Em um grupo de estudos do Sistema Integrado de Produção Agro-ecológica (Sipa), mais conhecido como Fazendinha do Km 47, pesquisadores e estudantes da UFRRJ e da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) desenvolvem o composto chamado Bokashi, visando sua maior utilização na agricultura orgânica.
O Bokashi (lê-se “bocáxi”) é um composto fermentado bem conhecido, mas ainda não uti-lizado por alguns agricultores. Ele surgiu com o Movimento da Agricultura Natural, no Japão. O método foi idealizado por Mokiti Okada, fundador da Igreja Messiânica Mundial, como alternativa para os problemas decorrentes da prática da agricultura convencional na década de 1930.
O processo começou principalmente com os adeptos da Igreja Messiânica. Nela, há uma filosofia que interpreta a natureza como uma fusão do Sol, da Lua e da Terra – que seriam os elementos fogo, água e solo – e que, por meio de uma “força X”, todas as coisas existiriam.
Consequentemente, o desenvolvimento dos produtos agrícolas também estaria ligado a esse poder. Quanto mais puro for o solo, maior será a sua força para o desenvolvimento das plantas. Com isso, na década de 50, desenvolveu-se o composto Bokashi. O nome em japonês significa “matéria orgânica fermentada”. Essa técnica foi trazida ao Brasil e adaptada pelos imigrantes nipônicos.
Produção
Para a produção do composto, são utilizados produtos farelados de diversos vegetais. Os mais comuns no Brasil são farelos da torta de mamona e do trigo. O que o diferencia de qualquer outro composto mais tradicional é o seu processo de fermentação. Ele não ocorre com qualquer tipo de microrganismo; é realizado por alguns específicos, chamados “eficazes”.
O que chamou a atenção da Rural e do grupo de agricultura orgânica da Embrapa para começarem a trabalhar esse composto foi a alta concentração de nitro-gênio (entre 2,5% e 3,5%).
“Você não pode usar diversos fertilizantes minerais e a adubação nitrogenada. Por mais que usem adubação verde – que é uma técnica também – é necessário estudos de fertilizantes que produzam nitrogênio no âmbito da agricultura orgânica. E o Bokashi tem bastante”, explicou Paulo Lima, doutorando em Fitotecnia da UFRRJ.
Pelo composto ser farelado, acaba por ser um fertilizante de fácil manuseio para o agricultor. Por ter uma concentração de nitrogênio alta, não precisa ser usado em grande quantidade. Além das características favoráveis ao composto, a grande utilização pelos agricultores fluminenses vem crescendo. Isso também foi um fator que chamou a atenção dos pesquisadores.
Objetivo
Hoje, o grupo de estudos de agricultura orgânica tem diversas linhas de pesquisas sobre o Bokashi, como, por exemplo, estudos fitotécnicos na resposta de hortaliças com a aplicação do composto. Além disso, também são feitas pesquisas sobre maneiras alternativas de fazer o fertilizante, utilizando outras fontes para barateá-lo, como os farelos de espécies de leguminosas e capim.
“Essas linhas de pesquisa têm como objetivo baratear o custo do produtor com a mesma eficiência que é o Bokashi de farelo de trigo e de mamona (os tradicionais), sem interferir no custo final”, comentou o doutorando.
Ao compará-lo a outras fontes de nitrogênio muito utilizadas na agricultura orgânica de fertilização, como a “cama de aviário” e o esterco bovino, o Bokashi acaba sendo mais caro. Porém, os outros métodos possuem uma possibilidade maior de contaminar a área de produção. O composto fermentado vem como uma alternativa que traz maior segurança para o agricultor.
Agricultores
Parceria entre UFRRJ, Embrapa Agrobiologia e Empresa de Pesquisa Agropecuária do Estado do Rio de Janeiro (Pesagro-Rio), a Fazendinha é um módulo de aprendizado geral. A principal função, além de desenvolver pesquisas dentro do âmbito da agricultura orgânica e agroecologia, é também receber produtores para capacitações. E os das áreas próximas da Rural estão articulados com o grupo de agricultura orgânica.
Dentro dos projetos que acontecem no grupo de estudos de agricultura orgânica da Embrapa, também há a interface para o produtor. Existem unidades demonstrativas instaladas nas propriedades de alguns, onde são testadas as técnicas que são desenvolvidas na Fazendinha. Uma delas é a utilização de Bokashi na produção agrícola.
O uso do composto tem se tornado cada vez mais frequente na agricultura, principalmente por agricultores familiares, que conseguem melhorar o solo para o cultivo e ainda diminuem, ou até cessam, o uso de fertilizantes químicos e agrotóxicos. Com isso, há um aumento significativo na qualidade dos alimentos e economia de recursos financeiros.
“A ideia é que esses agricultores aprendam a técnica e possam reproduzir em suas propriedades”, concluiu Paulo Lima.
Para mais informações, acesse o site da Fazendinha em: http://institucional.ufrrj.br/fazendinha/
Por Beatriz Rodrigues, bolsista de Jornalismo – CCS