Iniciada em 2018, iniciativa tem como principal esfera de atuação a Física, área com baixa participação feminina.
Incentivar o interesse de meninas e mulheres por ciência e ajudar a construir uma representatividade feminina mais diversa nas Exatas. São estes os propósitos do projeto de pesquisa e extensão “Meninas do Radium: A Periferia Também Faz Ciência”, contemplado no último edital do Programa de Bolsas Institucionais de Extensão (Biext) da Pró-Reitoria de Extensão (Proext). Iniciada em 2018, a iniciativa tem como principal esfera de atuação a Física, área com uma participação feminina pouco expressiva.
Composto por uma equipe diversa de colaboradores, o Meninas do Radium é dividido em dois núcleos: o ‘protagonista’ e o ‘coadjuvantes’. O primeiro, onde são pensadas e concebidas as ações do projeto, é composto apenas por mulheres alunas da graduação de Física da UFRRJ e da pós-graduação em Matemática da UFRJ e uma enfermeira de nível superior, que atua no campo da saúde mental. Já o segundo, é formado por discentes e docentes da UFRRJ que dão apoio ao núcleo principal, seja através de um suporte técnico ou na participação de discussões pertinentes para a atuação do grupo.
“Nosso projeto tem um diferencial porque pautamos o empoderamento feminino através da ciência, e sempre visando a promoção dos direitos humanos. Seja em escolas, redes sociais ou eventos. Não concebemos dissociar o nosso fazer ciência dos direitos humanos. Nós queremos descolonizar a Física e uma real equidade de gênero, mas com uma pauta feminista associada à essas questões de inclusão de raça e classe porque sem isso não avançaremos, como já diziam Angela Davis e bell hooks”, conta Viviane Morcelle (Departamento de Física), professora responsável.
Na campo da pesquisa, o Meninas do Radium se debruça em estudos sobre a invisibilização das mulheres cientistas ao longo da história e as opressões sofridas por elas, bem como busca entender os estereótipos de gênero e raciais e as demais barreiras impostas às mulheres que explicam a alta desigualdade de gênero nas exatas.
“Essas pesquisam norteiam nossas ações de extensão, que sempre associam a ciência e a promoção dos direitos humanos. Atuamos com um público que vai desde a educação básica até a superior, comunidade externa e espaços não formais como, por exemplo, centros de atenção psico-sociais, onde as pessoas também precisam da gente. Cada ação é pensada de acordo com público atendido”, explica a professora.
Em atuação nas escolas, o projeto realiza atividades didáticas – como palestras, oficinas, grupos de estudo, experimentos dos laboratórios de Física da UFRRJ, minicursos voltados para professoras da educação básica – que destacam as contribuições de cientistas mulheres e não-brancos com o intuito de despertar o interesse das crianças, sobretudo as de periferia, pela área das Ciências Exatas. Além disso, o Meninas do Radium ainda oferece um sistema de apoio psicoemocional para estudantes mulheres que estejam vivenciando alguma situação de opressão ou momento difícil.
Mesmo durante a pandemia do coronavírus, a equipe do Meninas continua em atividade. Através da plataforma Central Extensionista de Dados (CED), o Meninas do Radium ofertou o curso “Física Nuclear Só Para Mulheres” para alunas da graduação da Rural. Já no canal do projeto no Youtube, foram promovidas palestras temáticas com convidadas atuantes na área das Ciências, além de oficinas voltadas para estudantes de licenciatura e professores da educação básica.
Em seu período de atuação remota, a equipe também deu início a produção de conteúdos audiovisuais. Na Semana Nacional de Ciência e Tecnologia (SNCT) 2020, o Meninas do Radium lançou o primeiro vídeo da série “Cientistas: Rebeldes e Insubordinadas”, que denuncia o silenciamento histórico de cientistas mulheres e suas contribuições nas Ciências Exatas.
Para Viviane Morcelle, incentivar a entrada de meninas e a continuidade de seus estudos nas Ciências Exatas é fundamental para a construção de um campo mais plural e inclusivo.
“Historicamente, as ciências são ocupadas por homens brancos abastados, cabendo à mulher o papel do cuidado. Hoje, incentivar essas meninas – principalmente meninas negras, pessoas com decifiência (PCDs), de origem periférica, cis ou trans – é dizer que elas podem ser o que quiserem. Associando isso à promoção dos direitos humanos, teremos uma ciência plural. As ciências exatas só ganham com mulheres diversas em sua raça, origem social e orientação sexual, fazendo que as tecnologias também o sejam e, assim, promovendo uma sociedade onde essas mulheres são reconhecidas como iguais ao homens, pensando numa ciência não racista, não machista, não homofóbica, que também atende a periferia”.
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Por João Gabriel Castro, estagiário de jornalismo da Coordenadoria de Comunicação Social (CCS/UFRRJ).