— O perfil e os desafios de uma empresa júnior na UFRRJ —
“Cara, sou um estudante de Farmácia, e agora estou aqui apresentando o conteúdo que aprendi na sala de aula”. Essa foi a sensação de Lynn Rykiel ao entrar na sala de reuniões de uma multinacional para apresentar uma proposta de negócio. Ele é presidente da Núcleo Consultoria, uma das 13 empresas juniores da UFRRJ. “Quando você coloca uma blusa da empresa e vai negociar com um cliente, não está ali como aluno, mas sim como a pessoa que vai impulsionar o negócio”, conta Rykiel. A Núcleo surgiu em 2012, formada pelos cursos de Engenharia Química, Farmácia e Engenharia de Materiais.
O Brasil é o líder mundial na fundação de empresas juniores, com mais de 1,2 mil entidades constituídas. Em abril de 2016, o governo federal sancionou a Lei 13.267, mais conhecida como Lei da Empresa Júnior, considerada pioneira no mundo por estabelecer a criação e a organização dessas organizações nas instituições de ensino superior brasileiras.
Outra iniciativa de apoio a essas experiências é o Movimento Empresa Júnior (MEJ), que regula as políticas no ramo (saiba mais em www.brasiljunior.org.br). O MEJ afirma que seu objetivo é formar pessoas comprometidas e capazes de transformar o Brasil por meio da vivência empresarial. É a oportunidade para muitos aplicarem os conhecimentos obtidos ao longo da formação acadêmica, durante a própria formação.
A maioria das empresas juniores (EJs) funciona em instituições do ensino superior público, sejam federais ou estaduais. Os ruralinos desenvolvem cerca de dez a 20 projetos de consultoria por ano e atendem principalmente pequenas e médias empresas da Baixada Fluminense. A diversidade de cursos de graduação envolvidos nas EJs da UFRRJ torna possível ofertar serviços de produção animal, pesquisas de mercado, rotulagem nutricional, entre outros.
Como as atividades desempenhadas são sem fins lucrativos, por lei, todo o dinheiro é revertido na capacitação dos próprios membros, para melhoria da infraestrutura e das atividades-fim das empresas.
Papel da Universidade e perfil dos membros
Com uma gestão autônoma em relação à Universidade, os estudantes tocam o próprio negócio, assumindo todos os riscos que possam surgir. A dificuldade maior, no entanto, é deixar claro o papel da UFRRJ frente às empresas juniores. O Núcleo e Aceleradora das Empresas Juniores (Naej), instância criada para fomentar a formação de novas EJs, está parado, o que impede, segundo os estudantes, a aproximação do setor público com o privado. Através do Naej, as empresas juniores poderiam organizar seus eventos, palestras e reuniões, como acontece com as atividades de pesquisa e extensão.
“A Universidade e os professores poderiam nos ver sob uma nova ótica. Prestamos serviços muito abaixo do mercado para regularizar empresas, incentivar novos empreendedores e deixar que eles ganhem seu próprio dinheiro. Isso é muito impactante, e poderia ser também para Seropédica e toda região”, desabafa Stephanie Aguiar, estudante do 8º período de Engenharia Química e consultora de marketing da Núcleo.
Outro fator importante que caracteriza as associações juniores é o clima organizacional. Jovens, questionadores e muito motivados, entendem que é preciso levar a sério o ambiente de trabalho. Há espaço para descontrair, mas tudo sob medida. A vivência interpessoal é também muito próxima do que se espera na carreira profissional de qualquer indivíduo.
Gustavo Martinele é diretor de Gestão de Pessoas da Multiconsultoria, por onde já passaram mais de 400 membros ao longo de quase 20 anos, segundo dados da própria empresa. Para o estudante, é preciso selecionar muito bem os indivíduos para a organização, que estejam alinhados aos valores e agreguem valor ao empreendimento. “Como não trabalhamos com recompensas monetárias, tudo que fazemos aqui deve ser algo que faça sentido para o membro. Uma vez que esteja alinhado aos valores, o prazer dessa pessoa estará em realizar projetos na empresa, e assim ir se desenvolvendo”.
O conhecimento passado de uma pessoa para a outra também é característica das EJs. De acordo com Matheus Ferreira, da Vital Jr – consultoria de serviços em pastagens, produção e nutrição animal –, para acompanhar as mudanças do mercado, é preciso correr atrás desse aprendizado: “A busca por treinamentos práticos vem mais fácil quando um membro ensina o outro. Isso é muito, interessante, por mais clichê que pareça, todos se ajudam. Quando não é suficiente, buscamos a ajuda de um professor ou de novos treinamentos mesmo. A gente aprende se virando”.
O que veio de bom com a lei
Estar numa EJ já estruturada é muito diferente de iniciar uma empresa no segmento, como ocorreu em abril deste ano com os estudantes de Medicina Veterinária, um dos cursos mais antigos da UFRRJ. E os membros da OrganoVet Jr estão muito animados, como demonstra a estudante Luana Monteiro: “Fazer parte da primeira equipe é recompensador! Muito bom ver que está saindo do papel e que tudo está se encaixando para começarmos a pegar projetos em 2018. Dá um orgulho muito grande ouvir de uma veterinária já formada da Rural que ouviu falar da nossa empresa!”.
Para Rodrigo Curty, presidente da Xport Jr, que presta serviços de consultoria internacional, funcionar de acordo com o que a lei prescreve garante segurança jurídica ao cliente. “Antes de termos essa garantia, precisávamos fazer um esforço muito maior para passar segurança aos clientes. Essa confiança é crucial para a execução dos projetos. A lei estabelece o ponto de partida para que a gente não tenha tantas desvantagens no mercado, como havia antes”, afirma.
De acordo com dados da Brasil Júnior, confederação que regula todas as ações do MEJ no país, a meta, até o final de 2017, é alcançar o faturamento de 18 milhões de reais, com 10 mil projetos concluídos. Nada mal para quem ainda está na graduação.
Por Matheus Brito, estagiário de jornalismo da Coordenadoria de Comunicação Social (CCS/UFRRJ)