O professor Alexandre Fortes, do Departamento de História do Instituto Multidisciplinar (IM/UFRRJ), foi um dos 33 acadêmicos selecionados pelo Center for Advanced Study on the Behavioral Sciences (CASBS) da Universidade de Stanford (EUA) para atuar como “Fellow” (pesquisador visitante) neste ano. “É uma disputa muito acirrada. Em 70 anos, apenas seis pesquisadores brasileiros tinham sido selecionados até hoje. Do centro saíram 30 ganhadores do prêmio Nobel e 25 do Pulitzer”, observou Fortes, que vai desenvolver suas atividades na instituição estadunidense entre setembro de 2025 e maio de 2026.
O docente concedeu uma breve entrevista à Coordenadoria de Comunicação Social (CCS), na qual deu detalhes sobre o processo seletivo, além de falar sobre seu sentimento com a aprovação e o significado disso para a Universidade.
O que essa aprovação representa para você em termos pessoais e profissionais?
Alexandre Fortes – Fiquei muito feliz com a minha seleção como “fellow” do Center for Advanced Study in the Behavioral Sciences da Stanford University. Vejo essa conquista como o coroamento de várias décadas de dedicação à pesquisa e ao ensino, durante as quais sempre me esforcei para conectar o local, o nacional e o global. Em termos pessoais, é um reconhecimento muito importante e uma recompensa a um esforço muito intenso de busca da internacionalização, especialmente considerando-se a minha origem social, que não me deu acesso a cursos de línguas nem a viagens ao exterior antes que eu ingressasse na pós-graduação em História na Unicamp.
Como foram as etapas da seleção?
A.F. – O CASBS lança um edital no segundo semestre de cada ano. No ano passado a data-limite de inscrição foi 1° de novembro, para a turma que permanecerá no ano letivo entre setembro de 2025 e maio de 2026. Os candidatos precisam enviar um currículo em inglês e duas cartas de recomendação; preencher um formulário eletrônico; e elaborar uma proposta de pesquisa de duas páginas, respondendo a duas questões: 1) Qual o seu trabalho de maior impacto até hoje; 2) Qual o seu plano ou foco para o período da bolsa.
Sabe dizer qual foi o número de candidatos?
A.F. – Eles não divulgam o número total de candidatos, mas instituições similares (como o Instituto de Estudos Avançados de Princeton) têm mais de 500 postulantes por ano. O CASBS seleciona cerca de 30 bolsistas, sendo cinco ou seis professores de Stanford e dez vagas oferecidas em parcerias com instituições asiáticas (Coreia, Taiwan, Hong-Kong). Das demais, a maioria se destina a docentes de universidades dos EUA. O número de estrangeiros que entram pela “livre-concorrência” é muito baixo. Em mais de 70 anos de atividade, apenas seis brasileiros passaram pelo centro (Luiz Costa-Pinto, Roberto Mangabeira Unger, M. Manuela Carneiro da Cunha, Sergio Miceli, João José Reis e Carlos Costa-Ribeiro).
Como funciona exatamente essa função de “fellow”?
A.F. – É difícil traduzir o conceito de “fellow” neste contexto. Basicamente, é um reconhecimento como um par, alguém na mesma posição hierárquica que os demais que já passaram pelo Centro. Nesse sentido, é uma grande honra, considerando-se que 30 CASBS Fellows já foram agraciados com o Prêmio Nobel e 25 com o Prêmio Pulitzer.
Os “fellows” ganham uma bolsa mensal para dedicação exclusiva à pesquisa e à troca de ideias com os demais em eventos regulares do Centro e na convivência diária, incluindo o almoço compartilhado.
Você vai desenvolver algum trabalho acadêmico específico?
A.F. – A aprovação é um desdobramento da publicação, em 2024, do meu livro “The Second World War and the Rise of Mass Nationalism in Brazil: Class, Race, and Citizenship” [“A Segunda Guerra Mundial e a Ascensão do Nacionalismo de Massas no Brasil: Classe, Raça e Cidadania”].
A proposta que eu apresentei ao CASBS foi de uma pesquisa na qual aplicarei o arcabouço teórico-metodológico desenvolvido no livro numa análise comparativa entre Brasil, México e Argentina. Creio que consegui explicar bem como esse estudo é relevante para a reflexão sobre os desafios relativos à transição de hegemonia global e de ressurgência dos nacionalismos autoritários no mundo de hoje. Essa pesquisa vai gerar diversos artigos e capítulos e, daqui a alguns anos, um novo livro.
De que modo sua participação como “fellow” em Stanford pode ser positiva em seu papel como docente/pesquisador da UFRRJ?
A.F. – Sem sombra de dúvida, esse é um dos maiores trunfos acadêmicos internacionais já conquistados pela UFRRJ, ao menos na grande área das Ciências Humanas. Eu acredito que essa experiência vai ajudar a consolidar a nossa Universidade como referência emergente de pesquisas neste campo.
Por João Henrique Oliveira (CCS/UFRRJ)
Fotografia: acervo de Alexandre Fortes