Por João Gabriel Castro (*)
A chegada do verão é, para a maioria dos cariocas, a garantia de finais de semana de lazer nas praias da cidade. Já para as autoridades, o início da estação mais quente é motivo de alerta. Ao longo dos anos, o Rio de Janeiro tem sofrido inúmeros prejuízos causados pelo grande número de chuvas fortes e temporais que atingem todo o estado de dezembro a março. Entre os transtornos, a queda de árvores pela cidade é um dos que mais se destacam. Por onde caem, elas fecham vias, destroem veículos e arrebentam cabos de energia. Em 2019, de acordo com a Secretaria Municipal da Casa Civil, foram registrados 186 casos de queda de árvores pela cidade em apenas um dia de chuva no mês de fevereiro.
Especialistas apontam que, somados, a chuva, o vento forte e a falta de manutenção das árvores são os principais responsáveis pelos casos de desabamento. Mas, estes não são os únicos. Em um estudo de campo feito no município de Campos dos Goytacazes, interior do Rio, Vinicius Siqueira Gazal, professor do Departamento de Entomologia e Fitopatologia da UFRRJ, e sua equipe encontraram uma outra causa: as infestações de cupins.
“Passando rapidamente por algumas árvores [do município de Campos], nós observamos que tinham infestações de cupins em algumas delas. Então, nós resolvemos mensurar isso de uma forma metodológica. Perguntamos: qual a porcentagem dessas árvores estão mal cuidadas e, por consequência, passam a ser infestadas por cupins? E quais os danos dessas infestações?”, explica.
A pesquisa, que contou com a colaboração de pesquisadores e alunos do curso de Agronomia da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (Uenf), percorreu 16 bairros da área urbana de Campos dos Goytacazes. Em cada bairro, foram sorteados cinco quarteirões. Nestes, foram percorridos 200 metros lineares de algumas ruas, passando por todas as árvores presentes nos dois lados da calçada. Além das árvores, três residências e/ou edificações também foram inspecionadas em cada rua.
Através de identificação visual e de uma planilha de diagnóstico de danos, foram analisados: a espécie de cada árvore, se o tronco estava oco ou não, se os galhos estavam podados e se havia infestação de cupim. Já nas residências, foram feitas entrevistas com os moradores e inspeções no recinto para verificar a presença de cupins e, posteriormente, apurar quais eram as espécies deles em laboratório.
Os resultados mostraram que pelo menos uma rua em cada bairro analisado apresentou ocorrência de cupins, nas árvores ou dentro das casas. As espécies nativas mais encontradas foram as Nasutitermes corniger e Microcerotermes strunckii. Além delas, também se destacaram as exóticas Cryptotermes brevis e Coptotermes gestroi, que são espécies classificadas como pragas em áreas urbanas de várias partes do mundo.
O cupim Coptotermes gestroi foi apontado como o principal inimigo de árvores e residências aqui no Brasil. Por ser uma espécie subterrânea, ele ataca a árvore da raiz até a medula sem deixar vestígios externos de infestação. Essa ataque faz com que a árvore fique oca. Uma vez oca, ela não mais resiste à ventania oriunda de tempestades e acaba indo ao chão.
Segundo Vinicius, os resultados também servem de alerta para o impacto da ação humana no meio ambiente. “Quando você ocupa áreas de vegetação natural para construir condomínios e edificações, você está invadindo um habitat e transformando esse ecossistema em instável. E o inseto não vai morrer de fome. Para sobreviver, ele se adapta ao ambiente urbano através de árvores mal cuidadas. Mas, com o desmatamento, essas árvores vão se extinguindo. Então, os materiais de origem celulósica das edificações passam a ser a nova fonte de alimento para os cupins nativos destes locais. […] Se continuarmos assim, não só os cupins, mas outros animais também vão se tornar pragas urbanas”, afirma.
Ainda de acordo com o pesquisador, a ideia é dar continuidade a pesquisa em outras áreas do estado. “A primeira coisa é a gente conhecer o que está atacando, para depois traçar estratégias e alternativas de controle e prevenção desses ataques dessas espécies de cupins. Acredito que essa pesquisa vai se repetir em outras cidades, não vejo muita diferença em relação ao que aconteceu em Campos”, conta.
As conclusões da primeira fase do estudo foram publicados em forma de artigo científico na edição 2019.1 da Revista Colombiana de Entomologia, veículo oficial de divulgação científica da Sociedade Colombiana de Entomologia (Socolen). Através de publicações semestrais, a revista trabalha com contribuições de pesquisadores nacionais e estrangeiros, sócios ou não da Socolen.
(*) Bolsista de jornalismo da Coordenadoria de Comunicação Social (CCS/UFRRJ)
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