Saberes que se encontram
Para sensibilizar e conscientizar sobre a importância das plantas, o Jardim Botânico (JB/UFRRJ) valoriza os saberes populares e o diálogo com a comunidade em evento no Dia da Árvore, 21 de setembro. A programação diversificada aborda o cuidado com o meio ambiente e a utilização das plantas em nosso dia a dia, além de reforçar a importância de atividades de extensão que aproximem a Universidade e a população da Baixada Fluminense.
O professor do Departamento de Botânica e coordenador do JB/UFRRJ, Ivo Abraão, destaca essa aproximação como benéfica para todos os envolvidos. “Temos que começar a não apenas pensar, mas agir com o hábito de abrir as nossas portas para o entorno, trazendo atividades que sejam educadoras e de benefícios comuns. Somos um câmpus rural e temos ao nosso acesso as possiblidades de trabalhar muitos dos saberes das populações tradicionais”, pontua.
Além de palestras que trataram de forma direta das árvores em seus diferentes papéis, e as coleções botânicas como ferramentas estratégicas para obtenção e armazenamento de dados de biodiversidade, a programação também contemplou oficinas de confecção de quadros vivos e conhecimentos tradicionais na saúde da mulher, que trouxeram um pouco da importância ornamental e medicinal das plantas.
Valorização da cultura tradicional
Conhecimentos tradicionais sobre plantas medicinais foram compartilhados em uma oficina sobre saúde da mulher. As alunas egressas do curso de Licenciatura em Educação do Campo (LEC/UFRRJ) e integrantes da Rede Fitovida Baixada, Sônia Ferreira Martins e Débora Figueira, foram as responsáveis por transmitir no JB os saberes das comunidades fluminenses que fazem uso de ervas para cura. As oficinas com a Rede Fitovida e outros grupos semelhantes são cada vez mais rotineiras na Universidade.
Para a professora do Departamento de Educação do Campo, Movimentos Sociais e Diversidade (IE/UFRRJ), Marília Campos, a importância dos conhecimentos populares no âmbito universitário é enorme. “Através deles nos reconhecemos e nos ligamos aos nossos ancestrais. Na perspectiva da agroecologia, que é uma das principais sementes do futuro da humanidade, esses conhecimentos são o coração de uma nova forma de estar no mundo e de produzir a vida”, afirma.
A LEC foi institucionalizada como um curso regular da Rural em 2014, com o objetivo de formar docentes para atuar em escolas do campo. A graduação tem como público-alvo assentados da reforma agrária, agricultores familiares, quilombolas, caiçaras, indígenas, militantes de movimentos sociais e comunitários do campo e da cidade.
Docentes e estudantes do curso têm desenvolvido diversas ações político-pedagógicas em espaços escolares e não escolares em Seropédica e na Baixada. “Sou professora de Educação Popular, trabalhamos a partir de Paulo Freire. Portanto, as atividades com os conhecimentos populares dentro e fora da Rural estão sempre em nossa pauta de vida”, afirma Marília Campos.
Os benefícios do resgate dos conhecimentos populares e de suas aplicações pela comunidade são enfatizados por Ivo Abraão: “Esse resgate pode resultar no acesso a recursos e materiais de forma financeiramente viável e com eficiência de uso. Ainda é uma forma prática e eficaz de trabalhar a educação ambiental, pois o conhecimento de uso gera o cuidado e proporciona a disseminação desse conhecimento, através do repasse dos saberes entre as pessoas, atingindo públicos mais distantes”.
Protagonismo feminino
Além do reconhecimento e da valorização da cultura tradicional, atividades como a oficina “Saúde da Mulher: Aprendizagem sobre garrafada e outros conhecimentos tradicionais” também estimulam o protagonismo das mulheres tanto na produção de remédios fitoterápicos, quanto na difusão dos saberes populares sobre ervas e saúde. Historicamente há presença expressiva do público feminino na agricultura familiar, na agroecologia e nos ofícios de benzedeiras, raizeiras e parteiras. A sabedoria destas mulheres tem sido objeto de estudo e investigação científica.
A divulgação de informações preventivas sobre a saúde da mulher também é de grande relevância para a comunidade e para a Universidade. “Vemos que as mulheres, nos diversos espaços populares e comunitários, não conseguem ser atendidas pelo sistema público de saúde e conhecem pouco o próprio corpo. As oficinas visam trazer formas acessíveis para elas cuidarem de sua própria saúde”, pontua a professora Marília Campos.
“Hoje as mulheres compõem a maioria dos discentes da UFRRJ. Acredito ser relevante trazer informações sobre saúde voltadas para um grupo tão expressivo na comunidade acadêmica, ou para as regiões de entorno, já que o município de Seropédica apresenta padrão semelhante na proporção entre o número de homens e mulheres”, destaca o professor Ivo Abraão.
Conservação da biodiversidade
As populações tradicionais são essencialmente conservacionistas. A utilização das plantas medicinais para a produção de remédios valoriza o uso sustentável dos recursos naturais e, por consequência, contribui para a manutenção da biodiversidade. Resultado que está alinhado à missão do JB da UFRRJ em contribuir para a conservação da flora através de ações de educação, pesquisa e lazer.
“Cada um de nós tem um compromisso com o meio ambiente nas suas mais variadas definições. No entanto, os órgãos, instituições e espaços afins com as áreas ambientais apresentam uma responsabilidade muito maior em tratar esse tema. A extensão é um dos pilares do Jardim Botânico, de responsabilidade na prática, e essa pode ser desenvolvida, inclusive, na forma de eventos de cunho educador, social e informativo”, ressalta Ivo Abraão.
O Jardim Botânico da Universidade Rural é aberto ao público em geral, das 8 às 17 horas. Mediante agendamento, acontecem atividades como visitas guiadas e trilhas para grupos escolares e para discentes de outras universidades. Mais informações pelo telefone (21) 3787-4028 ou pelo e-mail jardimbotanico@gmail.com
Conheça a Rede Fitovida
A Rede Fitovida é composta por 108 grupos, presentes em 24 municípios do estado do Rio de Janeiro. São comunidades tradicionais detentoras do conhecimento de uso das plantas medicinais. Reconhecida como Ponto de Cultura, a Casa da Memória da Rede Fitovida na Baixada Fluminense está localizada no município de Belford Roxo e é aberta para visitação do público. Além da produção dos medicamentos fitoterápicos, a Casa também é local de aprendizado para jovens em idade escolar.
A Rede Fitovida participa do Inventário Nacional de Referências Culturais (INRC) com o objetivo de catalogar o patrimônio imaterial dos saberes populares sobre a utilização das ervas e de sua relação com a saúde. O INRC é uma metodologia de pesquisa desenvolvida pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) para produzir conhecimento sobre os domínios da vida social aos quais são atribuídos sentidos e valores e que constituem marcos e referências de identidade.
Endereço: Avenida Estrela Branca 187 – Belford Roxo/RJ.
Telefone: (21) 2761-2643
E-mail: rede.fitovida@yahoo.com.br
Portal: www.redefitovida.org.br