Nesta sexta-feira, 25 de julho, comemora-se o Dia Mundial da Agricultura Familiar. A data foi instituída pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), agência especializada da ONU que trabalha para combater a fome e promover a segurança alimentar em todo o mundo.
A agricultura familiar no Brasil inclui agricultores familiares, assentados da reforma agrária, silvicultores, aquicultores, extrativistas, pescadores artesanais, indígenas e integrantes de comunidades remanescentes de quilombos rurais e de demais povos e comunidades tradicionais – que atendam aos requisitos previstos no art. 3º da Lei nº 11.326, de 24 de julho de 2006 – bem como as suas organizações cooperativas e outras organizações formalmente constituídas. Essa lei foi regulamentada pelo Decreto nº 9.064/2017, posteriormente modificado pelo Decreto nº 10.688, de 26 de abril de 2021, que instituiu o Cadastro Nacional da Agricultura Familiar (CAF).
A UFRRJ aborda a agricultura familiar através do setor acadêmico – com os cursos de Agronomia, Licenciatura em Ciências Agrícolas (Lica) e Licenciatura em Educação do Campo (LEC) – além do Programa de Fortalecimento da Agricultura Familiar, que inclui ações como a Feira da Agricultura Familiar (FAF) e o Programa de Aquisição de Alimentos.
A Feira de Agricultura Familiar, mais conhecida como Feirinha, foi inaugurada em 2016 e funciona no Pavilhão Central, câmpus Seropédica, às quartas-feiras, das 8h às 13h (retornará depois do recesso acadêmico, em 13/8). A feira conta com cerca de 20 feirantes (entre agricultores familiares e microempreendedores locais) – produtores que vendem seus produtos em Seropédica e no câmpus de Nova Iguaçu às terças feiras, das 9h às 14h (lá as atividades retornam em 12/8).
Abaixo, reproduzimos os depoimentos das produtoras agrícolas familiares Viviane de Souza Brito e Alessandra Rosa Morie. Ambas também são estudantes da UFRRJ – Viviane cursa Agronomia e Alessandra, LEC.
Por Viviane Souza
Meu nome é Viviane de Brito Souza, tenho 34 anos e nasci em Seropédica. Entrei para o curso de Agronomia, na UFRRJ, em 2023. Tenho dois filhos: Bernardo, de seis anos, e Luiza, de três meses. Sempre lidei com a terra.
Mas passei a me dedicar, nos últimos dez anos, com o meu pai, José da Silva e Souza. Ele sempre foi produtor rural. Vendíamos na rua a nossa produção de hortaliças, legumes e frutas. A partir de setembro de 2016, quando a Feirinha começou, passamos a comercializar nossos produtos na Universidade Rural.
A agricultura familiar significa muito para mim. É mais contato e tempo com a minha família – principalmente com o meu pai, pessoa que valorizo muito.
Cada momento é importante. Ele me ensina muito. Nossa roça é um sítio em Santa Sofia, bairro de Seropédica. Na lida, no cultivo de nossos produtos, temos uma troca de saberes e ele me ensina demais.
Quando terminar a graduação, espero melhorar ainda mais o que já trabalho aqui no sítio, e também prestar consultoria sobre produção agroecológica.
Gosto muito de viver o presente. Quero criar bem minhas crianças, encaminhá-las para o futuro mostrando-lhes o quanto é importante valorizar o nosso trabalho, mão-de-obra e os vínculos familiares e profissionais.
Desejo ser uma excelente profissional e mãe. Espero sempre fazer o melhor para aqueles que estão próximos.
Por Alessandra Morie
Sou Alessandra Rosa Morie, tenho 50 anos e nasci em Marechal Hermes, Rio de Janeiro. Entrei no curso Licenciatura em Educação do Campo na UFRRJ em 2023. Trabalho com agricultura familiar.
