No dia 3 de setembro, o curso de extensão “O golpe de 2016 e o futuro da democracia no Brasil” encerrou as sessões programadas para os quatro meses de duração. As atividades começaram em 10 de abril, e no total foram 12 encontros realizados em diversos locais da UFRRJ. O curso envolveu professores e especialistas da Rural, de outras universidades e entidades da sociedade civil.
Com organização dos professores Pedro Campos (Departamento de História e Relações Internacionais/ICHS) e Vladimyr Lombardo Jorge (Departamento de Ciências Sociais/ICHS), o curso abordou os impactos do jogo político em áreas como educação, campo jurídico, meios de comunicação, economia, entre outros.
Nesta entrevista, o professor Vladimyr Lombardo Jorge faz um balanço sobre a experiência da UFRRJ, inspirada em um movimento nacional de apoio ao primeiro curso iniciado na Universidade de Brasília.
O planejamento do curso de extensão sobre o golpe envolveu professores de vários cursos na Rural e outras instituições. Quem participou desse projeto?
Vladimyr Lombardo – Participaram professores de sete departamentos do câmpus de Seropédica: Ciências Econômicas, Ciências Jurídicas, Ciências Sociais, Geografia, Pedagogia, Letras e Comunicação Social, História e Relações Internacionais. Ainda tivemos a participação de professores do Departamento de História do Instituto Multidisciplinar e do Programa de Pós-Graduação de Ciências Sociais, em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade (CPDA). Tivemos palestrantes da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), Universidade Federal Fluminense (UFF), Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e Universidade Federal do ABC (UFABC). Por fim, mas não menos importante, tivemos também palestrantes de movimentos sociais e sindicatos.
O curso virou notícia em revista de circulação nacional. Como vocês lidaram com essa repercussão?
V.L. – Diante do contexto de quase democracia que vivemos, imaginávamos que, com a publicidade, sofreríamos alguma ação judicial, ou qualquer outra situação desagradável. Felizmente, até este momento, nada disso ocorreu. Na nossa compreensão, a realização deste curso foi importante para garantir a liberdade de expressão, a existência de múltiplas fontes de informação e, sobretudo, a liberdade cátedra. Pois, na nossa avaliação esses requisitos essenciais à democracia, encontram-se ameaçados quando um ator externo à Universidade interfere no planejamento e realização de uma disciplina ou de um curso.
Como a organização avalia a participação da comunidade universitária na programação?
V.L. – Em todas as 12 sessões previstas, tivemos um número expressivo de ouvintes, uma média de 100 pessoas por palestra. Foi também um público diversificado, composto de docentes, servidores técnico-administrativos, discentes de graduação e pós-graduação e pessoas de fora da Universidade.
Vocês já concluíram o balanço do significado político e pedagógico deste projeto na Universidade?
V.L. – Sim! E, de acordo com nosso balanço, acreditamos que o curso de extensão “O golpe de 2016 e o futuro da democracia no Brasil” conseguiu atingir o seu objetivo, que era nos unir às outras universidades que tomaram iniciativa similar, indicando que temos uma instituição que se caracteriza por ser livre, democrática, autônoma e crítica. Na nossa avaliação, o curso alcançou a sua meta de fomentar a discussão sobre a realidade brasileira atual e debater os nossos problemas a partir do saber acumulado e cultivado na própria universidade. O próximo passo será elaborar o projeto de uma obra derivada do curso. Acreditamos que uma construção coletiva tão instigante como este curso merece um registro e sua transformação em um livro que discuta este período difícil da História política brasileira contemporânea.
Publicado originalmente no Rural Semanal 10/2018