A celebração oficial da homologação do acordo judicial da área doada para a UFRRJ ocorreu no auditório Aldo Alves Peixoto, do câmpus da Universidade em Campos de Goytacazes. No local, foi organizado um café da manhã com algumas das principais figuras que fizeram parte da história de luta e resistência para manter o local em funcionamento, entre elas, um dos antigos diretores do câmpus e pesquisador Jair Felipe Garcia, que teve participação direta nas negociações do território. A reunião ocorreu na última quarta-feira (03/07) e contou com a participação do reitor da UFRRJ Roberto Rodrigues.
Após a pausa para o café, os participantes se reuniram no auditório para o início dos discursos e agradecimentos. Sentados à mesa principal do local estavam o reitor da UFRRJ, a diretora geral do câmpus Elizabeth Fonseca, o vice-diretor Tamys Luiz Fernandes, o ex-diretor Jair Felipe Garcia e um representante da indústria envolvida no acordo. Em seu discurso, Roberto Rodrigues ressaltou a importância dessa vitória para a Universidade e para os pesquisadores de Campos dos Goytacazes “Hoje é um momento histórico para a Universidade. Com a homologação da terra para a UFRRJ, é gerada a certeza para os nossos pesquisadores de que podemos construir projetos de longo prazo, projetos científicos que vão gerar resultados para a ciência e tecnologia do país e da região, principalmente”, ressaltou.
A emoção tomou conta da solenidade quando o vice-diretor se emocionou em seu discurso sobre a história de luta e resistência do câmpus. Em sua fala, a diretora do câmpus compartilhou do mesmo sentimento de emoção e resistência: “A expectativa é mostrar para a sociedade que agora a Universidade tem um local fixo para pesquisas na região. Todos esses anos de imbróglio judicial levaram as pessoas daqui a ficarem sempre com aquela dúvida sobre se o câmpus permaneceria ou não. Hoje com a resolução dessa questão culminando com a doação da área, a gente garante a permanência do câmpus de Campos dos Goytacazes e podemos alçar maior crescimento e desenvolvimento para o local. Além de poder dar continuidade ao nosso trabalho aqui na região e levar para a sociedade aquilo que é missão da universidade pública”, finalizou Elizabeth Fonseca.
A finalização dos acordos judiciais que efetivou a doação das terras para a UFRRJ estabelece que toda a parte de estrutura do câmpus permaneça com a Universidade e ainda prevê uma área de campo voltada para pesquisas. Com a homologação do território, dos 42 hectares de terra que já fizeram parte da Universidade, 9 hectares continuarão pertencendo à instituição (cerca de ¼ do total).
O evento foi aberto para toda a comunidade universitária, inclusive produtores rurais da região de Campos dos Goytacazes que interagem com as pesquisas e eventos feitos pela Universidade. Atividades que, em sua maioria, são voltadas para a resolução de problemas que esses produtores enfrentam. “É muito importante porque as pesquisas continuam, e isso ajuda muito o desenvolvimento da cana-de-açúcar na região. A região é muito adequada a essa cultura. Então a Universidade tem um papel importantíssimo nas variedades que ela consegue em pesquisas e disponibiliza para os produtores e até para as indústrias”, finalizou um dos produtores rurais da região e entusiasta da Universidade, Chaquib Abilio.
História do câmpus
O motivo do encontro em Campos dos Goytacazes é histórico. Em 1973, uma área estimada em 42 hectares, pertencente a uma empresa privada, foi doada para o Instituto de Açúcar e do Álcool (IAA) para a promoção de pesquisas com cana-de-açúcar. Enquanto as pesquisas fossem mantidas, o território continuaria sendo do instituto.
Fato que mudou em 1990, quando o ex-presidente Fernando Collor de Mello extinguiu o IAA e um representante do instituto devolveu formalmente a área de 42 hectares para a empresa, sob a alegação de que não seriam mais feitas pesquisas no local. No entanto, apesar da extinção, o IAA já se relacionava com as Universidades e outras instituições pelo Brasil, através de pesquisas com a cana. Por isso, junto com a UFRRJ, os pesquisadores e técnicos do extinto IAA fizeram um comodato, espécie de pedido de empréstimo do território do câmpus de Campos de Goytacazes, e conseguiram negociar a permanência no local com a empresa por 10 anos.
Entretanto, 10 anos depois, surgiu a necessidade de renovar o comodato, agora com a empresa sob novas lideranças. “Eles fecharam a usina e resolveram vender os terrenos, não demonstrando interesse no comodato. A UFRRJ iria perder tudo. Foi quando a luta na justiça começou. Ficamos cerca de 20 anos lutando para ficar com o território doado inicialmente. Foi somente com o apoio da comunidade local, de outras universidades e da prefeitura que conseguimos finalizar as negociações com a empresa e ficar com ¼ do terreno”, disse o ex-diretor do câmpus Jair Felipe Garcia.
O ex-diretor, que participou das negociações iniciais para a Universidade manter o território, também afirma que o espaço homologado para o câmpus é suficiente para o desenvolvimento das pesquisas com cana-de-açúcar. “A gente trabalha muito com pesquisa com cana e 9 hectares é o suficiente para fazermos o reinício das pesquisas aqui e depois o trabalho de melhoramento genético de cana que a gente pode fazer nas empresas. Também podemos fazer uma ponte com os produtores “, finalizou.
Entre os presentes também estavam a reitora da Universidade Estadual do Norte Fluminense (UENF) Rosana Rodrigues, a diretora da Universidade Federal Fluminense (UFF) de Campos dos Goytacazes Ana Maria Almeida e ex-diretores do câmpus.
Texto e fotos: Matheus Mendonça, bolsista de Jornalismo da CCS
Edição e publicação: Fernanda Barbosa, jornalista e coordenadora da CCS/UFRRJ