Um grupo de docentes do Instituto de Ciências Humanas e Sociais (ICHS/UFRRJ) construiu, em parceria com a Casa Fluminense, o Curso de Extensão Políticas Públicas, Desenvolvimento e Direito à Cidade. O curso tem como objetivo capacitar militantes de organizações da sociedade civil em ações e levantamentos específicos de questões urbanas, para produção de Agendas Locais. O projeto foi dividido em três blocos e a primeira etapa foi finalizada em dezembro.
A seleção de participantes foi feita por edital, durante o mês de setembro, e teve como requisito a participação em lutas e organizações sociais. Durante o processo, foi solicitado aos inscritos que escrevessem um memorial que apresentasse os movimentos em que estavam engajados em suas cidades. O projeto soma 53 lideranças dos municípios de Belford Roxo, Duque de Caxias, Mesquita, Nilópolis, Nova Iguaçu, São João de Meriti, São Gonçalo, Volta Redonda, Nova Friburgo, Petrópolis, Teresópolis, Três Rios, Cabo Frio e Campos dos Goytacazes.
Em outro processo, 26 desses inscritos foram selecionados para receber bolsas de extensão, sendo 20 para o papel de mobilizadores e seis para a categoria de organizador de mobilização. Os classificados foram contemplados com uma bolsa acadêmica com a duração de 10 meses.
A professora Flávia Braga Vieira, do Departamento de Ciências Sociais (DCS-ICHS), convidada a coordenar o projeto, disse que observou, já no processo seletivo, que o grupo de inscritos era muito diverso. Pessoas de diferentes gêneros, idades e formações, de diferentes organizações como associações de bairro, grupos ambientalistas, assistência social, cozinha comunitária, entre outros, se inscreveram para participar do curso.
Com isso, foram escolhidos para compor o primeiro bloco de aulas teóricas, na modalidade remota, especialistas da Universidade e de outras instituições da sociedade civil, entre elas a Casa Fluminense. Professores, com experiência em educação popular, discutiram diferentes assuntos de mobilização urbana como saúde, segurança pública, transporte, alimentação e educação. “Vários professores possuem a experiência de cursos de formação com movimentos sociais. Douglas Almeida é pós-doutorando do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais (PPGCS-UFRRJ), e também trabalhou na Casa Fluminense; O Henrique Silveira, que também é da Casa Fluminense; a professora Nalayne Mendonça (DCS-ICHS), que tem bastante experiência em cursos de formação da sociedade civil na área de segurança pública. O professor Igor de Carvalho, docente do Departamento de Educação do Campo (DECMSD-IE), também experiência na área de formação, falou sobre a questão da alimentação.
Flávia Braga ainda ressaltou que a diversidade de participantes tornou a experiência muito rica e interessante. As aulas são acessíveis e com linguagem de fácil compreensão, mas também levantam conhecimentos acadêmicos, de mais complexidade, que são contextualizados pelas experiências pessoais dos mobilizadores. Participativos, sempre que alguma questão mais abstrata era abordada em sala, um dos participantes trazia para a realidade de seu município. “É o encontro entre esses diferentes saberes, o saber acadêmico e os saberes da experiência de quem tá na luta pra fazer uma sociedade melhor” disse a professora.
Mobilização nos municípios
Com o término do bloco teórico no início de dezembro, os mobilizadores e organizadores de mobilização começarão a parte prática do curso, preparando Oficinas de Diagnóstico locais e Oficinas de Agendas Municipais. Esses módulos contarão com dois encontros presenciais, cada, nos municípios, sendo uma expositiva/dialogada e outra prática.
Acompanhados da equipe do projeto, os mobilizadores serão responsáveis por observar o que existe e o que não existe de políticas públicas na região. Elaborar formas para identificar problemas locais e propor planos de mudanças. “Apresentaremos uma metodologia de como é que faz esse levantamento antes. Procurar informações, que nas aulas teóricas já foi aparecendo um pouco. Depois voltaremos para fazer a oficina da agenda propriamente dita, onde é diagnosticado o que se tem e o que que está faltando.” informou a coordenadora Flávia.
A professora afirmou que será importante o potencial de mobilização dos militantes. Nesse módulo, será necessário reunir outras lideranças locais, coletivos e a população geral, para fazer diagnósticos e articular maneiras de promover a defesa de direitos econômicos, sociais, culturais e ambientais. Os moradores são, neste momento, os maiores contribuidores na identificação de demandas e vulnerabilidades fundamentais para a transformação da cidade.
As agendas locais produzidas pelos mobilizadores serão impressas e disponibilizadas digitalmente. O objetivo é dar continuidade e fortalecer o debate público, alimentando cobranças aos governantes, contribuindo na luta por cidades mais justas e democráticas, e no desenvolvimento dos municípios envolvidos. “As agendas em última instância, elas são isso. A gente pode aportar com esse conhecimento da Universidade, mas para que essas pessoas possam seguir multiplicando isso nessas práticas.” concluiu a coordenadora.
Além dos professores da UFRRJ, atuam na equipe seis estudantes bolsistas, que foram selecionados para tarefas específicas: dois mestrandos e um doutorando do PPGCS, que irão levantar dados sobre os municípios e apoiar as oficinas presenciais; e duas estudantes de jornalismo e uma de ciências sociais que auxiliarão nas atividades de divulgar as ações do curso e na produção das agendas.
A Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro reconhece na militância social o potencial de saberes, interação e potencialização de conhecimentos adquiridos em outros ambientes. O curso surge, então, como um potencializador de mobilizadores para questões urbanas de cidades com diferentes atividades econômicas e outros problemas locais, que fogem da lógica das grandes cidades.
Texto: Lara Almeida, estudante de jornalismo da UFRRJ, sob orientação de Alessandra de Carvalho (DLC-ICHS).
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