É notório o quanto o período de pandemia da Covid-19 levou a população mundial a ficar mais tempo diante das telas de smartphone acessando a internet, seja para se informar, seja para se entreter. Diante deste fenômeno social de maior utilização dos meios de comunicação digital, muitos pesquisadores passaram a usar as redes sociais, combinando conhecimento científico e linguagem popular, com o objetivo de divulgar a ciência para a grande massa.
A professora Jaqueline Rocha Borges dos Santos, do Departamento de Ciências Farmacêuticas (DCFar) da UFRRJ, foi uma dessas pesquisadoras que tomou a iniciativa de levar o conhecimento farmacêutico para as redes sociais. O resultado desta experiência ela compilou no artigo “Regional drug information center disseminates educational materials related to the COVID-19 pandemic“, publicado na revista Exploratory Research in Clinical and Social Pharmacy.
No trabalho destacou-se a divulgação de materiais educativos sobre a Covid-19 e as possibilidades de tratamentos, incluindo estudos com vacinas, nas redes sociais do Centro Regional de Informação sobre Medicamentos (CRIM) da UFRRJ e nos canais de comunicação da UFRRJ, sobretudo Facebook e Instagram.
Coordenadora do CRIM/UFRRJ, a professora ressalta em seu artigo os números alcançados pela divulgação nas redes sociais, no período de maio a agosto de 2020, mostrando que os seguidores tiveram interesse, especialmente, pelas vacinas contra a Covid-19.
A Coordenadoria de Comunicação Social (CCS/UFRRJ) conversou com a docente para entender um pouco mais dessa parceria Comunicação-Ciência na busca de uma sociedade cientificamente bem informada.
Em sua experiência em divulgação científica nas redes sociais, o que mudou do início da pandemia para o momento atual?
Jaqueline dos Santos: Enxergo que, ao longo da pandemia, houve um aumento de dedicação e empenho à divulgação científica, confirmada pela criação de novos perfis no Instagram, Twitter, Facebook e Youtube de projetos ou grupos de pesquisa de nossa Universidade e de outras. Nesse sentido, os pesquisadores e estudantes buscaram construir materiais com linguagem acessível e didática, com disseminação de informações científicas. O uso das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) foi reconhecido e mais utilizado na pandemia.
Qual foi a maior dificuldade na adaptação do conteúdo do saber científico para a linguagem do público em geral?
Jaqueline dos Santos: O maior desafio foi escrever de maneira clara, acessível e de fácil entendimento, sem modificar o significado real das informações. Uma linguagem extremamente simplista pode modificar a informação transmitida por um dado ou evidência científica; e uma linguagem rebuscada pode dificultar a compreensão para entendimento do leitor/público. Por essa razão, buscamos utilizar de maneira complementar figuras e fluxogramas, para garantir maior compreensão e melhor entendimento. Somado a isso, inserimos em todos os materiais o referencial científico ao tema abordado em cada card ou grupos de cards.
Em que medida as redes sociais têm papel relevante na atualidade para a divulgação científica?
Jaqueline dos Santos: Na atualidade, devido à comunicação maior estabelecida de maneira remota, os canais de comunicação representados por redes sociais são acessados no cotidiano, com maior frequência. Nesse contexto, as redes sociais assumem um espaço também para transmitir informações, de maneira atrativa, com linguagem acessível. Por isso, os espaços em redes sociais preenchidos e ampliados com divulgação científica se tornam uma realidade crescente em tempos de pandemia; de modo que conquistam credibilidade à medida que transmitem informações com referencial científico, representado por artigos com impacto em evidência publicados ou com respaldo a partir de publicações da Organização Pan-americana de Saúde (Opas)/ Organização Mundial da Saúde (OMS) ou Institutos de Pesquisa. Assim, as redes sociais também crescem como espaço para divulgação científica, exercendo impacto positivo ao conhecimento objeto de busca dos usuários de redes sociais.
Quais foram os critérios de escolha dos subtemas sobre covid-19 a serem tratados nos cards?
Jaqueline dos Santos: Os critérios emergem da necessidade apontada por demandas em saúde, especialmente voltadas à pandemia e a relação com possibilidades de tratamentos e vacinas, o uso irracional de medicamentos (como Hidroxicloroquina, Ivermectina) e especialmente para combater inverdades e “fake news” disseminadas em redes sociais e WhatsApp. Curiosamente, dentre os materiais elaborados e divulgados, nota-se, conforme demonstrado no artigo publicado, que houve um interesse maior em saber sobre vacinas aprovadas e as fases de estudo delas; assim como qual é o processo e quanto tempo demora para aprovar uma vacina. Com isso, fica evidente a ansiedade do público em saber sobre a possibilidade de imunização (garantida por vacinas) e tratamento para Covid-19. Assim, os critérios de escolha para os temas nasceram naturalmente, com o cotidiano de rápidas informações, dúvidas e uso irracional de medicamentos para Covid-19, em 2020.
Na formação acadêmica do cientista, atualmente, há preocupação com essa linguagem voltada para o público leigo?
Jaqueline dos Santos: Claramente, não há essa preocupação na formação e trajetória acadêmica do cientista. Embora, a relação entre redes sociais e divulgação científica esteja aqui para acentuar essa necessidade. Por essa razão, a construção do saber científico e como essa construção é transmitida à sociedade, sempre estiveram distantes do dia a dia da população. Assim, nota-se que a influência do senso comum agora incrementada com as “fake news” dificulta o discernimento das pessoas que buscam informações nas redes sociais. Por isso, a incorporação de aproximação de linguagem e a comunicação acessível estabelecida com a população são fundamentais desde a graduação, com ações continuadas e dialogadas em redes sociais ou pessoalmente nas ruas/comunidade. Sem dúvida, a criação de disciplina na graduação e pós-graduação com abordagem em divulgação científica, somado à inclusão nos projetos pedagógicos de cursos garantiria na formação acadêmica esse conhecimento e modelo de prática a ser adotada de modo permanente.
Redes sociais do Centro Regional de Informação sobre Medicamentos (CRIM) da UFRRJ:
Texto: Fernanda Barbosa, Jornalista da CCS/UFRRJ
Imagens: Facebook e Instagram do Centro Regional de Informação sobre Medicamentos (CRIM) da UFRRJ