Na última terça-feira (30/7), em cerimônia realizada no Instituto Zeca Pagodinho (IZP), o Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA) assinou um termo de intenções pela ampliação de hortas comunitárias, em Xerém, distrito de Duque de Caxias (RJ). A localidade sedia o projeto “Formação e Implantação de Unidades Pedagógicas e Solidárias em Agricultura Urbana e Periurbana” realizado pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) por meio de parceria com o IZP, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e a Organização Cidades Sem Fome.
Com a presença do ministro Paulo Teixeira, o objetivo da cerimônia foi formalizar a cooperação das instituições com o projeto da UFRRJ para formação e capacitação em agricultura urbana e periurbana para a comunidade de Xerém. A coordenadora geral do projeto e professora do Departamento de Ciências Econômicas do Instituto Multidisciplinar da UFRRJ, Betty Rocha, explica que, a partir dessa experiência, a ideia é expandir a área de atuação para outros municípios da Baixada Fluminense e, a longo prazo, tornar-se um modelo nacional. “A intenção é trabalhar em parceria com a Embrapa no intuito de fortalecer a produção agroecológica e cada vez mais reforçar a importância da alimentação saudável, da produção de alimentos nos quintais, das hortas comunitárias, do trabalho e das práticas da economia solidária para promover a segurança alimentar”, afirmou.
A cerimônia iniciou com um café da manhã seguido de um passeio pela área rural do Instituto Zeca Pagodinho. Depois de conhecer uma das hortas, os convidados foram para a área em que os discursos dos representantes das instituições parceiras foram feitos . “É um projeto de grande impacto social e hoje é o primeiro passo que está sendo dado aqui no IZP. Para a Universidade é mais um projeto que a gente trabalha envolvendo alunos e alunas que vão desenvolver na prática aquilo que aprendem em sala de aula, é um projeto forte de extensão mas que também envolve a pesquisa e o ensino”, destacou o reitor da UFRRJ, Roberto Rodrigues.
O projeto
Segundo dados da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar (Penssan), quase 3 milhões de pessoas estão em situação de insegurança alimentar no Rio de Janeiro. O olhar que a pesquisa coordenada por Betty Rocha traz é essa perspectiva com foco na população em situação de vulnerabilidade social em Xerém, o maior distrito do município de Duque de Caxias, que compõe a Baixada Fluminense e já possui uma potencialidades para a agricultura urbana e periurbana. De acordo com o projeto da UFRRJ, um grupo de 40 famílias vinculadas ao IZP já tinham algum tipo de cultivo em seus quintais desde o período da pandemia, não apenas para suprir carência alimentar, mas como terapia ocupacional e pelo uso de plantas medicinais.
Pensando nisso, foi firmada a parceria do projeto da Universidade com o Instituto Zeca Pagodinho (IZP), com o apoio do Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA), que descentralizou parte dos seus recursos para que a UFRRJ executasse ações voltadas para o desenvolvimento da agricultura urbana e periurbana na região, por meio de um termo de execução descentralizada (TED). Paulo Teixeira, ministro do MDA, reforçou a importância das parcerias contra a fome no Brasil: “O Zeca Pagodinho, com o IZP presidido pelo Louiz, empresta o seu prestígio para que todo o país possa replicar experiências como essa e em breve período nós consigamos tirar o povo brasileiro do mapa da fome, ter a comida farta na mesa do povo, comida de qualidade, recuperando a cultura alimentar do povo brasileiro”
O projeto, que conta com a participação de discentes e egressos do câmpus Nova Iguaçu da UFRRJ, estipulou quatro metas fundamentais a serem seguidas para que o objetivo do plano de execução do TED seja alcançado. A primeira meta é elaborar um diagnóstico das experiências locais de agricultura urbana e, para tanto, serão feitas oficinas com a comunidade a partir de agosto, em conjunto com a realização das pesquisas de campo. Após esse diagnóstico, inicia a segunda etapa do projeto, com oferta de cursos de formação e capacitação para as famílias que participam do projeto, seguida da implementação de Unidades Pedagógicas e Solidárias de Agricultura Urbana e Periurbana. A última etapa será a divulgação e avaliação dos resultados.
A primeira etapa será implementada junto com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). A instituição também tem um TED junto com o MDA, que objetiva a criação de quintais biodiversos e a criação de abelhas sem ferrão para o cultivo de mel na região. “A expectativa é que a gente consiga através da interação sociedade, estado e organizações científicas superar a situação e condição de vulnerabilidade social e econômica que as pessoas vivem e contribuir para que a fome seja dizimada da nossa realidade, especialmente na Baixada Fluminense. A ideia é que a partir dessa experiência a gente selecione famílias em outros locais que possam replicar o projeto”, explicou a chefe geral da Embrapa Agrobiologia, Cristhiane Amâncio.
Do pagode para ações sociais
O Instituto Zeca Pagodinho (IZP) é uma organização não governamental (ONG) fundada em 1999 pelo cantor e compositor Zeca Pagodinho. Desde então, a instituição promove uma série de cursos e de atividades com cunho cultural e social voltado para a comunidade. Recentemente, o IZP trabalha com foco em ações socioambientais, tendo em vista as características rurais da região de Xerém e o desafio de como fazer o melhor proveito dos recursos presentes ali. Louiz da Silva, presidente do Instituto, diz que iniciativas no sentido ambiental já foram tomadas, mas para que essas ações sejam expandidas e desenvolvidas é necessário ter o apoio de instituições como a UFRRJ. “Para o Instituto, esse projeto é de suma importância porque a gente vai tratar da insegurança alimentar. Vamos lutar contra esse problema muito grave do Brasil. A gente vê o projeto muito potente para entrar nessa briga. Temos uma terra muito grande para poder plantar e parte dessa plantação vai ser escoada para as famílias cadastradas no IZP, outra parte vai para as escolas municipais. Esse projeto se alastrando, como é o desejo do Ministério, pode tirar a gente do mapa da fome de verdade”, reitera Louiz.
A expectativa do IZP é que cerca de 100 famílias sejam impactadas diretamente pelo projeto. O Instituto está em diálogo com a Prefeitura de Duque de Caxias para viabilizar os alimentos cultivados para as escolas municipais da região.
Estiveram presentes na cerimônia o reitor da UFRRJ, Roberto Rodrigues; a coordenadora geral do projeto da UFRRJ, Betty Rocha; a chefe geral da Embrapa Agrobiologia, Cristhiane Amâncio; o ministro do MDA Paulo Teixera; o superintendente do MDA no Rio de Janeiro, Victor Tinoco; a Secretária de Abastecimento, Cooperativismo e Soberania Alimentar, Ana Terra; a coordenadora do Departamento de Assistência Técnica e Extensão Rural do MDA, Regilane Silva; um Integrante da vice-presidência de Ambiente, Atenção e Promoção da Saúde (VPAAPS) da Fiocruz, André Burigo; o presidente da ONG “Cidades sem Fome”, Hans Dieter Temper; representantes do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBIO); representante da Programa das Nações Unidas Para o Meio Ambiente (PNUMA), Jay Van Amstel, além de representantes de instituições envolvidas com o projeto.
Confira na galeria a seguir fotos do evento:
Texto e Fotos: Matheus Mendonça, bolsista de Jornalismo da CCS/UFRRJ.
Edição: Michelle Carneiro, jornalista da CCS/UFRRJ.