Por Aristóteles Berino, professor do IM e do PPGEduc/UFRRJ
Chamam a atenção as críticas que o atual governo tem dirigido a Paulo Freire. Tanto o atual ministro da Educação quanto o anterior já se posicionaram publicamente contra o seu legado. O clã Bolsonaro também. Trata-se de uma verdadeira campanha contra o status de grande educador adquirido por Paulo Freire.
O Programa Escola Sem Partido participa desse esforço. Até as manifestações que culminaram com o golpe que afastou a presidenta Dilma Rousseff foram ocasiões para condená-lo. São ataques com características bem definidas, realizados por personagens e grupos que se encontram no espectro político da extrema direita. Principalmente, não são críticas orientadas
pelo adequado conhecimento da obra e referidas à sua concreta trajetória de educador. O que fazem são investidas sem qualquer preocupação em demonstrar de forma lúcida por que Paulo Freire é hostilizado. O que assistimos é uma ofensiva cega, odiosa até.
O reconhecimento adquirido por Paulo Freire é verdadeiramente internacional e sua importância para a pedagogia contemporânea é inconteste. Não significa que a sua obra não deva ser discutida e criticada também. Como qualquer pensador, ele está sujeito ao reexame do seu significado. No entanto, o que assistimos é uma tentativa de desmoralizar Freire, atacá-lo de um modo vil e vulgar.
A questão para todos os que se interessam pela sua obra é perguntar e debater publicamente: Por que toda essa campanha desprezível contra ele agora? Também no contexto que culminou com o golpe militar que afastou João Goulart da presidência, quando Paulo Freire assumia a coordenação do Programa Nacional de Alfabetização, ele foi perseguido e até preso, em 1964. Precisou exilar-se.
Depois de uma notável carreira atuando em vários países em diferentes continentes durante 16 anos, retorna ao Brasil com a chamada redemocratização, em 1980. Foi, então, secretário municipal de Educação (1989-1991) de Luiza Erundina e lecionou na universidade. Até nos deixar, em 1997, seguiu ativo e influente.
Entramos no século XXI com um formidável legado para explorar, entre suas inúmeras obras e tantos registros sobre seu trabalho como educador em diferentes lugares do planeta. Portanto, a nova perseguição é o que precisamos entender agora. A fúria dos seus perseguidores é a de condená-lo a um exílio definitivo. Por quê? Precisamos nos debruçar e construir respostas para isso. Não se trata de uma curiosidade intelectual. O que está em jogo é a educação brasileira.
Devido ao espaço restrito do artigo, gostaria de indicar apenas duas pistas. Primeira: A nova direita populista e os segmentos políticos que desejam sacrificar a educação pública em favor de interesses privados encontram em Paulo Freire uma presença que precisa ser vencida. Segunda: As novas técnicas de poder do neoliberalismo são avessas à conscientização freiriana. O chamado Método Paulo Freire é um modelo que entra em rota de colisão com as práticas psicopolíticas que objetivam a viva colaboração do indivíduo na negação da sua própria liberdade.
Artigo publicado na seção Opinião do Rural Semanal 04/2019.
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