Estudo analisa tipos de cana que precisam de menos nitrogênio para se desenvolverem; descoberta pode reduzir gastos com cultivo
Por Victor Ohana, da Fapur
Já faz algum tempo que a gasolina não é o único foco de produção das empresas de combustível. Apesar de ser a estrela do mercado energético, ela também divide este cenário com um combustível menos agressivo à natureza: o etanol, ou, como é mais conhecido, o álcool. Enquanto a gasolina nasce a partir do petróleo, um mineral poluente e não-renovável, o etanol ganha vida na cana-de-açúcar, uma matéria-prima orgânica. Em busca de baratear a sua produção, o biomédico e professor Marcelo Lima, da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, desenvolveu um estudo que investiga quais variedades de cana custam menos para serem cultivadas. A pesquisa teve colaboração da Fundação de Amparo à Pesquisa da UFRRJ (Fapur) e recebeu investimentos da Petrobrás.
O ponto chave é analisar quais perfis genéticos de cana precisam de menor dose de nitrogênio para se desenvolverem. O nitrogênio é um nutriente primordial para as plantas, mas custa caro para o produtor de cana: de acordo com Lima, só em 2016, o total de gastos na compra de fertilizantes nitrogenados no Brasil alcançou a marca de R$ 1 bilhão. A ideia do projeto, então, foi selecionar alguns perfis para descobrir quais características levam uns a precisarem de menos nitrogênio do que outros. Segundo o professor, conhecer essas características pode ser útil para entender como modificar geneticamente os tipos de cana que demandam alta dose de nitrogênio.
“Certos nutrientes são medidos como micro e macronutrientes. Um macronutriente precisa ser aplicado em alta dosagem para haver desenvolvimento vegetal. O nitrogênio é um macronutriente, e a adubação de nitrogênio é cara. Então, nosso propósito foi encontrar variedades de cana que não fossem tão dependentes de nitrogênio e tivessem uma alta eficiência”, explica o biomédico. “Além disso, estudamos o que leva cada variedade a precisar de menos ou mais nitrogênio. Um próximo passo seria estudar como reproduzir os atributos de uma variedade para aplicar na outra”.
O estudo teve início em 2012 e foi concluído em março deste ano. Com investimento de cerca de R$ 3 milhões da Petrobrás, o projeto fez parte de um plano de expansão da petroleira para a área de biocombustíveis, nome dado aos combustíveis de origem biológica, ou seja, natural e renovável. Lima explica que investir na produção de biocombustíveis, como o etanol, é importante para diminuir a poluição ambiental e diversificar a matriz energética do país, evitando a dependência da gasolina.
“A primeira questão é a ambiental: os biocombustíveis não poluem como a gasolina. Além disso, é necessário diversificar nossa matriz energética. Não podemos depender unicamente do petróleo para produzirmos combustível, temos que encontrar novas fontes. Outro ponto importante é potencializarmos o reaproveitamento das matérias-primas. No caso da cana-de-açúcar, investir em biocombustíveis significa, por exemplo, estudar como é possível fazer etanol a partir do bagaço da planta”, conta ele.
Além de Lima, a agrônoma e professora Sonia Regina também coordenou o projeto. A equipe dos professores contou com um aluno de pós-doutorado, um de iniciação científica e dois técnicos.
Estudo apontou indicativos; próximo passo é comprová-los
A primeira etapa da pesquisa foi selecionar as variedades de cana. O grupo selecionou seis: três que eles já estimavam necessidade de alta dosagem de nitrogênio, e três que eles estimavam menor quantidade. Dois ambientes foram utilizados para analisar essas variedades: a Embrapa Agrobiologia de Seropédica cedeu o campo experimental, e a UFRRJ disponibilizou suas casas de vegetação para estudos em solo e utilizando sistema hidropônico.
A segunda fase foi acompanhar o desenvolvimento dessas plantas, de acordo com as aplicações de nitrogênio. O grupo coletou dados periodicamente, registrando altura, massa fresca, massa seca, entre outras informações. A etapa final foi realizar um estudo comparativo de todos esses dados com as análises genéticas.
“Nós fizemos os estudos comparativos, ou seja, registramos as diferenças e examinamos diversos parâmetros. Assim, conseguimos encontrar indicativos do que pode ou não levar uma variedade a precisar de menos nitrogênio. Agora, nós temos que identificar quais são os genes mais promissores e investigar como eles atuam na planta, para validarmos que observamos”, aponta Lima.
A parceria do professor com a Petrobrás chegou ao fim com a conclusão desta fase do estudo. Agora, Lima pretende buscar novos financiadores para seguir com as próximas etapas da pesquisa.
Fapur ascendeu nos últimos anos, diz professor
A Fapur colaborou com o projeto oferecendo assistência administrativa. Para o pesquisador, a atuação da Fundação melhorou significativamente ao longo dos anos.
“A Fundação é fundamental para garantir o gerenciamento responsável dos recursos financeiros. Eu não sou administrador, nem contador, eu sou professor de bioquímica. Então, o papel da Fundação é essencial para auxiliar que o projeto aconteça. Nesse contexto, a Fapur melhorou muito nos últimos tempos”, comenta Lima.
Publicado originalmente em http://pesquisarural.fapur.org.br