A ocupação do espaço urbano, a reconfiguração logística e o papel social da população são temas de pesquisas de professores da Universidade
Por Yago Monteiro, bolsista da Coordenadoria de Comunicação Social (CCS/UFRRJ)
O espaço urbano de Seropédica vive mudanças radicais nos últimos anos. A cidade possuía uma cultura rural, pautada na agricultura familiar há menos de três décadas. Porém, com a elevação de Seropédica a município em 1997, a expansão da Universidade Rural e a instalação do Arco Metropolitano, as construções urbanas, a especulação imobiliária e a instalação de indústrias alteraram a dinâmica socioeconômica da cidade e de outros municípios no entorno.
Seropédica possui mais de 85 mil habitantes, dos quais 82,22% residem em áreas urbanas, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O município está localizado em uma região estratégica no eixo logístico e possui confluência com diversas rodovias importantes, com destaque à rodovia Presidente Dutra, a BR-465, o Arco Metropolitano e a RJ-099.
Nesse contexto, está a Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro com seus trabalhos de ensino, pesquisa e extensão, e a necessidade de criar projetos que visem à população e busquem compreender as mudanças socioculturais que ocorrem na região.
Projetos e relação com as mudanças locais
Um dos projetos que têm integrado ensino e pesquisa é o Programa de Residência Pedagógica, subprojeto de Geografia (câmpus Seropédica). No início de outubro, o Programa organizou no câmpus a mesa redonda “Seropédica: economia, sociedade, desenvolvimento e território”. O evento deu foco à utilização do espaço no município, o impacto das novas construções urbanas, a implementação do Arco Metropolitano e as dinâmicas sociais provocadas por estas mudanças.
A professora Denise de Alcântara, do curso de Arquitetura e Urbanismo (IT), analisou a percepção de estudantes e moradores de Seropédica sobre a paisagem percebida e despercebida da cidade. O projeto é interdisciplinar e ligado ao Grupo de Pesquisa em Transformação de Uso, Ocupação e Desenvolvimento Urbano e Regional (Gedur/UFRRJ), do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Territorial e Políticas Públicas (PPGDT/UFRRJ).
Alcântara observou a relação da cidade com municípios vizinhos e as transformações causadas pela instalação do Arco Metropolitano na natureza e na população. Ela ressalta falhas na legislação e a falta de capacitação técnica como um entrave para o desenvolvimento sustentável. O crescimento da região está vinculado à UFRRJ e as rodovias que a cortam. ‘‘Os percursos sempre foram fundamentais para o desenvolvimento desses territórios’’, explica a professora.
Márcio de Albuquerque Vianna, professor do Departamento de Teoria e Planejamento do Ensino (IE), estuda a cultura agropecuária de Seropédica e a agricultura familiar na região. Vianna avalia o município como um pólo de produção de conhecimento em agropecuária, mas que carece de planejamento, gestão social e transparência. Em relação à agroecologia, ele afirma “Seropédica passa por um processo de desterritorialização e, na cidade, as coisas só funcionam quando a causa é abraçada pelo poder público, o que não acontece com a questão agroecológica”.
Geografia urbana e reconfiguração do espaço
A outra apresentação foi de Leandro Dias de Oliveira, professor do curso de Geografia (IA) e do Programa de Pós-Graduação em Geografia (PPGeo/UFRRJ), e coordenador do Programa de Iniciação à Docência (Pibid) em Geografia. Oliveira estuda a mudança territorial de Seropédica e a reconfiguração do espaço da cidade. Em sua apresentação, discutiu a formação de uma região logístico-industrial no Extremo Oeste Metropolitano Fluminense, onde se insere Seropédica.
A partir da instalação do Arco Metropolitano, o Oeste Metropolitano passa a ser uma área de sincronização econômica, e se tenta criar uma borda industrial de escape às regiões centrais. O professor Leandro de Oliveira analisa que o Arco é um símbolo do desenvolvimento do país, mas, em seu atual estado, também se tornou símbolo do desmoronamento de um modelo desenvolvimentista. Sobre a questão da sustentabilidade, ele observou que são observadas apenas políticas sustentáveis visíveis à população. ‘’Sustentabilidade é o signo do destroçamento do meio ambiente’’, afirma Oliveira.