Formar alunos críticos, com experiência em diversas áreas do conhecimento, envolver jovens no ramo da pesquisa e tecnologia e dar retorno à população. Esses são os desafios para os programas de pesquisas em Iniciação Científica espalhados pelo Brasil. É uma experiência que amadurece o indivíduo intelectualmente e não apenas agrega valor ao currículo profissional, mas traz novos horizontes para o próprio mercado de trabalho.
Na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, uma das pesquisas de Iniciação Científica busca determinar o potencial antioxidante de óleos essenciais extraídos de folhas de araçá, goiaba, jamelão, pitanga, grumixama e jambo. Quem a desenvolve é a estudante de Química Larissa Ramos, no Laboratório de Estresse Oxidativo em Microrganismos – Leom, no câmpus Seropédica. Ela e outros colegas do laboratório são orientados pelo professor de Bioquímica Cristiano Riger.
A estudante é bolsista do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (Pibic), do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Na UFRRJ, ao todo, cerca de 190 bolsas são oferecidas pela agência, e outras 110 são institucionais. A bolsa tem duração de doze meses e é a primeira experiência para quem pretende seguir a carreira de professor ou pesquisador. No país, inúmeros projetos estão em andamento e mais de 30 mil bolsistas são contemplados apenas pelo CNPq.
Se a pesquisa realizada por Larissa Ramos apresentar um bom resultado, pode servir, futuramente, para o diagnóstico de câncer, doenças pulmonares, entre outras. Mas, por enquanto, o intuito é apenas determinar a capacidade antioxidante dos óleos. Por se tratar de uma pesquisa básica, os resultados não podem ser considerados conclusivos. “A gente não pode fechar os resultados enquanto não tivermos um padrão definido. É preciso ver o que ocorre dia após dia”, destacou a estudante.
Para o professor Riger, a importância da pesquisa básica é envolver os primeiros passos de uma investigação científica. São os primeiros ensaios para saber se aquele produto realmente pode servir no futuro para ser utilizado pela população. “Até que um produto dessa pesquisa chegue ao mercado ainda vai demorar”, afirmou o orientador do projeto.
A oportunidade para trocar experiências com quem já trabalha na área da pesquisa surge em reuniões, seminários e congressos de pesquisadores. Diversos especialistas do país e do mundo atuam com os mesmos projetos, as mesmas técnicas, e provocam o interesse nos estudantes. Larissa, Cristiano e outras colegas de laboratório estiveram entre os dias 27 e 30 de julho na Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Bioquímica e Biologia Molecular, em Águas de Lindóia/SP. “Nesse evento, aparecem trabalhos interessantes. A gente sempre traz para o nosso laboratório alguma vertente nova, que podemos aplicar em ideias ou técnicas para um futuro projeto. A expectativa dos alunos acaba sendo maior que a minha, já que muitos não foram a nenhum outro congresso”, contou o professor.
O curso de Química e os laboratórios, assim como toda UFRRJ, também sofrem com os cortes de verbas do governo federal. “A gente fica sem dinheiro para comprar o meio de cultura, que é o básico para nós trabalharmos”, revelou Larissa. Para o orientador, mesmo com todas as dificuldades, outro tipo de retorno é mais esperado: “Oferecendo Iniciação Científica, tendo o aluno que fazer relatórios, apresentar seminários, lidar com resultados e programas estatísticos, que normalmente não conheceria no seu curso de graduação, já é muito prazeroso para nós, pesquisadores. É a formação do aluno sendo incluída na pesquisa”, disse ele.
A facilidade em encontrar os materiais coletados, em abundância em todo o Brasil, permitiria que o investimento financeiro fosse baixo, e mais rapidamente seus benefícios para a população encontrados. No entanto, Larissa, que sempre quis fazer algo que causasse algum impacto para a sociedade, entende o significado desse primeiro passo: “É uma pequena contribuição que vai sendo desenvolvida ao longo dos anos. Já é a continuação por mim, e aí virão outras pessoas, e outras, até que uma pessoa feliz consiga trazer isso para nossa realidade”, conclui a estudante.
Por Matheus Brito, bolsista da CCS/UFRRJ.