Professor do curso de História da UFRRJ, no Departamento de Letras e Ciências Sociais (DLCS/ICHS), Roberto Guedes é um dos autores da coletânea “O Brasil Colonial”, agraciada com o Prêmio Jabuti, a mais tradicional premiação literária do Brasil. Publicada pela editora Civilização e organizada por João Fragoso e Maria Fátima Gouvêa, a obra é fruto de uma pesquisa acadêmica sobre o Antigo Regime nos Trópicos desenvolvida por diferentes historiadores. Compilando artigos científicos que resultaram em capítulos, a coletânea levou o primeiro lugar na categoria “Ciências Humanas” da 57ª edição do Prêmio.
Conversamos com Roberto sobre seu novo projeto e a relevância, para a pesquisa, de conquistar esse renomado título. Roberto também é autor de “Egressos do cativeiro: trabalho, família, aliança e mobilidade social”, editora Porto Feliz, e organizador do livro “África: brasileiros e portugueses (séculos XVI-XIX)”, editora Mauad. Segue a entrevista:
Como surgiu o convite para participar da coletânea “O Brasil Colonial”?
Participo de um grupo de pesquisa há cerca de 15 anos e já realizei vários projetos de pesquisa com os organizadores, que conheciam meu trabalho. Além do diálogo com outros pesquisadores, eu, João Fragoso, a saudosa Fátima Gouvêa, Antônico Jucá, Francisco Cosentino, Thiago Krause e Carla Almeida – todos autores de capítulos na coletânea – temos um histórico de intercâmbio acadêmico entre nós, por meio do grupo de pesquisa Antigo Regime nos Trópicos. Disso tudo, resultou o convite. Foi um trabalho, de fato, coletivo.
Os artigos compilados nesses livros pretendem, justamente, suprir a deficiência de produção literária sobre o período histórico de colonização brasileira para o público universitário. O senhor acha que a obra pode ser um diferencial e o estopim para essa época ser mais valorizada e conhecida pela população?
A obra guarda várias intenções. A questão é a visibilidade das pesquisas na forma de publicação para os públicos acadêmicos e não acadêmicos. Nesse sentido, a obra visou estimular estudos sobre o Brasil do Antigo Regime, lançando mão de uma linguagem acessível e propondo uma síntese de pesquisas sobre um passado que não era um mero apêndice da História Moderna europeia, especialmente da portuguesa. Enfatizamos que o passado brasileiro do Antigo Regime era muito mais do que produzir açúcar e café com mão de obra escrava para o mercado europeu. Daí que emergem personagens ainda pouco conhecidos, a nobreza da terra, os homens de negócios, os alforriados senhores de escravos, entre outros.
Qual a relevância e a importância de ganhar o Prêmio Jabuti, maior premiação literária do Brasil?
Como tem dito João Fragoso, é o reconhecimento do mérito e da excelência da universidade pública brasileira, tendo em vista que a grande maioria dos autores e pesquisadores docentes atua nela. Isso não despreza as contribuições de colegas do exterior, de importantes centros de pesquisa. Ou seja, o prêmio revela, de certo modo, a vitalidade científica e acadêmica da instituição pública, sua internacionalização e seu intercâmbio. Por isso, também fico muito contente pelo fato de que outras obras, frutos de pesquisa acadêmica, tenham recebido o prêmio, como a dos professores Daniel Aarão Reis e Pedro Henrique Campos, também docentes de universidades federais e ambos da área de História.
Qual foi a reação dos organizadores ao saber que tinham conquistado esse título?
Fátima infelizmente não está mais entre nós, mas seus familiares ficaram muito felizes, assim como nós – que fomos alunos e colegas de trabalho dela. João Fragoso ficou muito feliz pelos motivos que expus na resposta anterior. Especialmente, todos nós do grupo de pesquisa Antigo Regime nos Trópicos ficamos contentes.
Por Bruna Somma/CCS