Minha história começa com a vinda dos meus avós do Japão para o Brasil, em 1947, após as explosões das bombas de Hiroshima e Nagasaki. Onde eles moravam só restou devastação, morte, fome e sede, devido à contaminação da radiação das bombas atômicas que transformaram tudo em um cemitério de contaminação, deixando um rastro imenso de destruição e milhares de órfãos e famílias destruídas.
Desembarcaram inicialmente no Porto de Santos, em São Paulo. Solteiros, ficaram alguns anos trabalhando no mesmo local, inicialmente sem se conhecerem. Depois se conheceram e casaram, tendo o primeiro filho.
Depois conseguiram comprar terras em Itaipava, em Petrópolis/RJ, e se mudaram. Iniciaram lavouras de legumes e verduras – o trabalho deles no Japão. O primogênito morreu em Itaipava, onde tiveram mais cinco filhos. Eles foram crescendo e ajudando na lavoura. Posteriormente, tomaram rumos profissionais diversos (nenhum permaneceu inicialmente como produtor na lavoura).
Depois de se aposentar, meu pai comprou uma área de terra e recomeçou a produção de lavoura familiar. Eu, já com os meus 18 anos, morava com ele e trabalhava em uma escola Municipal como auxiliar administrativa. Em minhas horas vagas ajudava na produção das hortaliças.
Eu e minha família trabalhamos na agricultura familiar desde 2000. Em 2017 nos juntamos à Associação de Agricultores Biológicos do Estado do Rio de Janeiro (Abio RJ) e fomos certificados como produtores orgânicos.
Somos em quatro pessoas. Eu, marido e filhos. Conseguimos, por meio da agricultura familiar, primeiramente produzir boa parte de nossa alimentação; todo excedente vendemos na feira da roça, a qual somos associados. Ela é realizada na Praça Rui Barbosa, em Queimados/RJ, todas quartas e sextas-feiras (exceto feriados).
Conseguimos, principalmente, trazer segurança e qualidade alimentar para nossa família e nossos amigos fregueses.
A agricultura familiar e orgânica é gratificante, mas também sacrificante nas épocas de seca, estiagem das chuvas, incêndios criminosos e enchentes. Pois o pequeno agricultor familiar não tem incentivo público ou político. Faltam programas de apoio financeiro quando sua produção se perde devido à seca, incêndios ou enchentes. Não temos apoio da Secretaria de Agricultura do município de Queimados – como trator para trabalhar a terra, sementes e insumos agrícolas.
Fiquei 31 anos afastada dos estudos. No curso de Licenciatura em Educação do Campo, foi bem diferente a realidade de voltar a estudar, e em uma graduação, pois é muito distinto do Ensino Médio e tem sido um desafio a cada semestre. Mas é gratificante superar cada desafio e, a cada final de período, ver a grade de disciplinas concluída e ser aprovada em todos os cinco semestres até aqui. É uma vitória imensa! Faltam três semestres. Espero concluir nesse tempo; se não, um pouco mais adiante.
Há um desgaste físico e mental ao tentar conciliar as tarefas domésticas com a produção de alimentos e o estudo. Mas tenho conseguido com a ajuda da minha família.
Tenho dois filhos: um graduado em Licenciatura em Ciências Biológicas na Uerj (atualmente fazendo mestrado lá também); e a minha filha, que está cursando Licenciatura em Matemática no câmpus Nova Iguaçu da UFRRJ. É um desafio imenso para todos, pois é muito gasto com transporte.
Temos uma rede familiar de apoio para dar suporte à produção, vendas e os estudos.
Temos o apoio incondicional dos pais e dos dois filhos. Mas o Alex Sandro, pai e esposo, ainda precisa recorrer ao emprego de carteira assinada para arcar com todas as despesas, pois a produção familiar só cobre 40%. De todas as despesas, precisamos investir em horas particulares de trator, sementes, insumos e ferramentas para continuarmos a nossa produção.
Reportagem e fotografias: Miriam Braz (CCS/UFRRJ)
Fotografias adicionais: acervo FAF/UFRRJ
Revisão e edição: João Henrique Oliveira (CCS/UFRRJ)