Num futuro distópico, um fungo sofre mutação e passa a infectar humanos, transformando-os em zumbis. Este é o resumo da série “The Last of Us” (HBO), adaptação de um jogo eletrônico lançado em 2013. A obra ficcional serviu de mote para alavancar a divulgação científica durante a Semana Rural 2025, já que no game/filme a inspiração partiu de um fungo que realmente existe na natureza: o Cordyceps, que parasita lagartas, formigas e outros insetos. Pensando nisso, os organizadores do estande imersivo “The Fungo of Us” fazem o trocadilho e convidam o público para conhecer os organismos do Reino Fungi, abordando suas aplicações em áreas como alimentação, farmácia e até mesmo construção civil.
Montado no gramado em frente ao Pavilhão Central (P1), o estande já é uma atração por sua própria estrutura, esteticamente inspirada na série. Na manhã de terça-feira (10/6), mesmo antes de liberar a visitação, “The Fungo of Us” já atraía a atenção de quem passava por ali. “Já pode entrar?”, era a pergunta feita por dezenas de curiosos aos organizadores que davam os últimos retoques na mostra.
A exibição é uma das ações do projeto Farmacopeia Mari’ká na Semana Rural, envolvendo pesquisadores da UFRRJ – como os dos institutos de Agronomia (IA) e de Tecnologia (IT). “No estande, trabalhamos todas as questões relacionadas à produção de cogumelos, desde os comestíveis até os usados para fins medicinais”, explicou o coordenador do projeto, professor Ricardo Berbara (IA/UFRRJ), em vídeo postado no Instagram do Farmacopeia. Nos comentários da publicação, frases como “O estande mais incrível da Semana Rural!” e “Simplesmente fantástico!” davam a ideia da receptividade ao “The Fungo of Us”.
No “The Fungo of Us” o Cordyceps não é o único protagonista, pois o elenco tem muitas outras estrelas. “Os fungos formam um mundo diverso, com mais de 100 mil espécies conhecidas”, pontuou a estudante de Agronomia Maria Clara Tuttman, uma das envolvidas na montagem da exposição.
Mas o papel do Cordyceps na vida real é devidamente explicado pelos divulgadores científicos do estande, mostrando que ele realmente é um potencial criador de “zumbis” – só que, para sorte dos humanos, suas vítimas prediletas são as formigas.
De acordo com matéria publicada pelo Instituto Butantan, este fungo (exatamente o da espécie Ophiocordyceps unilateralis) secreta neurotoxinas dentro do organismo desses insetos, comprometendo o funcionamento dos músculos e alterando o comportamento do animal. “Após ser infectada, a formiga fica desnorteada e começa a procurar por locais mais iluminados, e acaba saindo do formigueiro. Nesse processo, ela espalha os esporos do fungo que já tomam o seu corpo”, explicou a biotecnologista Tainah Colombo Gomes, do Laboratório de Desenvolvimento e Inovação do Butantan.
Para além do parasitismo do exemplo acima, a matéria do Butantan mostra ainda que outras espécies do gênero Cordyceps têm qualidades benéficas, como o Cordyceps cicadae, o Cordyceps sinensis e o Cordyceps militaris, usados pela medicina tradicional chinesa.
E a diversidade dos fungos vai muito além da área medicinal e alimentícia. É o que explicou a mestranda em Biotecnologia da UFRRJ Nayhume Santos, que também é uma das integrantes da exposição. Ela ressaltou o potencial do micélio de cogumelo (parte vegetativa do fungo) como biomaterial para blocos ou isolantes na construção civil.
Então, que tal conhecer a exposição “The Fungo of Us”? Fique bem tranquilo, pois não há perigo algum de se tornar um zumbi. O único risco, ao sair de lá, é perceber que foi contagiado pela saudável magia da ciência.
A exposição “The Fungo of Us” vai até domingo (15/6) e fica aberta ao público das 8h30 às 17h, no gramado em frente ao P1, no câmpus Seropédica.
Texto: João Henrique Oliveira (Coordenadoria de Comunicação Social – CCS/UFRRJ)
Foto: Laís Veiga, estagiária da CCS/UFRRJ