“Memória é dar o exemplo.” Com esta frase, o médico veterinário Jürgen Döbereiner fez referência à resposta que os irmãos Villas-Boas lhe deram quando perguntou como os índios ensinavam, utilizando o legado de gerações passadas. A citação aos renomados indigenistas foi uma das passagens de seu discurso, feito durante a solenidade de inauguração do Centro de Memória Carlos Hubinger Tokarnia, em 6 de julho de 2016, no salão nobre do Projeto Saúde Animal (PSA), Instituto de Veterinária (IV/UFRRJ). Organizado pela docente Marilene de Farias Brito, do Programa de Pós-Graduação em Medicina Veterinária (PPGMV), o espaço homenageia o professor Tokarnia, que faleceu em 2015, também num dia 6 de julho.
O Centro de Memória funciona no setor de Anatomia Patológica do IV, numa sala antes ocupada pelo professor que foi um dos maiores especialistas no estudo dos efeitos das plantas tóxicas em animais de produção no Brasil.
– O acervo que ele deixou está reunido nesse lugar especial. Vamos poder usá-lo para visitação e aulas – explicou a professora Marilene, que trabalhou com Tokarnia por mais de duas décadas. – O espaço fica como referência de gratidão e de saudade por seus quase 60 anos de dedicação ao ensino, pesquisa e extensão. Ele foi embora fisicamente, mas vai ficar como um modelo de mestre, na preservação dessa memória.
Filho de austríacos, Tokarnia nasceu no bairro do Catete, Rio de Janeiro, em 1929. Aos nove anos, foi com a família para a Alemanha, onde cursou o equivalente ao nosso Ensino Básico. Na fazenda de parentes, tomou gosto pelo mundo rural e pelos animais, e iniciou o estudo da Medicina Veterinária na Universidade de Viena, Áustria, em 1947. De volta ao Brasil, ingressou, em 1949, na então Escola Nacional de Veterinária da Universidade Rural do Brasil (hoje Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro), e se formou em 1952. No ano seguinte, ele passou a atuar como veterinário do Ministério da Agricultura, na Seção de Anatomia Patológica do então Instituto de Biologia Animal (IBA), no mesmo prédio em que hoje se encontra o Centro de Memória.
– Cada vez que entrarmos nesse Centro de Memória, vamos sentir a dignidade desse nome – disse a reitora da UFRRJ, professora Ana Dantas, presente na cerimônia de inauguração.
Além da presença do velho amigo Döbereiner (que conheceu Tokarnia em 1953), da professora Marilene e da reitora, a mesa cerimonial teve a participação da diretora do Instituto de Veterinária, professora Miliane Souza; do presidente do Conselho Regional de Medicina Veterinária (CRMV-RJ), Cícero Pitombo; e do chefe do Departamento de Epidemiologia e Saúde Pública da UFRRJ, professor Carlos Matias. Na plateia, alguns familiares do professor Tokarnia, em especial a viúva Maria Luiza, que descerrou a placa de inauguração do Centro.
Para quem deseja conhecer mais sobre o mestre, a coleção do Centro de Memória traz documentos (como o diploma de sua graduação em Medicina Veterinária), fotografias e objetos pessoais, como sua bicicleta – inseparável companheira com a qual ia para o trabalho todos os dias. Ainda está exposto todo o acervo sobre plantas tóxicas e deficiências minerais, além de outras peças do Museu de Patologia, que estarão disponíveis e serão utilizadas em aulas dos cursos de graduação e pós-graduação. A visitação ocorre no horário normal de expediente (segunda à sexta-feira, das 8h às 17h).
O informativo Rural Semanal já publicou textos sobre o professor em duas ocasiões: um perfil na edição 9/2014 e uma homenagem, logo depois sua morte, no número 13/2015.
Texto e fotos: João Henrique Oliveira (CCS/UFRRJ)