Professora da UFRRJ publica livro sobre violências contra mulheres e delegacias especializadas no Rio de Janeiro

A obra de Érica Paes analisa produções televisivas e noticiário de jornal para realizar pesquisa editada recentemente como livro

Érica Paes é professora universitária há mais de 20 anos, sendo 12 deles na UFRRJ, onde leciona na área do Direito. Seu livro foi publicado em outubro de 2022, com o título Violências contra Mulheres em uma Delegacia de Mulheres do Rio de Janeiro. O texto tem origem em sua tese de doutorado em História, pós-graduação concluída na Rural, em 2018. O trabalho foi adaptado, para que a linguagem chegue a outros públicos e não fique restrita ao meio acadêmico.

No obra, a professora se aprofunda no conteúdo da série de televisão da Rede Globo Delegacia de Mulheres, que foi ao ar em 1990, quatro anos depois da implementação das Delegacias de Atendimento a Mulheres (DEAMs) no Rio de Janeiro. Além disso, Érica utilizou reportagens do jornal O Globo para investigar como foi a abordagem do veículo em relação à chegada das unidades de segurança especializadas no combate à violência contra as mulheres. A docente revela que a intenção de analisar a série de televisão surgiu a partir do entendimento de que a produção audiovisual da TV Globo apresentou o que são as violências contra as mulheres no Brasil, em um contexto em que a maior parte da sociedade se informava por meio de mídias televisivas.

A autora explica, em sua pesquisa, que as mulheres são hipossuficientes socialmente. O que significa que elas não têm a proteção de instituições de forma apropriada ao lidar com os diferentes tipos de violência. Assim, a professora afirma que as DEAMs deveriam ter maior capacidade para lidar com questões de gênero e que as delegacias especializadas poderiam contar com profissionais de segurança igualmente especializados.

Para Érica Paes, a publicação de um livro com esse tema ainda é necessária em nossa sociedade. A docente ressalta a importância de que conteúdos acerca da violência contra as mulheres cheguem a mais pessoas, o que pode contribuir para mudar a percepção do público sobre o tema. “É para isso que a gente trabalha, para que em algum momento haja a diminuição dos índices de violência que só aumentam”, afirma ela.

Dados de um levantamento realizado pelo Instituto Datafolha nos dias 9 a 13 de janeiro de 2023, a pedido do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, mostram que mais de 18 milhões de mulheres sofreram alguma forma de violência em 2022. “Os índices não mostram melhoras, por mais que tenha um endurecimento legislativo. A gente precisa de uma alteração de consciência social a respeito da posição da mulher na família e na sociedade” avalia a professora.

O processo de produção do livro

A escolha do tema da pesquisa veio por meio de experiências pessoais da docente. Érica Paes diz que sua família, como qualquer outra, tem um histórico de violência contra as mulheres e que viveu próxima de pessoas com marcas dessas agressões em sua infância.

A professora afirma que unir as violências  que ela presenciou ao estudo mais aprofundado sobre gênero ao longo de sua formação a direcionaram para a constituição do tema de sua tese que veio a ser publicada como livro.

A adaptação da tese para o livro foi facilitada pela forma como ela trabalhou o seu texto. Diferentemente de outros escritos acadêmicos, a autora colocou mais de sua escrita pessoal na tese: “Este é, inclusive, o jeito como eu oriento minhas alunas. Escrever em primeira pessoa e se colocar no projeto. Porque as mulheres são muito apagadas na história, então, onde a gente puder aparecer, eu acho importante’’.

A docente compartilha que o processo de escrita da tese foi doloroso por se tratar de um tema delicado. Érica conta que levou cerca de três anos para o texto ficar pronto e somente seis meses para que fosse transformado em livro.

Apesar de ter passado cerca de oito anos desde a análise das produções para a construção da tese de doutorado, ela explica que os números sobre as violências contra as mulheres não param de subir.  “Por isso, há necessidade de seguir o dia 8 de março não só dando flores, mas discutindo as questões que envolvem a presença das mulheres nos vários espaços da sociedade, como no meio acadêmico, familiar e social. Sem parar de falar sobre o assunto’’ finaliza.

Serviço:

Violências contra Mulheres em uma Delegacia de Mulheres do Rio de Janeiro

Autora: Érica Paes

Editora: Dialética

Ano de publicação: 2022

Número de páginas: 256

A tese de doutorado: Violências contra mulheres em uma delegacia de mulheres do Rio de Janeiro: uma análise histórica da hipossuficiência feminina nos anos 1980-1990 está disponível para consulta e download em: https://tede.ufrrj.br/jspui/handle/jspui/4731

Confira também os endereços e os telefones das Delegacias de Atendimento à Mulher (DEAMs) no estado do Rio de Janeiro: http://www.policiacivilrj.net.br/dgpam.php

Texto: Matheus Mendonça (bolsista de Jornalismo na Coordenadoria de Comunicação Social – CCS) sob supervisão da redação da CCS

Foto: Yasmin Alves (bolsista de Jornalismo na Coordenadoria de Comunicação Social – CCS) sob supervisão da redação da CCS

Postado em 13/03/2023 - 12:42 -

Notícias Relacionadas

Doutoranda do CPDA colabora em livro internacional

Professor do IM/UFRRJ lança 2ª edição de obra sobre Estatística

Docentes da UFRRJ publicam livros sobre educação no CEE-RJ

Docente do PPGCAF lança livro “Análise Multivariada Light – sem Matemática”

Docente lança Coleção Turismo, Gestão, Cultura e Hospitalidade