Servidor é autor de projeto que auxilia alunos deficientes visuais
Nos últimos anos, o acesso à universidade e às escolas por alunos com deficiência subiu consideravelmente. Essa realidade passa diretamente por leis que garantem o direito destas pessoas ao ingresso. Contudo, manter-se nas instituições ainda é um desafio, justamente pela falta de estrutura. Nesta edição do Rural Semanal, conversamos com Elias dos Santos Silva Junior, servidor da Coordenadoria de Tecnologia da Informação e Comunicação (Cotic) e autor do projeto “A Computação Inovando em Mapas Táteis: Uma Tecnologia Assistiva que inclui Alunos com Deficiência Visual em seu Processo de Ensino e Aprendizagem”. A pesquisa ganhou primeiro lugar na categoria “Software Educativo”, e o terceiro em “Melhor Dissertação”, durante o Congresso Brasileiro de Informática na Educação (CBIE), realizado em outubro, na cidade de Fortaleza/CE.
Orientado pelos professores Ruth Mariani e Sérgio Crespo, do mestrado Profissional em Diversidade e Inclusão da Universidade Federal Fluminense (UFF), Elias adicionou elementos sonoros a um mapa tátil, dispositivo intuitivo capaz de reunir textos em braile, cores e alto relevo, ajudando diretamente na inclusão de deficientes visuais.
Como surgiu seu interesse em abordar temas relacionados a acessibilidade e inclusão?
Elias Silva Junior – Trabalhei na Universidade Veiga de Almeida, na área computacional do câmpus em Cabo Frio, e a gente recebeu a inscrição de um aluno cego. Tivemos dificuldades em incluí-lo nas atividades acadêmicas. Com ajuda de professores, técnicos e minha equipe, conseguimos dar o mínimo de suporte para o estudante. Em 2016, fui aprovado para o mestrado na UFF e lembrei a dificuldade que aquele aluno teve. Então, assumi a responsabilidade de tentar encontrar um problema na área de deficiência visual que pudesse resolver com preceitos computacionais.
Seu trabalho com mapas táteis desenvolveu diretamente o ensino de Geografia. Por que essa área especificamente?
E. S. J – Quando trabalhamos com a deficiência visual, existem estratégias que são comprovadas cientificamente. Uma delas é que devemos desenvolver no aluno a orientação e a mobilidade. E a geografia é a disciplina que desenvolve a questão do deslocamento. Os testes de sua pesquisa no Instituto Benjamin Constant – tradicional instituição de ensino para deficientes visuais – foram um sucesso.
Já consegue ver seu trabalho incorporado ao ensino regular em outras instituições?
E. S. J – Inicialmente, o pesquisador precisa conter as emoções para não contaminar os resultados. A questão do Benjamin Constant foi muito importante, pois teve toda a expectativa de ter um retorno positivo da pesquisa. Então, uma das perguntas feitas foi: “Quando este produto vai estar disponível em sala de aula?”. Mas expliquei que era uma pesquisa em fase inicial.
Sendo servidor, como você avalia sua trajetória aqui dentro da Universidade?
E. S. J – Minha área sempre foi tecnologia. Sempre gostei de atuar na área da eletrônica e da computação. Então, eu vejo minha trajetória aqui dentro justamente como contribuição para esse setor, tentando manter toda a estrutura computacional da Universidade funcionando, mesmo com todas as adversidades – muitas vezes financeiras; afinal, sabemos que essa parte é bem cara. É nosso dever fazer com que a UFRRJ venha a atender melhor os alunos, inclusive os deficientes. Eu acredito que o maior desafio é justamente criar ferramentas que venham a fornecer acesso para todos, assim como manter isso disponível durante a trajetória acadêmica desses alunos.
Texto: Filipe Lima, estagiário de Jornalismo da CCS/UFRRJ.
Foto: Divulgação.
Publicado originalmente no Rural Semanal 15/2018.