A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) promoveu, em fevereiro, dois dias de campo para estudo e prática da técnica de semeadura direta. Os eventos foram realizados em campo experimental da Embrapa Agrobiologia, em Seropédica/RJ, com participação de alunos da UFRRJ. Cada dia contou com, em média, 20 participantes, estudantes em sua maioria. Por estarem iniciando a universidade, a maioria ainda no primeiro período, muitos dos participantes afirmaram não saber o que é a semeadura direta. Agora, consideram trabalhar com ela um dia. “É muito interessante pegar os estudantes que estão entrando, porque eles têm muito contato e ideais”, explicou a pesquisadora Juliana Müller Freire, que está à frente das pesquisas sobre semeadura direta na restauração ambiental.
Segundo ela, a principal vantagem de eventos como esses é possibilitar que os alunos consigam aprender na prática como é o dia a dia de trabalho. Eles conseguem sair das salas de aula e laboratórios para, literalmente, colocar a mão na massa – ou, nesse caso, na terra. Magno Brandão, estudante do oitavo período de Ciências Biológicas na Universidade Estácio de Sá (Unesa), disse que gostou da técnica por ela não ser tão complexa. “É bem simples de colocar em prática. Eu, com certeza, trabalharia com isso”, comentou.
O que é semeadura direta?
Semeadura direta é uma técnica de plantio em que as sementes são colocadas diretamente no solo. Uma das formas de realizar a semeadura direta é pela muvuca — mistura de sementes de espécies de diversos ciclos de vida, como árvores e adubos verdes. Sua eficácia depende das condições do solo e do clima, entre outros fatores. Ela é considerada ecológica e sustentável por causa da diversidade de matéria orgânica que possibilita na região em que é utilizada. Além disso, é mais barata, com fácil transporte e estimula coletas e redes de sementes.
Outras vantagens são: manutenção da qualidade do solo e das espécies, controle de erosão e recuperação de áreas degradadas.
O experimento
Além de simples, a técnica também é mais barata do que o plantio de mudas (mais popular), além de mais ecológica. Ela possibilita a restauração de áreas degradadas a partir do plantio de sementes diversas. Algumas das vantagens são a facilidade de transporte da semente e a rapidez em que o plantio pode ser iniciado — logo após seu recolhimento. Isso sem falar na diversidade de sementes – de vários ciclos sucessionais , e não apenas árvores (ciclo longo).
Antes de chegar na área em que o experimento foi feito, Freire contou aos alunos um pouco mais sobre semeadura direta, veranico e o uso de hidrogel – solução que está sendo testada para os períodos de chuva. Primeiro, ela explicou um pouco sobre as diferentes técnicas para restauração, destacando que tanto o plantio de mudas quanto a semeadura são ideais para lugares que requerem uma intervenção direta – ou seja, onde não basta apenas cercar a região ou impedir a presença de agentes que impossibilitem a natureza de se recuperar por conta própria, como gado, capim, formiga, etc. Além disso, no caso da semeadura, as sementes são jogadas diretamente no solo.
Enquanto a semeadura direta pretende restaurar até mil hectares por ano, o plantio de mudas já alcança mais de 200 mil hectares. “Em comparação com outras técnicas de restauração, essa é relativamente nova e ainda está sofrendo ajustes”, contou a pesquisadora. Por isso, é preciso promover diversos testes em períodos e com tecnologias diferentes para que ela prove sua eficiência e conquiste seu espaço na área de reflorestamento. Por ser mais rápida e barata, caso se popularize, tem potencial para ampliar o trabalho de restauração ambiental.
O uso do hidrogel
Um fator em teste nos dias de campo foi o uso do hidrogel antes e depois do veranico – período de estiagem que ocorre no meio da estação chuvosa, geralmente entre janeiro e março. “Essa é uma preocupação que temos. No caso das mudas, elas já estão grandes, então têm mais resistência ao estresse hídrico. Já a semente é mais sensível à falta de água”, explicou Freire. O hidrogel, também conhecido como chuva sólida, garante que a planta seja hidratada por um período de um a dois meses, o que diminui a necessidade de irrigação e mantém o baixo custo da técnica.
Depois de quatro experimentos bem-sucedidos, testando desde a diferença nas aplicações antes e depois do veranico até o efeito do biossólido e o uso de protetores para as sementes, outra alternativa considerada foi justamente o uso do hidrogel. “Estamos tentando encontrar a melhor janela de plantio para a semeadura direta e trazer tecnologias para tentar reduzir o dano do veranico no plantio”, informou a pesquisadora.
Freire acrescentou ainda que já foi comprovado com experimentos anteriores que o período de estiagem afeta diretamente a plantação. O foco, então, é ver que estágio ele afeta mais e se o hidrogel é uma solução suficiente.
Mais sobre o projeto
Os estudantes que se inscreveram nos dois dias de campo de fevereiro tiveram contato com várias técnicas e conceitos que envolvem as pesquisas de Freire. Esse experimento, por exemplo, é parte de um projeto com várias parcerias, incluindo a Associação Pró-Gestão das Águas da Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul (Agevap) e a instituição Caminhos da Semente. É, ainda, tema de uma monografia já finalizada e de outras duas em processo, tendo como foco a restauração ecológica e o reflorestamento da bacia hidrográfica do Rio Guandu, a partir da semeadura direta.
Até o momento, já foram realizados quatro experimentos, e estão previstos para março mais quatro dias de campo. Em abril, há a previsão de ser realizado um curso sobre o tema.
Por Liliane Bello (Embrapa Agrobiologia) e Yasmin Alves (Estagiária de Jornalismo –Embrapa Agrobiologia)
(Publicado originalmente em https://www.embrapa.br/agrobiologia/busca-de-noticias/-/noticia/78824410/semeadura-direta-e-alternativa-para-restauracao-ambiental)