantes do projeto é de que a ação receba mais visibilidade e investimentos para que o mesmo modelo do projeto de remição de pena aplicado no presídio Elizabeth Sá Rego, possa ser reproduzido em outros presídios, ampliado e estruturado.
Texto: Matheus Mendonça, bolsista de Jornalismo da CCS/UFRRJ.
Fotos: Secretaria de Administração Penitenciária e Ressocialização (SEAP)
Edição e publicação: Fernanda Barbosa, jornalista e coordenadora da CCS/UFRRJ.