“Eu fui criada imersa na natureza, eu incido nisso e eu sou isso. Então, quando a gente olha para a natureza e se vê, a perspectiva muda. As populações minoritárias, como as indígenas e negras, estão o tempo todo em contato com a natureza e o racismo ambiental os afeta em cheio.” A fala é de Maria Clara Salvador, pesquisadora da Visão Coop, um coletivo que tem objetivo de apoiar a organização de redes de cooperação na Baixada Fluminense do Rio de Janeiro. Ela estava presente na primeira palestra do dia no Jardim Botânico. O espaço foi aberto para receber o “Movimento Global da Juventude pela Água”, um dos maiores eventos sobre água e juventude no Brasil e na América do Sul, promovido nacionalmente pelas Águas Resilientes, organização credenciada pela ONU para a Conferência das Águas, evento que será realizado entre os dias 22 e 24 de março, em Nova York. O sábado, então, foi dedicado a discutir projetos que contribuem e pensam a água como direito básico da população, sobretudo periférica.
Ao todo, foram seis eventos em todo mundo, apoiado pelo Secretariado Internacional pela água (International Secretariat for Water), Águas Solidárias da Europa (Solidarity Water Europe) e pelos governos suíço e holandês.
O graduando em Engenharia Florestal pela UFRRJ Erley Bisco é fundador do Águas Resilientes. Ele explicou o motivo pelo qual o Jardim Botânico foi escolhido como sede do evento: “principalmente, porque a Rural está inserida na Baixada Fluminense, que é um local bastante vulnerável em se tratando de saneamento básico. Realizá-lo aqui significa fazer com que a população também se questione sobre essas diferentes realidades. Estamos em um lugar em que as pessoas precisam ter acesso a esse direito, que é um condicionante quando falamos sobre mudança climática. Tudo isso se relaciona com questões socioeconômicas, de saúde e de gênero”.
O evento, que também ocorreu de forma remota, contou com diversos convidados, cada um contribuindo com perspectivas e frentes de atuação distintas. Entre eles estavam Ághata Tommasi, coordenadora na Secretaria de Estado do Ambiente e Sustentabilidade (Seas); Rodrigo Belli, CEO e co- fundador da Água Camelo, uma startup de impacto socioambiental, que trabalha para garantir acesso de pessoas em vulnerabilidade social à água tratada e de qualidade; Vinícius Lopes, coordenador do Cocôzap, um projeto de participação coletiva para mapeamento de problemas de saneamento básico presente no Complexo de favelas da Maré, entre outros.
Ao longo do dia, foram propostos painéis e oficinas, cujos temas trataram da importância e da contribuição da juventude para a resolução dos desafios no acesso à água. O pró-reitor adjunto de Pesquisa e Pós-Graduação da UFRRJ, professor Leandro Dias de Oliveira, também participou do encontro e citou o historiador Eric Hobsbawm, ao dizer que a grande invenção política do século 20 foi o fortalecimento do papel da juventude na sociedade. “O último século deixou como herança para as décadas seguintes o fortalecimento das ações das populações jovens e a mobilização estudantil. Quando estamos falando sobre questões como a água, estamos pensando no futuro e o futuro precisa ser pensado justamente por aqueles que têm as condições de alterá-lo, de transformá-lo e de melhorá-lo” concluiu ele.
Texto e fotos: Nicole Lopes e Rafael Gutierrez (bolsistas de Jornalismo da CCS)
Revisão e edição: equipe da Coordenadoria de Comunicação Social (CCS /UFRRJ)
Veja aqui algumas das ações desenvolvidas ao longo do evento.